depois daquela conversa, comecei a me questionar mais e mais se era isso o que eu queria. me isolei ao extremo, só tinha contato com Choso. minha mãe tentava conversar comigo, mas para ser sincera, eu não queria conversar com ela e nem com meu pai. os dias foram passando e eu parei de descer para comer. eu tinha conseguido passar de ano e agora a vida adulta estava batendo na minha porta.
certa noite, enquanto eu dormia, senti alguém tocar em meu rosto. abri os olhos lentamente e vi uma silhueta feminina: era minha mãe. esfreguei meus olhos suavemente e ela se afastou um pouco. permaneci em silêncio, confusa. "o que ela quer? o que aconteceu? eu fiz alguma coisa?" minha mente ficou cheia de dúvidas e me senti aliviada quando ela quebrou o silêncio. a voz dela era calma, mas carregava uma tristeza tão grande que me fez sentir uma dor no peito. nunca vi minha mãe tão triste assim.
─ por que você está se isolando, minha filha?
respirei fundo, sentindo um nó na garganta. eu não sabia a resposta para a pergunta dela, na verdade, eu só não queria envolvê-la nisso. depois de um tempo, respondi a ela num tom baixo, tentando parecer firme, mas sentia uma dor no peito a cada palavra que saía da minha boca.
─ eu não sei, a gente pode conversar amanhã? estou com sono. ─ falei, sonolenta e com dor.
naquele momento, senti uma dor maior ainda no peito. minha garganta estava queimando e meus olhos ardendo. minha mãe estava chorando; era tudo culpa minha. me joguei em cima dela, derrubando-a em cima da cama. choramos juntas e limpamos as lágrimas uma da outra. o som do nosso choro ecoava pelo quarto, estávamos soluçando enquanto apertávamos mais o abraço. minha mãe dormiu comigo naquela noite; me senti uma criança. fiquei grudada nela a noite inteira, sentindo o cheiro dela.
ao amanhecer, acordei primeiro que ela. meu pai estava olhando a gente dormir na porta do meu quarto. ele tinha um semblante tão triste. aquela dor no meu peito era presente mais uma vez. forcei um sorriso e ele fez o mesmo. logo depois, ele desceu as escadas e eu resolvi ir atrás. eu queria conversar com ele. ele estava sentado no sofá, segurando um jornal pronto para ler. me aproximei lentamente e me sentei ao lado dele, encostando minha cabeça no ombro dele. ele deixou o jornal de lado e respirou fundo. logo depois, quebrou o silêncio.
─ o que está acontecendo, minha filha? você não é assim. por que de repente está evitando eu e sua mãe? você sabe o quanto isso nos machuca? você é nossa única filha, não queremos seu mal e nem te perder. ─ ele falou, num tom baixo. a voz dele carregava tristeza e preocupação.
as palavras dele foram como facadas em meu coração, era como se eu estivesse bebendo cloro. minha garganta estava ardendo, uma dor insuportável, eu não tinha forças para falar. meu rosto estava inchando por ter chorado durante a madrugada e senti lágrimas quentes caírem. meu pai me olhou ainda mais preocupado e limpou-as, me dando um beijinho na testa.
─ eu sou seu pai, pode contar comigo! eu estou aqui para te proteger e cuidar de você. você é minha vida, eu te amo. ─ ele falou, olhando nos meus olhos, sua voz triste e preocupada.
senti uma dor no estômago, parecia que eu tinha levado um chute. eu desabei mais uma vez, chorei nos braços dele. ele acariciava meu cabelo, falando que estava tudo bem. ele estava tentando parecer forte, mas ele não estava bem também.
─ eu te amo, eu amo a mamãe, eu amo vocês dois. vocês são tudo para mim. ─ eu falei, enquanto chorava igual uma criança, minha voz saiu trêmula e falha.
ele apertou o abraço. eu me sentia uma criança de novo, era tão bom saber que eu não estava sozinha e tinha meus pais, mas eu não poderia falar para eles. isso me machucava ainda mais. minha mãe desceu as escadas e viu a situação. ela correu na nossa direção e nós três ficamos abraçados por um longo tempo. eu precisava muito daquilo. eu me senti mais leve depois daquele dia, mas eu ainda estava afastada dos meus pais. uma vez ou outra eu descia para comer com eles, mas não era como antes; eu ainda estava distante.
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𝕭𝖆𝖓𝖍𝖔 𝕯𝖊 𝕾𝖆𝖓𝖌𝖚𝖊 ─ 𝕮𝖍𝖔𝖘𝖔 𝕶𝖆𝖒𝖔
Vampirera seu terceiro ano no ensino médio, e o dia 19 de junho de 2023 ficou gravado na sua memória. naquela manhã, um novo aluno entrou na sala com um olhar enigmático que parecia captar cada detalhe ao seu redor. desde então, eventos estranhos começara...