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Freya entrou em casa correndo e se jogou no sofá, ainda molhada da chuva que caía lá fora. Seu vestido encharcado deixou uma poça no estofado, mas ela mal se importou. Tinha apenas quatro anos e o mundo ainda era uma grande aventura para ela.

— Ah! — exclamou Margaret, assustada ao vê-la daquele jeito. Margaret Wilson era a governanta da família desde que Freya nascera. Uma senhora de baixa estatura, magra, com a pele marcada
por rugas profundas. Apesar do tempo, seus olhos ainda mantinham um brilho forte, um tom quente de caramelo que transparecia até atrás dos óculos de armação simples. Ela vestia o uniforme bege habitual e parecia sempre pronta para cuidar de tudo.

— Senhorita Freya, o que está fazendo aqui assim? Vamos direto para o banho! — Disse Margaret, apressada, já pegando Freya nos braços para tirá-la do sofá. — Onde esteve? Fiquei tão preocupada!

—Margaret, eu sei me cuidar! — respondeu Freya, tentando parecer confiante apesar de sua pouca idade.

—Claro que sabe, senhorita, mas eu me preocupo — disse Margaret, enquanto ajustava a temperatura da água no banheiro.

Ela rapidamente tirou as roupas molhadas de Freya e a colocou na banheira cheia de espuma, o cheiro de sabonete suave tomando conta do ambiente. Freya relaxou na água quente, brincando com a espuma e esquecendo momentaneamente o que tinha acontecido.Depois do banho, Margaret secou a menina com cuidado, vestiu-a com seu pijama favorito e a levou para jantar. Assim que Freya terminou, foi colocada na grande cama de casal, que sempre parecia um pouco alta demais para ela.

—Margaret, você não vai acreditar no que aconteceu hoje! — exclamou Freya, enquanto subia com dificuldade na cama.

O quarto de Freya era amplo, com paredes brancas decoradas com detalhes em lilás. Prateleiras cheias de bonecas, livros e jogos cobriam as paredes, e no canto, havia um baú branco com tampa lilás, onde ela guardava seus brinquedos. A cama tinha uma cabeceira de madeira em tom amarronzado, e os lençóis eram de seda branca, macios e aconchegantes. O chão de cerâmica branca brilhava sob a luz suave do abajur, e uma grandejanela com cortinas lilases dava vista para o jardim. Tudo parecia calmo e sereno, exceto pela mente agitada de Freya.

— Hoje, uns meninos mexeram comigo! - continuou Freya, ajeitando-se sob os cobertores. - Eles pegaram minha mochila e tiraram meu lanche. Mas, sabe, apareceu um menino e me ajudou! Ele disse que o nome dele era Jasper. Ele me trouxe até aqui, mas teve que voltar logo. Você acredita que tentaram bater nele?

Margaret ficou lívida. Seus olhos, que antes brilhavam com o carinho habitual, passaram de surpresos a preocupados em segundos, e seu rosto ficou pálido como se o sangue tivesse corrido para os pés.

— Meu Deus! Senhorita, você está bem? — perguntou Margaret, enquanto examinava Freya de cima a baixo,procurando por qualquer sinal de machucado.

—Sim, sim! — disse Freya, rindo da preocupação exagerada de Margaret. — Eu estou bem! Mandei todos eles correrem!

— Meu Deus! Senhorita Freya, você não vai mais voltar sozinha! Que perigo! Que perigo! — resmungou Margaret, visivelmente abalada.

Freya apenas riu enquanto Margaret murmurava algo incompreensível, ainda agitada. Logo depois, a menina se ajeitou na cama, cobrindo-se até o pescoço. Margaret apagou o abajur com um suspiro, deu um beijo carinhoso na testa de Freya e se dirigiu à porta.

—Boa noite, minha pequena —disse, antes de sair silenciosamente do quarto.

Alastor chegou em casa tarde naquela noite, o cansaço estampado em seus olhos. Como empresário, seu dia havia sido longo e cheio de reuniões que se estendiam além do horário comum. Ele passou pela porta da frente com o paletó sobre o braço, afrouxando a gravata e respirando fundo ao sentir o aroma familiar do lar. Margaret estava à sua espera no corredor, como sempre fazia quando ele chegava.

Desejo (I)MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora