A dimensão dos sonhos.

Segunda fase.

Famoso terror

O vento suave balançava as flores de glicínias que pendiam dos galhos altos da floresta, criando um cenário calmo enquanto Shirabu e Semi caminhavam lado a lado. Os dois não trocavam muitas palavras, mas havia uma tensão leve no ar, algo quase palpável que Shirabu só começava a perceber conforme o silêncio se estendia.

Semi, sempre com aquela expressão de quem tinha o controle da situação, caminhava com tranquilidade, as mãos nos bolsos, os olhos passeando pelos troncos retorcidos das árvores. Shirabu, por outro lado, se pegava encarando mais do que devia. Era difícil não reparar na postura confiante de Semi, na forma como os músculos de seus braços se contraíam a cada movimento. Seus olhos eram automaticamente atraídos para o rosto do outro, o jeito como os fios de cabelo prateado caíam de maneira displicente sobre a testa. Uma sensação incômoda de calor começava a subir pelo peito do menor, este que se mantinha quieto.

– Você tá quieto... – O platinado comentou, quebrando o silêncio, sem olhar para ele. – Ainda tá sentindo aquele choque? – Se referiu para os momentos atrás em que Shirabu quase "morreu".

– Não. – O mesmo respondeu rápido, cruzando os braços de forma defensiva. – Só estou pensando...

– Pensando? – Semi lançou um olhar de canto, com um meio sorriso sacana nos lábios. – No quê exatamente?

– Não é da sua conta. – O 'acastanhado' o cortou, sentindo o rosto ficar mais quente. Ele tentou disfarçar virando o olhar para as flores ao redor. – Por que diabos estamos andando por aqui mesmo? – Questionou.

Semi suspirou enquanto dava os ombros. – Para a próxima fase... – Respondeu.

Antes que o menor pudesse responder, um estrondo violento ecoou pela floresta, interrompendo o silêncio de maneira abrupta. Os dois pararam no mesmo instante, os olhos de Shirabu se arregalando enquanto ele olhava ao redor, tentando localizar a origem do som.

– O que foi isso? – Ele perguntou, a voz tensa.

– Não faço ideia. –  Semi respondeu, mas a calma habitual havia sumido de seu tom, ele encarava as flores, aos lados, e na sua frente... Porém não avistou nada.

De repente, duas figuras surgiram entre as árvores, avançando com passos determinados. Shirabu piscou, surpreso. Um garoto moreno – Este que possuía uma franja que quase cobria suas sobrancelhas – e um ruivo apareceram diante deles, mas... algo estava terrivelmente errado. Eles estavam vestidos com roupas esquisitas, algo que lembrava trajes de circo, com macacões de cores vibrantes e maquiagens bizarras cobrindo seus rostos. O branco e roxo que pintavam seus rostos tinham uma vibração quase macabra.

– Mas que...–  Shirabu murmurou, dando um passo para trás.

O garoto menor, com um sorriso perturbador no rosto, caminhou em direção a eles, as mãos abertas em um gesto de boas-vindas. – Ora, ora! Olha só quem encontramos no meio do nada! – Ele riu. – Eu sou Goshiki Tsutomu... – Os olhos de cima a baixo. – Um prazer em conhecer vocês. – Seu tom de voz parecia irônico.

– Quem são vocês!? –  Semi perguntou, a voz dura, enquanto dava um passo à frente, colocando-se meio que na frente de Shirabu.

O ruivo, que estava mais atrás, apenas observava com aquele olhar inexpressivo, uma calma ameaçadora que gelou o sangue de Shirabu. Ele segurava algo nas mãos, um objeto metálico que refletia a luz fraca que atravessava as árvores. Shirabu não conseguiu identificar o que era, mas não parecia nada bom.

– Vocês vão participar da próxima fase agora! – Goshiki disse, e sua voz tinha um tom agudo, quase infantil, mas carregada de uma malícia que Shirabu nunca havia escutado antes. Aquilo era assustador para ambos os garotos. – A gente chama de... "Circo em chamas"...