cap 1: Família Beaufort.

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Elizabeth Beaufort sempre viveu cercada pelo luxo e pelo conforto que o nome de sua família lhe trouxe. Crescida em uma mansão imponente, frequentou as melhores escolas e foi apresentada aos círculos mais exclusivos da alta sociedade. No entanto, a vida de Elizabeth, por mais glamourosa que parecesse do lado de fora, era marcada pelo controle absoluto de seu pai, um homem rígido e autoritário. Ele tomava todas as decisões por ela desde suas roupas até suas amizades e estudos com o objetivo de manter intacta a reputação da família Beaufort.

Sua mãe, uma mulher submissa e distante, pouco interferia nas decisões do pai, vivendo também sob a sombra de seu controle. Elizabeth sempre sentiu que sua mãe era uma versão futura do que ela mesma poderia se tornar, e isso a aterrorizava. Ainda que nunca tivesse conhecido a falta de nada material, a ausência de afeto genuíno e a constante vigilância a faziam sentir-se sufocada.

Ela se via presa em um ciclo de festas, eventos de caridade e jantares formais, todos cuidadosamente orquestrados para projetar uma imagem perfeita. Mas no fundo, Elizabeth ansiava por algo mais - uma vida em que pudesse tomar suas próprias decisões e experimentar o mundo fora da bolha que seu pai havia criado.

Conforme os anos passavam, esse desejo de liberdade crescia dentro dela. Elizabeth começou a questionar, em silêncio, o futuro que lhe fora reservado. Ela sabia que seria obrigada a casar-se com alguém de "boa linhagem", para fortalecer ainda mais os laços e o prestígio da família. A ideia de ser apenas uma peça no jogo de poder de seu pai a deixava cada vez mais inquieta.

Entretanto, mesmo com essa inquietude, Elizabeth ainda não sabia como escapar. Ela estava presa entre o luxo de sua vida e o vazio que a acompanhava todos os dias.

(....)

O salão de jantar dos Beaufort sempre fora um reflexo da família que ali habitava - imponente, silencioso e decorado para impressionar. Os lustres de cristal pendiam do teto, lançando luz suave sobre a mesa meticulosamente arrumada, onde três lugares estavam dispostos de forma simétrica. Sentada em frente aos pais, Elizabeth Beaufort mexia no prato sem real interesse na comida. O tilintar dos talheres contra a porcelana era o único som que quebrava o silêncio desconfortável.

⸺ Elizabeth, espero que esteja considerando as propostas que surgiram recentemente ⸺ a voz fria e cortante de seu pai quebrou o pequeno intervalo de paz. ⸺ É importante para a nossa família que você se posicione da maneira correta.⸺

Elizabeth sabia exatamente o que ele queria dizer. "Propostas" era o eufemismo que ele usava para os pretendentes que, cuidadosamente selecionados por seu círculo de influência, deveriam agradá-la. Mas a verdade era que esses homens representavam tudo o que Elizabeth desprezava: herdeiros ricos e entediados, moldados pelas mesmas regras rígidas e sufocantes que a aprisionavam.

Ela largou o garfo, a irritação borbulhando em sua garganta. ⸺ Eu não sou uma peça de xadrez que você pode mover quando bem entender, pai. ⸺

A expressão dele endureceu. ⸺ Não seja infantil, Elizabeth. Você sabe muito bem o que está em jogo aqui. Nossa família depende de decisões calculadas, e eu espero que você faça sua parte. ⸺

O ar ao redor da mesa pareceu congelar. Sua mãe, como sempre, não interveio, limitando-se a observar o prato com uma expressão apática. Elizabeth sentiu o estômago se revirar. Era como se estivesse presa em uma gaiola de ouro, onde suas vontades não tinham valor. Seu pai queria uma filha perfeita, submissa, que seguisse o plano cuidadosamente elaborado para garantir o legado dos Beaufort. Mas Elizabeth, cada vez mais, sentia-se sufocada, afogada pelo peso das expectativas.

⸺ Já chega ⸺ murmurou, empurrando a cadeira para trás, o som das pernas de madeira ecoando no chão de mármore. ⸺Vou para o meu quarto.⸺

Ela viu o olhar desaprovador de seu pai, mas ignorou. Ao sair da sala, suas mãos tremiam de raiva. O eco da conversa ainda zunia em seus ouvidos, as palavras do pai repetindo-se como uma sentença inevitável. Subiu as escadas com passos rápidos, mas em vez de ir para o quarto e se acalmar, como costumava fazer após brigas, algo diferente tomou conta dela.

Ao invés de resignar-se, Elizabeth foi até o closet e puxou a peça mais ousada que tinha: um vestido curto, justo, que nunca teria permissão para usar em qualquer uma das festas formais que frequentava. No espelho, seu reflexo parecia diferente, mais ousado, mais vivo. Sentiu o coração bater acelerado, como se estivesse prestes a cometer o maior ato de desafio de sua vida. E, de certa forma, estava.

Sem pensar muito, pegou suas chaves e desceu as escadas em silêncio. A mansão parecia estranhamente calma, seus pais ainda no jantar, provavelmente comentando sobre sua "rebeldia infantil". Mas desta vez, Elizabeth não voltaria tão cedo para ser repreendida.

Quando entrou no carro, o ar frio da noite entrou junto. Elizabeth dirigiu sem rumo claro, seus pensamentos a mil. Sabia exatamente para onde estava indo, embora nunca tivesse ousado sequer considerar visitar aquele lugar antes. Ouvira falar sobre o clube do outro lado da cidade, longe do conforto e do controle que seu pai impunha. Um lugar onde ninguém a conheceria, onde poderia ser outra pessoa, nem que fosse por uma noite.

E naquela noite, Elizabeth Beaufort finalmente decidiu que seria livre, mesmo que fosse só por algumas horas.

love and danger || Nicholas Alexander ChavezOnde histórias criam vida. Descubra agora