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Estava em uma rua de calçada pouco movimentada, indo em direção à escola. A cada passo, o caminho parecia ficar mais denso, e eu, mais pesado. O suéter começava a esquentar contra minha pele, e, à medida que eu andava, sentia o suor escorrendo pela coluna. O sol começava a aparecer devagar, seus raios alaranjados batendo contra meu rosto. Acelerei o passo, podendo já ver um lado do prédio.

Cheguei à escola antes do horário de entrada, como sempre. O pátio já começava a se encher de alunos conversando em pequenos grupos. Eu passei por eles, sem fazer contato visual, mantendo a cabeça baixa. Meu único objetivo era chegar até a sala o mais rápido possível, sentar no meu canto e esperar o sinal tocar.

Ao entrar na sala, escolhi a mesa do fundo, encostada na parede, onde ninguém costumava se sentar. Coloquei a mochila no chão e afundei no assento. O barulho das conversas, risadas e o som de celulares ecoavam ao redor, mas para mim era como um zumbido distante. Eu preferia assim — invisível, inofensivo, quase imperceptível.

As aulas começaram e o professor entrou. Peguei meu caderno, mas minha mente vagava. As palavras escritas no quadro se tornavam borrões, e eu só tentava passar despercebido. Enquanto isso, sussurros vinham de alguns colegas próximos.

— Olha quem tá ali, o mudo — murmurou um deles, de forma que eu ouvi claramente.

Outros riram baixo. A sensação de sufoco começou a subir pelo peito, mas eu mantive a cabeça abaixada, fingindo que não era comigo. Fingir era o que eu fazia de melhor. Ser o mais quieto e isolado me protegia, ou ao menos era o que eu queria acreditar.

No intervalo, preferi ficar na sala, fingindo revisar alguma matéria. No fundo, eu sabia que sair era um convite para algo pior. Já tinha aprendido isso da pior maneira.

Porém, mesmo no refúgio da sala, eles sempre encontravam uma brecha. Três colegas entraram sem aviso, e a atmosfera mudou instantaneamente.

— Ei, tá escondido aí por quê? — disse um deles, batendo na minha mesa. Eu não respondi. Senti o olhar deles queimando nas minhas costas enquanto mexiam nas minhas coisas.

— Deve tá com medo, o coitado — zombou outro, jogando minha mochila para o lado.

Cada palavra, cada risada, cortava como uma faca invisível. Meu corpo congelava, incapaz de reagir, enquanto eles continuavam a me provocar. Não demorou muito para um deles se cansar e, com um empurrão no meu ombro, murmurou algo como "patético" antes de saírem.

Assim que ficaram longe, respirei fundo. O sinal tocou logo depois, anunciando o fim do intervalo. Voltei para minha postura discreta e silenciosa, como se nada tivesse acontecido.

A rotina se repetia todos os dias. Eu, sozinho. Eles, sempre à espreita.

O sinal tocou, trazendo os outros alunos de volta para a sala. Quando eles começaram a se acomodar, fingi estar completamente concentrado nas anotações do caderno, como se as palavras e os números ali fossem mais interessantes do que o ambiente ao redor. Mas era impossível não notar os olhares furtivos e os sorrisos de escárnio lançados na minha direção.

O professor entrou logo em seguida e começou a aula de matemática. Ele falava sobre equações, algo que eu até gostava de aprender, mas as risadinhas que ecoavam atrás de mim dificultavam a concentração. De vez em quando, uma folha de papel amassado caía na minha mesa, lançada pelos colegas que, aparentemente, se divertiam com isso. Eu não olhava para trás. Apertava o lápis entre os dedos e tentava continuar copiando as fórmulas no quadro, tentando me desconectar da realidade.

— Ei, "mudo", sabe resolver essa equação aqui? — sussurrou um dos garotos do fundo, imitando a voz do professor. As risadinhas cresceram, abafadas pelas costas de outros alunos que estavam atentos à aula de verdade.

Desejo (I)MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora