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Capítulo 1: Um Garoto Sujo
O som dos passos ecoava pelas ruas sujas, misturado ao farfalhar das folhas secas sendo sopradas pelo vento. O cheiro de comida velha e de pobreza impregnava o ar, e Sam, de apenas 9 anos, já estava acostumado a isso. Vestido com roupas rasgadas e sujas, ele perambulava pelas esquinas, sempre atento a qualquer moeda que pudesse encontrar no chão. Sua mãe, sempre doente, o esperava em um beco escuro, tossindo entre sussurros de desculpas. Ela nunca dizia a ele diretamente, mas Sam sabia que ela se culpava por tudo. Pela dívida, pela fome, pela infância que ele nunca teve.
Mas Sam não a culpava. Ele culpava o mundo. O ódio crescia a cada dia dentro dele, apertando como um punho em seu peito. Ele não conseguia se lembrar da última vez que se sentiu amado ou seguro. O futuro parecia uma extensão interminável do presente - frio, vazio e cruel.
Ele estava agachado, perto de um beco, quando ouviu vozes vindas de uma carruagem luxuosa. O brilho das jóias de uma mulher e a risada inocente de uma menina chamaram sua atenção. Ele observou de longe, tentando não ser notado, mas foi em vão. A menina o viu primeiro.
- Olha, papai, - disse a voz suave de uma criança. - Um garoto sujo. Vamos ajudar ele?
Sam não conseguiu desviar o olhar a tempo. Aquela menina, com olhos curiosos e cheios de bondade, o encarava com uma mistura de piedade e ingenuidade que o irritava profundamente. Eu não preciso da sua ajuda, ele pensou, mas as palavras ficaram presas na garganta. Ele era apenas um menino faminto, e eles, claramente, estavam em uma posição muito acima da dele.
O pai da menina, um homem alto e imponente, se aproximou. Ele tinha uma presença que irradiava poder, e Sam sentiu um arrepio na espinha ao perceber que aquele era o tipo de homem que controlava o destino de muitos. O homem o olhou de cima a baixo, sem esconder o desprezo em seus olhos.
- Por que deveríamos ajudar, Anna? - perguntou o pai, sem esconder o sarcasmo. - Garotos sujos como ele devem aprender a se virar.
Mas Anna insistiu, e, contra a vontade do pai, entregou a Sam uma moeda dourada.
- Tome. Isso vai ajudar você e sua mãe, - disse ela, sorrindo.
Sam agarrou a moeda, mas não retribuiu o sorriso. A humilhação queimava em seu peito. Eu nunca vou precisar da sua caridade de novo, jurou a si mesmo enquanto corria de volta para a mãe, deixando para trás a imagem daquela família perfeita.
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Dez anos depois...
O tempo havia passado, mas as feridas do passado de Sam permaneciam abertas. Ele havia crescido em meio à lama, ao ódio e à perda. Agora, ele estava de volta, mas não como um garoto sujo. Ele havia mudado. Não havia mais inocência em seus olhos, apenas uma frieza calculada e uma ambição sem limites.
Na mansão de Ricardo - o homem que um dia o desprezou -, Sam agora era um de seus capangas de confiança. Sua lealdade não era ao homem, mas ao poder que ele representava. O dinheiro, o status, a influência... Era isso que ele desejava, e nada mais. Ele havia deixado para trás o garoto faminto, mas o vazio permanecia.
Sam caminhava pelos corredores da mansão quando seus olhos cruzaram com os de Anna. Ela também havia mudado. A menina doce e inocente agora era uma mulher de postura altiva, com os mesmos olhos curiosos, mas agora havia algo mais neles - uma chama de algo que Sam não conseguia definir.
- Então você é o garoto sujo, - disse Anna, com um meio sorriso, sua voz carregando uma mistura de surpresa e algo mais. O comentário foi como uma lâmina fria cortando o passado e o presente ao mesmo tempo.
Sam parou, a olhando por um momento, mas sua expressão não mudou. Ele se manteve frio, inalcançável.
- As coisas mudam, - respondeu ele, com a voz baixa e controlada.
O silêncio entre eles era denso, carregado com o peso de tudo que não foi dito. Anna parecia querer dizer mais, como se quisesse entender o homem que Sam havia se tornado, mas ele não estava disposto a deixar ninguém ver além da superfície. Não havia espaço para sentimentos. Não com ela, e certamente não com alguém tão ligada a Ricardo.
- Você trabalha para meu pai agora, - ela disse, mais como uma constatação do que uma pergunta.
Sam apenas assentiu, seus olhos fixos nos dela, mas sem revelar nada. A verdade era que ele não trabalhava para Ricardo - ele trabalhava para si mesmo, usando Ricardo como uma ferramenta para alcançar seu verdadeiro objetivo: poder. Mas ela não precisava saber disso.
- Cuidado, Sam, - Anna sussurrou, dando um passo para mais perto, como se quisesse ultrapassar as barreiras que ele havia construído ao longo dos anos. - Meu pai... ele não confia em ninguém completamente.
- Eu sei, - ele respondeu. Sua voz era fria, mas havia um leve tremor em suas palavras, algo que nem ele conseguia controlar.
Anna olhou para ele por mais um segundo antes de se afastar, deixando o corredor em silêncio. Sam permaneceu ali, imóvel, sentindo o peso do passado e do presente se entrelaçando, puxando-o em direções opostas. Ele havia sobrevivido ao inferno, mas agora se encontrava em uma nova prisão - uma onde o poder era a única saída, mas onde a solidão e a ganância cresciam como sombras ao seu redor.
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Naquela mesma noite, Ricardo o convocou para uma missão. A voz dele era tão fria quanto sempre, carregada com a autoridade de quem estava acostumado a dar ordens sem ser questionado.
- Sam, tenho algo para você. - Ricardo girava um copo de uísque nas mãos, sem levantar os olhos. - Quero que lide com um problema para mim. Preciso que você elimine um líder de uma empresa rival. Nada complicado para alguém como você.
O coração de Sam não se acelerou. A tarefa era comum, mas o peso que ele carregava sempre voltava nesses momentos - um lembrete constante de quem ele era e do que se tornara.
- Considero feito, - respondeu ele, sem hesitar.
Antes de sair da sala, cruzou novamente com Anna nos corredores. Ela o olhou de cima a baixo, como se estivesse tentando desvendar o homem que ele havia se tornado. Havia um brilho de algo nos olhos dela, talvez curiosidade, talvez algo mais profundo.
- Cuidado, Sam. Meu pai não perdoa erros. - Ela repetiu, mas dessa vez a preocupação parecia mais real.
- Não se preocupe comigo, - Sam respondeu, a frieza voltando a cobrir qualquer vestígio de emoção.
Quando ela se afastou, ele sentiu algo estranho crescer dentro dele, mas rapidamente reprimiu. O garoto sujo estava morto. Agora, tudo o que importava era o poder.
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amor, ou ganância?
RomanceSam, marcado por um passado de pobreza e dor, busca poder e riqueza como capanga de um poderoso chefão da máfia. Ao reencontrar Anna, filha do chefão e seu amor de infância, ele se vê dividido entre o desejo por ela e sua crescente ambição. No meio...