Desta vez, estou decidido a ir até o final. Não posso mais hesitar. Preciso descobrir o que há no fim dessa corrida, onde é que tenho que chegar. O desespero e a determinação se misturam dentro de mim enquanto dou o primeiro passo. Então, começo a correr o mais rápido que consigo, meu coração acelerado acompanhando cada batida dos meus pés contra o chão.
Corro, corro e, para minha frustração, parece que não estou saindo do lugar. Os prédios se transformam em borrões ao meu redor, e a única coisa que consigo ouvir é o som da minha respiração ofegante. O vento bate no meu rosto, mas não consigo sentir nada além da adrenalina pulsando nas minhas veias. A cada passo que dou, a pressão aumenta, e a ansiedade se transforma em um peso ainda maior no meu peito.
Quando finalmente viro a esquina, trombo de frente com uma senhora cheia de sacolas. O impacto é inesperado e violento, e todas as sacolas dela vão parar no chão, espalhando o conteúdo pela calçada. Frascos, frutas e pães rolam longe, criando um pequeno caos em meu caminho.
— Olha por onde anda, menino! — grita ela, brava, os olhos arregalados de indignação.
— Me desculpe! — respondo, a voz tremendo um pouco. Sinto a urgência me pressionando. Apressado, ajudo a recolher suas compras, mas ao olhar para meu pulso, vejo que restam apenas sete minutos e cinquenta e cinco segundos.
— Me desculpa mesmo! — murmuro, me despedindo enquanto me levanto e volto a correr.
Saio apressado, enquanto a senhora esbraveja algo que não consigo ouvir, pois já estou muito longe. O mundo ao meu redor se transforma em um turbilhão de sons e cores, e a única coisa que importa agora é a linha de chegada que ainda não conheço. Atravesso o sinal vermelho, ignorando as buzinas e os xingamentos dos motoristas que são forçados a frear seus carros para não me atropelar. A adrenalina toma conta de mim, e sigo em frente, sem olhar para trás.
O tempo parece escorregar entre meus dedos enquanto corro. Cada segundo é precioso, e a pressão aumenta a cada passo. Quando parece que estou chegando ao local, uma sensação de esperança me invade, mas logo é interrompida. Um obstáculo surge à minha frente, e, num instante de distração, tropeço e caio.
— Cuidado, menino! — grita um senhor que está numa barraca montada no canto da calçada. Seu olhar é de preocupação. — Se machucou?
— Não — respondo rapidamente, levantando-me sem pensar. A dor no meu joelho é apenas um leve incômodo comparada ao que está em jogo. Mas ao me levantar, um bipe agudo corta o ar. Quando olho para meu pulso, a realidade me atinge como um soco no estômago: o tempo no relógio está vermelho. Meu tempo acabou.
Um frio percorre minha espinha, e a frustração se transforma em desespero. Sinto o coração disparar e a respiração acelerar. O que isso significa? O que acontece agora? O medo de falhar se torna palpável, e uma onda de desespero me envolve.
— Não, não, não! — murmuro para mim mesmo, enquanto olho ao meu redor em busca de algo, qualquer coisa que possa me ajudar a reverter isso. A calçada está cheia de transeuntes que seguem suas rotinas, alheios à minha luta. A realidade se desdobra ao meu redor, mas tudo parece distante. O que posso fazer? Para onde devo ir?
A escuridão que me envolvia começou a se dissipar, e lentamente retornei do transe. A realidade se impôs com um baque, e antes que eu pudesse processar o que havia acontecido, um grito involuntário escapuliu dos meus lábios.
— Isso não pode ser tudo! — esbravejei, a voz carregada de frustração e desespero. A sensação de impotência ainda ardia em meu peito. Eu estava tão perto, quase conseguia tocar a resposta que buscava.
Dr. Sono, sentado à sua mesa, tentou me acalmar. Seus olhos estavam serenos, como se estivesse acostumado com reações como a minha.
— Lucas, calma. O que conseguimos ver desta vez foi significativo — disse ele, gesticulando suavemente. — Você estava lá, conseguiu ver mais do que nas sessões anteriores.
— É pouco! — protestei, sentindo a raiva crescer. — Eu estava lá, quase lá, e podia sentir que estava próximo. Não posso parar agora!
— Eu entendo sua frustração, mas você precisa descansar — respondeu Clark, sua voz suave, mas firme.
— Descansar? — interrompi, quase em um grito. — Não consigo descansar enquanto essa angústia continua a me consumir. Não dá para viver assim!
Dr. Sono inclinou a cabeça, parecendo ponderar minhas palavras.
— Lucas, usar muito o chá pode ser prejudicial. Você pode perder a noção do que é real e do que não é — alertou ele, a preocupação evidente em seu olhar.
— Eu não me importo! — declarei, a determinação ressoando em minha voz. — O que não dá é ficar com essa angústia.
— Está bem — disse ele, após um momento de silêncio. — Se você está tão decidido, precisamos de mais chá. — Ele se virou para a secretária. — Por favor, ligue para a sua secretária e peça mais do chá.
Ela saiu rapidamente, e eu fiquei ali, meu coração acelerado, esperando que a solução chegasse logo. O tempo parecia se arrastar, e a frustração misturava-se com a esperança.
Após alguns minutos, a secretária retornou com uma bandeja, carregando uma nova xícara de chá e um papel. Dr. Sono agradeceu a ela com um sorriso sincero.
— Obrigado — disse ele, e ela retribuiu o sorriso antes de se retirar, deixando-me sozinha com o médico.
Ele olhou para mim, a expressão agora mais séria.
— Antes de continuarmos, preciso que você assine este documento — disse Clark, entregando-me o papel. — É um aviso sobre os riscos do chá. Isso me resguarda caso algo aconteça com você.
Fui tomado por um frio na barriga. Li o conteúdo, que explicava os potenciais efeitos colaterais do chá, e percebi a gravidade da situação.
— Tudo bem, eu entendo — respondi, sem esconder a apreensão. — Posso pegar uma caneta?
— Aqui está — disse Clark, entregando-me uma caneta elegante.
Coloquei o papel sobre a mesa e, com um traço firme, assinei meu nome. O ato me pareceu tanto um compromisso quanto uma entrega.
— Pronto — declarei, entregando o papel de volta a ele.
Dr. Sono olhou para mim, a expressão mais séria.
— Tome cuidado, garoto — disse, sua voz carregada de preocupação.
— Vou tomar, doutor — garanti, sentindo um misto de determinação e receio.
O olhar dele permaneceu firme sobre mim, como se estivesse tentando transmitir algo mais profundo através daquela simples interação. Estava claro que ele se preocupava, mas também que sabia que eu precisava seguir em frente.
O chá foi servido, e a mistura aromática subiu, inebriando o ar ao nosso redor. Olhei para a xícara e, por um momento, hesitei. Mas a necessidade de descobrir a verdade era maior que meu medo.
— Vamos fazer isso — murmurei, levantando a xícara em um gesto de bravura.
Clark fez um aceno de aprovação, e com isso, levei o líquido amargo aos lábios. Assim que engoli, senti uma onda de calor percorrer meu corpo, e a sensação de leveza começou a me envolver novamente.
— Agora, vamos mergulhar mais fundo, Lucas — disse ele, a voz firme, enquanto me preparava para mais uma jornada.
E assim, a esperança e a ansiedade se misturaram em um emaranhado de emoções enquanto me preparava para enfrentar o que quer que estivesse à espera no próximo passo.
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Eleven Minutes
FanficTodos os dias, por 11 meses, Lucas tem o mesmo sonho enigmático: ele corre contra o tempo, sempre 11 minutos, em direção a um destino desconhecido. Mas antes de alcançar qualquer resposta, o tempo acaba e o sonho se desfaz, deixando-o com uma sensaç...