PRÓLOGO

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"Que porra eu estava fazendo aqui?"

Foi a pergunta que Bill fez a si mesmo, ainda sentado na moto, acendendo um cigarro e dando um longo trago, para se fixar novamente na entrada do prédio a sua frente.

O vento sacudiu seu cabelo, jogando-os sobre seu rosto, fazendo com que virasse o rosto para o lado, incomodado com o cigarro pudesse lhe queimar as madeixas loiras. Deu uma tragada duas vezes mais forte e segurou a fumaça, soltando-a  lenta e demoradamente, sentindo os pulmões queimando e a garganta tensionada com o esforço.

Apoiou os braços no manúbrio da moto e baixou a cabeça com o cigarro pendendo nos dedos, queimando por uma nova rajada de vento, entorpecido em pensamentos, tentando desviar a mente do motivo que lhe trouxera ali.

Ergueu os olhos para a fachada do estabelecimento, e afastou os cabelos do seu rosto para avaliar melhor o prédio com pintura nova, as linhas austeras e uma aparência de sobriedade que sua função necessitava e da qual dependia.

Casa Funerária St. Patrick, dizia um discreto letreiro com as indicações de onde ficava a "loja" e o salão de velório.

Tudo a sua volta gritava que estava em uma vizinhança decadente, mas isso não significava que os negócios com a morte não podiam prosperar.

Desviou o rosto para o carro de luxo estacionado um pouco adiante. O motorista estava do lado de fora e fumava um cigarro com mais afinco que ele. Vestia um desses ternos que pareciam caros, mas eram fabricados com tecido de segunda, o que dava ao homem a aparência de um gangster de segunda também.

"Então, ele estava aqui", Bill pensou, imaginando que deveria ir embora e não teve dúvidas de que deveria fazê-lo, mas hesitou. "Há quanto tempo não o via? Três meses?

Ele ligara bêbado uma noite e, entre outras bobagens, disse que sentia falta de catar umas mulheres em seu clube. Contudo, Bill não tinha planos de deixá-lo voltar a se envolver em seus negócios. Porque sabia, que estar longe do irmão, era sua melhor opção, ainda que entendesse não ser inteligente de sua parte não ceder, pelo menos um pouco, quando o assunto era o desgraçado e seus desejos escusos.

Tinha expulsado Tom do MC e do Hell's, seu precioso Clube de stripper e diversão adulta, há quase um ano, porque ele sempre arrumava confusão com os companheiros do motoclub, suas meninas e seus clientes. Bebia e se drogava muito, mexia com a mulher alheia e nunca pensava muito nas consequências. Mas já era o momento de dar uma segunda chance a ele, pelo menos de frenquentar o club como cliente. Afinal, agora, o irmão era toda a família que lhe restava.

Jogou o cigarro no chão, pisou nele, sem se preocupar em ser ecologicamente correto, e acionou a chave e o motor da moto roncou.

Não estava com a mínima vontade de entrar. Nunca gostou de velórios e enterros. A morte era algo que definitivamente sempre lhe rondara de muito perto e de muitas formas, durante toda a sua vida, e mesmo assim, não estava acostumado com a sua presença.

Apesar de que, naquele caso em específico, chegou como um pagamento merecido para o homem que fez da sua infância um verdadeiro inferno, até que resolveu fugir. Um maldito pai, que deveria lhe proteger, mas tinha sido o primeiro a lhe machucar.

Naquele preciso momento, quando se perguntava novamente, que porra viera fazer ali, e dava partida na Harley, Tom saiu do carro e lhe encarou. Estava mais forte que da última vez em que se viram, seu cabelo estava mais longo e com tranças rasta, assumindo um estilo que parecia lhe cair bem, mais moderno e assustador, principalmente porque fazia questão que as pessoas soubessem exatamente com que tipo de homem estavam lidando, e de que não deveriam se arriscar a descobrir, pois poderia ser muito pior.

RISCOS DA PAIXÃO | BILL KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora