Capítulo 3
A noite estava fria, com uma névoa densa cobrindo as ruas. Sam e Laura, em silêncio, caminhavam lado a lado em direção ao alvo. A missão era clara: eliminar um rival de Ricardo. Mas, diferente das outras vezes, o peso daquela noite estava mais forte em ambos. Havia uma tensão no ar, e não era apenas a ansiedade de cumprir o trabalho.
Laura, com seu humor ácido de sempre, tentava quebrar o gelo: - Será que dessa vez a gente pode evitar os clichês de filme de máfia? Tipo, nada de explosão dramática na saída.
Sam, com o rosto sério, apenas deu um leve sorriso, sem responder. A cabeça dele estava longe. Lembranças amargas do passado que ele sempre evitava surgiam à tona, como se o silêncio da noite o forçasse a confrontá-las.
Eles chegaram ao prédio onde o alvo estava, se posicionando em um beco para observar. Enquanto esperavam o momento certo para agir, Laura quebrou o silêncio novamente, mas dessa vez sem o tom brincalhão de costume.
- Eu sei que você carrega muita coisa aí dentro - disse ela, olhando para Sam de soslaio. - Todo mundo que trabalha pra Ricardo tem cicatrizes, mas as suas... são mais profundas, né?
Sam olhou para ela, seus olhos duros e frios. Ele não gostava de falar sobre si, sobre o que sentia. Mas havia algo em Laura, uma dor que ele reconhecia.
Laura respirou fundo, sabendo que aquele seria o momento de se abrir. Ela começou a contar, quase num sussurro: - Quando eu era pequena... meu pai era um monstro. Me batia até sangrar. E quando não tinha mais o que fazer comigo, ele me deixava trancada em um quarto escuro, sem nada, por dias. Era um inferno. Eu... passei a vida achando que só sobreviver era o bastante, mas... agora eu acho que nunca saí daquele quarto.
O silêncio entre eles ficou pesado, o som distante da cidade ecoando ao redor.
Sam, sem desviar o olhar da rua à frente, murmurou: - Quando eu era criança... minha mãe e eu não tínhamos nada. Ela fazia o que podia, mas... não dava. Teve uma época que eu... roubava restos de comida que um homem deixava pra os gatos de rua. Ele sempre colocava um prato de sobras perto do portão... eu esperava ele sair e pegava tudo. A gente comia o que sobrava dos gatos, entende? Era isso ou morrer de fome.
Laura olhou para ele, surpresa. Ela nunca imaginou que Sam, sempre tão frio e implacável, carregava esse tipo de dor. Era a primeira vez que o via vulnerável, e isso o humanizava de uma forma dolorosa.
- Não sei por que estou te contando isso - Sam balançou a cabeça, tentando se recompor. - Mas é assim que as coisas são. A gente faz o que tem que fazer pra sobreviver. Não há espaço pra fraqueza.
Laura, com os olhos cheios de lágrimas, segurou o braço de Sam. - Talvez não seja fraqueza falar sobre isso, Sam. Talvez seja a única coisa que nos mantém... vivos.
A tensão entre eles ficou no ar, mas antes que pudessem dizer mais, o alvo apareceu. A missão ainda precisava ser cumprida, mas algo entre eles havia mudado naquela noite. Sam e Laura agora sabiam que, por trás das máscaras que vestiam, ambos eram apenas sobreviventes de um mundo cruel, unidos pelas cicatrizes que carregavam.
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amor, ou ganância?
RomanceSam, marcado por um passado de pobreza e dor, busca poder e riqueza como capanga de um poderoso chefão da máfia. Ao reencontrar Anna, filha do chefão e seu amor de infância, ele se vê dividido entre o desejo por ela e sua crescente ambição. No meio...