RISCOS DA PAIXÃO | BILL KAULITZ

Capítulo 7 - Reflexão

Mel o observou dormindo. O rosto relaxado, mais jovem, ressonando baixinho.

Tinham trasando a noite toda e estava dolorida pelo tanto que ele lhe exigiu. Estava adorando a sensação que ele tinha deixado em seu corpo, esgotada e ardida, daquela forma boa, que dava a certeza de ter sido bem amada por um homem, que sabia exatamente o que estava fazendo.

Estava louca de vontade de toca-lo, afastar seu cabelo da testa e afagá-lo, até que ele acordasse para se amarem novamente. Contudo, essa hora era o momento certo para por em prática aspectos logísticos do plano. Seria uma ótima oportunidade e não podia perdê-la. Bem devagarinho se afastou com cuidado, vestiu a jaquela dele, pegou seus saltos e rumou para o banheiro.

Trancando a porta atrás de si, aproximou-se da pia e colocou ali seu scarpin. Procurou o celular dele no bolso do casaco e o encontrou aliviada. Retirou o aparelho com cuidado do bolso e com um fundo de pesar no peito, olhou a tela apagada do aparelho. Precisava ser rápida.

Olhou para a porta que separava a suíte do banheiro e estremeceu. Na verdade, não queria envolver Bill em tudo aquilo, sabia que não devia fazê-lo, não eram as suas ordens. De fato, nem deveria estar ali, mas estava tão empenhada em se vingar de Tom Kaulitz, que não se importava em seguir por aquele caminho perigoso.

Desligou o celular, retirou a bateria e depositou tudo na superfície do mármore preto da pia. Pegou um dos saltos de seu scarpin, deslocou o salto com um clique e retirou um chip de rastreamento, como uma escuta, e colocou dentro do aparelho, escondido atrás da bateria. Após testar para ver se funcionava, ajeitou o celular e o fechou, voltando a coloca-lo no bolso do casaco.

Neste momento, seus dedos roçaram em um pedaço de papel. Retirou o mesmo do bolso curiosa e descobriu que se tratava do cartão que mandara juntamente com o quadro. Ele o guardara. Por que tal fato lhe aqueceu o coração?

Mel fechou os olhos, respirou fundo e passou a mão no rosto, olhando para seu reflexo no espelho. A mulher refletida ali era Mel, a frequentadora do Hell's, mulher atrevida, sensual, dona de si, de andar sexy e atitudes ousadas, bem diferente de M., a agente do FBI disfarçada sob missão, completamemente quebrada e disfuncional, muitas vezes instável e impulsiva. No final, todas as personalidades que desempenhou para cada investigação interpretada por ela, ao longo de sua carreira na agência, faziam parte dela e insistiam em bailar, naquele instante, por sua memória.

Tinha a ruiva chamada Melissa. A alcoólatra decadente, que trocava água por qualquer tipo de bebida alcoólica, que andava completamente bêbada numa Harley, com um bando de desajustados marginais, pois seu objeto de investigação, era se aproximar do chefe de uma gangue de motoqueiros nazistas, que circulavam e aterrorizavam outros motoclubes e as periferias decadentes de Boston.

Tinha também um pouco de Melinda, a loira de cabelos curtos, viciada em cocaína e metafetamina, que se aproximou da filha do chefe de um dos maiores cartéis de contrabando e tráfico de drogas do mundo. Sua missão era seduzir a garota e torna-la sua amante, para conseguir chegar perto do desgraçado de seu pai, Pablo Escobar, o maior traficante já registrado na história.

Viu no espelho Mayla, Mia, Marcia, Mila.....pois a primeira regra quanto ao nome de suas personagens, era conseguir mantê-lo o mais próximo possível de seu nome original... E todas aquelas estranhas em que se tornara, em cada missão investigativa, por dias, semanas e até meses, sempre estava sozinha ou acompanhada de seus colegas, agentes especiais. Porém, sempre se sentia uma loba solitária, sem ninguém, sem porto, sem rumo. E agora todas elas lhe encararam com desaprovação.

E agora, aqui estava ela como Mel. Mais uma de suas personalidades criada. Escolhera esse nome, porque era uma abreviação do seu nome real, e porque queria que, no momento que se aproximasse e seduzisse Bill, ele o sussurrasse com paixão, quando eles estivessem na cama.