Tudo começou com um sonho que eu tinha todas as noites. Era sempre o mesmo sonho, repetindo-se como uma fita velha arranhada, rodando em um ciclo eterno. Eu estava correndo desesperado, os pés martelando o chão com o ritmo frenético do meu coração. Não sabia para onde estava indo ou por que a urgência queimava dentro de mim, mas sentia, com cada fibra do meu ser, que precisava chegar lá – onde quer que “lá” fosse.
Cada detalhe do sonho era vívido, como se eu estivesse acordado: o som do vento cortando o silêncio ao meu redor, o cheiro de terra e asfalto, o suor escorrendo pelas minhas têmporas. Mas sempre havia uma barreira invisível, um ponto em que tudo se desfazia. Antes de alcançar o destino, eu acordava. E todas as vezes, eu me via acordando com o mesmo sabor amargo na boca, uma sensação de incompletude que se prolongava pelo dia todo.
Uma coisa, no entanto, sempre se repetia. Um detalhe que se destacava. Havia um relógio no meu pulso – um relógio de pulso simples, com um visor digital que mostrava uma contagem regressiva. Onze minutos. Sempre onze minutos. Não importava o quanto eu corresse, não importava quantas voltas eu desse, o tempo se esgotava sem misericórdia e eu acordava, atordoado, com a cabeça latejando, sem entender o que aquilo significava.
Onze meses se passaram assim. Cada noite, uma nova corrida. Cada manhã, uma nova frustração. Eu havia parado de tentar interpretar o sonho ou entender por que estava preso nele. Era como se eu estivesse apenas aceitando a rotina de fracassar. Mas então, algo mudou.
Nas últimas semanas, o sonho começou a tomar uma nova forma, como se a película finalmente estivesse se revelando completa, mostrando algo além da repetição interminável. Ainda havia os onze minutos, ainda havia a corrida, mas agora o cenário parecia mais nítido, as sombras menos espessas. Eu não estava apenas correndo por ruas sem nome e paisagens nebulosas – eu começava a ver detalhes, fragmentos de um lugar, como se o mundo ao meu redor estivesse se recompondo, peça por peça.
Foi quando ela apareceu pela primeira vez.
Logo no início do sonho, antes mesmo de sentir a adrenalina correr pelo meu sangue, eu a vi. Uma mulher loira, com longos cabelos desordenados que brilhavam como ouro sob a luz do crepúsculo. Ela estava sentada sobre um carro capotado, a lataria amassada formando ângulos impossíveis, como se tivesse caído do céu e se espatifado ali. O para-brisa estava estilhaçado, e fragmentos de vidro refletiam a luz em todas as direções, como estrelas caídas no chão.
Eu parei, o que nunca havia feito antes, meus pulmões queimando com o esforço de uma corrida que não havia começado. Ela olhou para mim, os olhos azuis amplos e trêmulos, com uma expressão de dor e uma urgência que ecoava a minha própria. Por um momento, achei que ela fosse uma miragem, algo criado pela minha mente para me distrair, mas então ela falou.
— Eu estou a onze minutos de distância — disse ela, a voz quebrando-se como se estivesse à beira das lágrimas. Havia algo na entonação dela, uma tristeza tão profunda que me atingiu como um soco no estômago. — Eu senti sua falta o dia todo.
Enquanto eu tentava processar aquelas palavras, o tempo já começava a escorrer pelo relógio. Onze minutos. De alguma forma, eu sabia que precisava começar a correr, mas meus pés estavam pesados como chumbo. Ela continuava ali, os olhos fixos nos meus, e eu percebi que havia algo além de tristeza em seu olhar. Era como se ela esperasse algo de mim. Como se eu tivesse uma chance de mudar o resultado daquele sonho, talvez pela primeira vez.
Comecei a correr, mas desta vez o som do meu coração parecia abafado, como se estivesse em outro lugar. O tempo no relógio disparava, cada segundo piscando com um brilho ansioso. O caminho à minha frente era mais claro do que jamais fora antes – uma estrada que serpenteava por uma floresta sombria, as árvores formando um corredor estreito que me conduzia para longe do carro capotado e da mulher que eu deixara para trás.
Mas, mesmo enquanto corria, não conseguia afastar a sensação de que algo havia ficado incompleto. As palavras dela ressoavam na minha mente como um eco distante. "Eu senti sua falta o dia todo." O que isso significava? Por que ela estava apenas a "onze minutos de distância"? Era uma pista? Uma advertência?
À medida que o tempo diminuía, a corrida ficava mais difícil. As sombras ao redor começavam a se alongar, distorcendo-se como figuras de uma pintura surrealista. Vozes começavam a surgir, sussurros indistintos que pareciam vir das árvores, ou talvez da própria escuridão que cercava o caminho. Por momentos, vi rostos emergirem entre os galhos – rostos familiares, mas que desapareciam antes que eu pudesse identificá-los.
Os minutos continuavam a cair, a contagem no relógio pulsando com uma intensidade cada vez maior. Eu podia sentir o fim se aproximando, como sempre acontecia. O cansaço arrastava meu corpo para baixo, mas ainda havia algo me empurrando para frente, algo diferente desta vez. Eu não estava apenas fugindo de um destino desconhecido – eu estava correndo em direção a ela.
Quando o relógio finalmente atingiu os últimos segundos, eu já não via o caminho com clareza. Tudo estava se desfazendo de novo, o mundo à minha volta se dissolvendo como tinta escorrendo de uma tela. E, então, como se uma cortina fosse puxada, eu acordei.
Acordei com o corpo suado, o coração acelerado e aquela sensação de perda mais forte do que nunca. Não era apenas um sonho qualquer. Agora, eu tinha certeza. Algo estava acontecendo, algo real, algo que eu precisava entender. Quem era aquela mulher? E por que, de alguma forma, eu sentia que ela estava esperando por mim?
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Eleven Minutes
FanfictionTodos os dias, por 11 meses, Lucas tem o mesmo sonho enigmático: ele corre contra o tempo, sempre 11 minutos, em direção a um destino desconhecido. Mas antes de alcançar qualquer resposta, o tempo acaba e o sonho se desfaz, deixando-o com uma sensaç...