𝔖𝔢𝔬𝔫𝔤𝔥𝔴𝔞

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  Considerando-se que tempo vivido transbordava, e não presenciado provavelmente também, o vampiro pouco se importava, talvez a exaustão de viver por tantos séculos finalmente começava a aparecer. Seu corpo continuava o mesmo, magro e alto, e agora os cabelos negros eram menores que seus dedos da mão, recebeu elogios de San e alguns outros, mas Yeosang pareceu perceber seu descontentamento.

— A mim não há o que esconder, Kwon. - dizia lento observando cada ponto seu. - Eles podem não ter coragem o suficiente para lhe fazer, mas eu sim. - olhou para o loiro e sorriu cansado.

— Acredite, nenhum deles é o problema. - balançou a cabeça.

— Ao mesmo tempo que são. - respondeu e ambos se encararam em silêncio.

 Kwon pensava que não poderia pedir nada a mais, se os deuses fossem bons em fazê-lo ser assim, ele seria. Não passava por frios nem calores, e justo naquele momento começou a sentir.

 Seonghwa viu com seus próprios olhos erguerem as grandes muralhas de Jarros, presenciou as guerras do Sul e do Norte, enquanto Yunho nascia em algum lugar imundo ele percorria por toda montanha, e viveu entre os humanos como nunca.

 Não imaginou que iria tão longe, e também não pensou em viver muito. O vento frio emanando no topo do rochoso, fazia ele estupidamente encolher-se, não era aquilo que lhe atormentava. Pouco se via dali de cima, a nuvem branca adorava esconder sua paisagem, a cada minuto que passava na montanha sentia o ar pesado prensando seu corpo frio para baixo.

 Quanto tempo faz que não me relaciono com alguém ou deito-me junto a uma prostituta?

 Seonghwa tinha necessidades ainda que sejam não tão necessárias. Incrivelmente ele sentirá seu coração bater e até calafrios de ansiedade percorrerem por sua pele, antigas sensações que jamais voltariam. Da vez que vira a cena, San olhava docemente para o jeito amável de Wooyoung, o garoto doente não imaginava nem metade da intensidade que o Kwon sentiu.

 Por algum tempo ele conseguia sentir os sentimentos intensos do vampiro, e desejou que também pudesse transbordar. Voltando a descer as rochas mais lúcido, seus olhos se tornaram amarelos, pensou ter visto alguém e comprovando seus pensamentos, a silhueta mediana sai detrás do cascalho enorme, era um rapaz mais pálido que o próprio Kwon, as orbes tão vermelhas como sangue, aliás os Ziunnpos alimentavam-se de humanos.

 O vampiro pareceu não gostar da companhia, observou ofendido seus dentes se mostrarem, estava claro que ele queria disputar pelo território, mas Seonghwa não se dispunha para tal ato, balançou negativamente a cabeça, a sua esquerda as pedras acabavam e daria num penhasco, sem outra alternativa correu e pulou.

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Transbordar. Uma palavra que sempre tirava um sopro falso de si, algo que enchia e vazava por tempos, e não desconfiou quando sentiu aquilo tão perto.

 No fim das colinas, onde o sol se punha e as aves gralhavam no céu, estava o causador de tantas dores de cabeça. Wooyoung andava animado pelo campo, e ao seu lado pouco distante San vigiava-o. Seonghwa não gostava de repetir coisas, mas procurava ficar longe de seus encontros pois era extremamente sensível aos sentimentos dos outros. Mesmo numa distância razoável, ele conseguia sentir a transparência de tudo aquilo.

 Assim que virou as costas pronto para partir, novamente sentiu alguém estranho próximo, do outro lado um Lobo cinza apareceu, Kwon sabia que iria atacá-los e o fino desespero gritou mais alto. Nos últimos acontecimentos, seus nomes estavam manchados, mas eram tempos de guerra e pré-inverno.

 O Lobo correu atiçado para cima de Wooyoung, Seonghwa agiu mais rápido jogando-se contra o animal, logo quando olhou ao humano verificando se estava bem, San lhe encarou assustado, cuide dele. Sua visão ficou tão turva que nem percebeu tantos Lobos a sua volta, observou borrado a silhueta vultosa do vampiro sumir, sorriu satisfeito.

 Quando se levantou um dos mordedores prendeu sua perna, caindo inutilmente ao chão e agora não sabia o que pensar. O Lobo cinza aproveitou-se de sua fragilidade e subiu contra seu peito, pode ver claramente os dentes babentos e brilhosos, mesmo prestes a morrer não teve medo, talvez estivesse aliviado seus meninos estavam protegidos.

 Seu grito saiu agudo e triste, ao momento em que o Lobo cinza cravou os dentes no seu pescoço, ele tinha certeza de que seu dia chegou, uma fina lágrima cristalina escorreu. Yeosang.. Yunho..

 Seonghwa estaria delirando pela dor, ou abatido no chão via os dois vampiros lutarem contra os Lobos?

 Quando a mão fina de Park tocou em seu peito, Kwon olhou borrado a estátua do mais novo, enquanto um vulto passava entre eles como uma dança.

— Seonghwa aguente firme! - a voz embargada e assustada do rapaz tocou em si. - Droga Yeosang, ele está quebrando! No pescoço, no pescoço! - ele gritava para o loiro, em resposta ouvia granidos e socos no ar, seu corpo ficou frio por dentro e perdeu a noção do tempo.

 Sua visão ficava mais turva e borrada, mas conseguia ver ambos ajoelhados em sua cabeça. O rosto de Yunho brilhava forte pelas lágrimas, Amyeon olhou para ele negativo.

— Tem que haver um jeito de levarmos ele para casa! - dizia embolado e desesperado.

— Se nós... Ele assim.... Não vai aguentar... - as vozes se cortavam e por muitos anos Seonghwa teve vontade de dormir.

— Que porcaria... Atrás de alguém... Ajudar.. Ele não vai... Aqui!

— Não garanto nada... Seja rápido... Caso for.

 O véu negro caia e subia dificultando sua visão, olhou em volta e tudo que conseguiu ver era um grande vazio, andou calmo tentando encontrar uma saída, parou abruptamente vendo o abismo em sua frente e a neblina sumir abaixo.

 As mãos brancas agitadas deram calafrios no vampiro, talvez o fundo não fosse tão intenso, olhou para trás assustado encontrando uma enorme labareda de fogo, ela crescia volumosa e ardente, Seonghwa se viu no próprio pesadelo pálido e impressionado. Seu corpo pulou no instante que as chamas atingiram-lhe, e a pele fria passou a se derreter.

 Gritou e abriu os olhos, seus braços estavam atados a cama e Yeosang segurava um ferro completamente quente, podia sentir o bafo do fogo, ele se assustou consigo, a barra quente prensava em seu pescoço e ele não conseguia se mover, a dor era insuportável.

 Pensou que desmaiaria, respirou falso quando Amyeon tirou o fogo de perto, e sem avisar atiçou no outro buraco de sua pele, Seonghwa berrou tão alto que usou da sua força para desatar os nós em suas mãos, a barra raspou em seu rosto e se jogou ao chão. Levantou o rosto assustado e dolorido, agora percebia a mordida feita também na perna, Yunho correu até si e murmurava preocupado.

— Disse que ele acordaria. - o loiro deixou de lado a barra de ferro e ajudou Kwon a se deitar novamente.

— Pelo menos as feridas estão cobertas. - respondeu Yunho cobrindo seu corpo.

Então lembrou-se de tudo.

— San? Onde.. Ele está bem?? - segurou nas vestes do Park.

— Sim! Wooyoung está a salvo em Sitka, sem nenhum ferimento. - sorriu tentando confortá-lo. Ótimo não foi em vão. Antes que pudesse continuar o ruivo entrou no quarto.

— Hyung está bem? - assentiu observando o vampiro - Não precisava ter feito aquilo! Eu conseguiria correr com Wooyoung.

Seonghwa balançou a cabeça silencioso, mas eu prezo por vocês.

— Yunho encontrou Kai e Yeonjun na floresta, eles nos ajudaram a trazê-lo em segurança. - comentou Yeosang. - Descanse por agora Kwon.

 O loiro foi o primeiro a deixar o quarto, San tocou em seu ombro e acariciou os pequenos fios de cabelos, Yunho olhava tristonho para si. Eu sei querido.. eu sinto.

— Sabe que poderíamos ter ajudado? - sua voz soou baixa, concordou.

— Não temos o controle de tudo Yunho. - sorriu fechado. - Agora vá descansar também, você está horrível. - ele sorriu ainda triste, acariciou sua mão e saiu.

 Mas podemos acabar com a dor. 

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⏰ Última atualização: Oct 20 ⏰

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Império Imparcial; YUNGI *REESCREVENDO*Onde histórias criam vida. Descubra agora