Eu odeio minha vida

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- Pai? - Eu murmurei, surpresa ao vê-lo.

- Onde você estava? - Ele perguntou, com a voz baixa, mas cheia de contenção. Mesmo atrás do jornal, eu sabia que ele estava furioso. Ele abaixou lentamente o jornal, sem tirar os olhos de mim. - Responda, Wanda Maximoff.

De repente, ele atirou o jornal para o lado e se levantou. Ágnes riu discretamente.

- Você não vai me dizer onde esteve? - A raiva em seu olhar era quase palpável, me atravessando.

- Eu... - Tentei improvisar. - Eu estava na casa da Kate.

A verdade? Nem pensar. Como é que eu poderia explicar que passei a noite com Natasha, uma garota complicada e envolvida com coisas que meu pai nem imaginaria? Isso jamais seria uma opção.

- Ah, na casa da Kate, é? - Ele repetiu, desconfiado.

- Ela tá mentindo, amor. - Ágnes se intrometeu.

- Fique quieta, Ágnes. - Falei, tentando manter o controle.

- Wanda, controle-se! - Meu pai me cortou, com severidade. - Às vezes, eu me pergunto onde foi que eu errei na sua criação.

Essas palavras me atingiram em cheio, doendo mais do que qualquer grito.

- Ligue para Kate. - Ele ordenou. - Vamos ver se é verdade.

Prendi a respiração. Eu não falava com ela há dias e não fazia ideia se ela me ajudaria. Peguei o celular com as mãos tremendo e fiz a ligação. O telefone chamou várias vezes, mas ninguém atendeu.

- E aí? - Ele perguntou, impaciente.

- Você ouviu ela atender? - Respondi, no automático, sem pensar.

Liguei mais uma vez, e nada. E de novo. O silêncio do outro lado da linha parecia mais alto que qualquer explicação que eu pudesse inventar.

- Pai, ela deve estar dormindo. - Disse, tentando soar calma. - Por favor, dá um tempo.

- Liga de novo. - Ágnes provocou, satisfeita com meu desespero.

- Fique fora disso! - Falei, exausta.

- Chega, Wanda! - Meu pai suspirou. - Eu vou dormir. Mas amanhã... Nós continuamos essa conversa.

A ameaça implícita pairou no ar, fria como a noite que caía.

Fui para o meu quarto, deitei na cama e deixei os pensamentos se embolarem. Não demorou para o cansaço me vencer.

▪︎¤▪︎

No dia seguinte, acordei com um peso no peito. Outro dia que eu não queria enfrentar. O turno integral na escola só piorava as coisas. Eu me arrastei para o banheiro, fiz minha higiene e peguei minhas coisas largadas pela casa na noite anterior. Peguei uma maçã na cozinha e me preparei para sair.

Foi só ao passar pela garagem que lembrei, meu carro estava com Natasha. Ótimo. Mais uma coisa que meu pai com certeza notaria.

Agora, como eu ia chegar na escola? Ônibus não era opção - se fosse, só chegaria no dia da minha formatura.

Sem escolha, comecei a andar pela rua, torcendo para pensar em uma solução. E, como se o destino se divertisse com a minha desgraça, uma buzina soou atrás de mim.

Natasha. No carro dela, claro.

- Achou mesmo que ia pra escola a pé? - Ela sorriu, com o ar sarcástico de sempre.

- Se você não tivesse arranhado meu carro, eu não estaria nessa situação. - Respondi com amargura.

- Ah, Wandinha... - Ela adorava me irritar com aquele apelido. - Se tivesse sido mais gentil comigo, eu até te dava uma carona. Mas... - Ela fez uma pausa teatral, coçando o queixo. - Por que não pede pro Victor? Ah, é... Ele está morto.

Possessive ࿐ WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora