Epílogo

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A cidade nunca dormia. Luzes de neon pulsavam pelas ruas molhadas pela chuva, refletindo nas poças como uma trilha brilhante de sonhos que escorriam pelo asfalto. Lizzy Grant caminhava sozinha, seus saltos ecoando no vazio. A fumaça do cigarro pairava ao redor dela, enquanto o vento da madrugada carregava um silêncio desconfortável.
Ela deveria estar em casa. Deveria ter deixado essa parte da cidade de Estocolmo para trás há muito tempo. Mas algo naquela noite a puxava de volta, algo que ela ainda não estava pronta para admitir.
Encostada na parede de um beco mal iluminado, Lizzy acendeu mais um cigarro e olhou para o céu encoberto pelas nuvens. O cheiro de gasolina e fumaça misturava-se ao som distante de motores, um lembrete de que ele estava perto. E ela sabia que ele viria.

Damien Rutherford sempre aparecia.

Foi então que ela ouviu. O ronco familiar de um motor acelerando, cortando o silêncio da madrugada. Lizzy não se mexeu, mas seu coração bateu mais forte. O carro preto deslizou até o meio da rua, os faróis varrendo as sombras ao redor dela. O motor parou, e por um momento, tudo ficou imóvel, como se o tempo tivesse sido suspenso.

A porta do carro se abriu, e Damien saiu, seus passos firmes, seu olhar intenso, como se ele fosse parte daquela cidade que não a deixava escapar. Ele estava vestido todo de preto, como sempre, o casaco de couro pesado se moldando ao seu corpo, e aquele ar de alguém que sempre tinha controle da situação.

Ele parou a poucos metros dela, o rosto levemente iluminado pela luz fraca de uma placa de neon piscante. "Você não deveria estar aqui, Lizzy."

Ela soltou a fumaça devagar, os olhos cravados nele. "E você deveria?"

Damien deu um meio sorriso, o tipo de sorriso que sempre conseguia desarmá-la, mesmo depois de tudo. "Você sabe que eu nunca deixo as coisas inacabadas."

Lizzy riu, mas era uma risada amarga. "É isso que você chama do que aconteceu entre nós? Inacabado?"

Ele se aproximou mais, até que o calor da presença dele quase tocava a pele fria de Lizzy. "Você sabe que nunca acabou, Lizzy. Nós dois sabemos disso."

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior, tentando controlar a onda de lembranças que vinham à tona. Os beijos roubados, as promessas sussurradas ao pé do ouvido, as noites em que ele a fez se sentir como se o mundo inteiro fosse deles. Mas também lembrava das noites em que ele sumia, sem explicações, sem despedidas.

"Você sempre volta, Damien. Mas nunca fica," ela disse, a voz cheia de mágoa.

Ele abaixou a cabeça, suspirando. "Eu sei. E me arrependo de cada vez que fui embora."

"Então por que voltou dessa vez?" ela perguntou, sua voz quase um sussurro. "O que te trouxe de volta?"

Damien olhou para ela, seus olhos mais sérios do que nunca. "Eu voltei por você, Lizzy. Porque eu percebi que o que deixei aqui... é a única coisa que realmente importa."

Lizzy sentiu um aperto no peito. As palavras dele a atingiram como uma verdade que ela tentou ignorar por tanto tempo. Ela queria odiá-lo, queria gritar com ele, dizer que ele não tinha o direito de aparecer agora, depois de tudo. Mas a verdade era que, por mais que tentasse, ela nunca conseguiu esquecê-lo.

Ela apagou o cigarro com o salto, o som do chiado sendo a única coisa que quebrava o silêncio entre eles. "E o que faz você achar que eu ainda estou aqui esperando?"

Damien deu um passo à frente, sua mão quase tocando o rosto dela, mas parou no último segundo, respeitando a distância que ela mantinha entre eles. "Porque eu conheço você, Lizzy. Eu sei que, assim como eu, você também sente que algo ainda não acabou."

Lizzy sentiu o coração bater mais forte, as emoções misturadas dentro dela. Ela odiava o poder que ele tinha sobre ela, a forma como ele conseguia fazer tudo parecer simples com apenas algumas palavras. Mas, ao mesmo tempo, não podia negar que ele estava certo. Algo entre eles nunca havia sido resolvido. Algo ainda queimava, mesmo que fosse só uma chama fraca.

"E o que você quer que eu faça com isso?" ela perguntou, a voz vacilando entre a raiva e a dúvida.

"Me dá uma chance de fazer as coisas direito", ele respondeu. "Uma chance de provar que eu sou diferente agora."

Lizzy olhou para ele, tentando encontrar alguma mentira nos olhos dele, algum traço do Damien de antes que sempre fugia. Mas tudo o que encontrou foi sinceridade, uma dor que refletia a dela.

"Eu não sei se posso confiar em você de novo," ela confessou.

Damien assentiu, como se já esperasse essa resposta. "Eu não espero que você confie em mim agora. Só espero que você me dê a oportunidade de reconquistar isso."

O silêncio pairou entre eles por mais alguns segundos, pesado e cheio de incertezas. Lizzy respirou fundo, sentindo o ar frio da noite entrar em seus pulmões, limpando sua mente. Por mais que ela tentasse se convencer do contrário, ela sabia que queria dar a ele essa chance. Sabia que, no fundo, ela nunca tinha deixado de querer.

"Uma chance, Damien," ela disse finalmente. "Só uma."

Damien sorriu, um sorriso genuíno, e estendeu a mão. "É tudo o que eu preciso."

Lizzy olhou para a mão dele por um momento antes de, lentamente, segurá-la. O toque era familiar, reconfortante. Talvez fosse loucura, talvez fosse apenas uma repetição de um ciclo que os destruíra tantas vezes. Mas, naquele momento, com as luzes de neon refletindo ao redor deles, parecia certo.

E assim, de mãos dadas, eles se afastaram da escuridão do beco, prontos para descobrir se essa chance seria a última.

A última chance para amarOnde histórias criam vida. Descubra agora