Capítulo 1: O Homenzinho Torto

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Dídimo era um homem pequeno e encurvado, tanto que ninguém mais se referia a ele pelo nome. Na cidade, ele era conhecido como "o homenzinho torto". As crianças riam dele, os adultos evitavam sua companhia, e até os animais de rua pareciam ignorá-lo. Seu caminhar desajeitado e sua corcunda proeminente faziam com que ele fosse facilmente reconhecido de longe. Mas o que poucos sabiam era que o verdadeiro "torto" de Dídimo não era sua aparência. Era o seu coração.

Ele tinha tudo o que o dinheiro podia comprar. Sua casa era a maior da cidade, seus cofres estavam sempre cheios, e ele era dono de terras que se estendiam por quilômetros. Contudo, mesmo com toda essa riqueza, Dídimo vivia sozinho. Não tinha amigos, não gostava de receber visitas e, quando o fazia, era apenas para assuntos de negócios. Seu coração era frio como uma pedra, incapaz de sentir empatia pelos outros.

As poucas vezes em que Dídimo se aproximava de alguém, era para zombar ou desprezar. Ele ria dos mendigos que pediam ajuda e virava o rosto para os doentes que buscavam socorro. "Eles são fracos!", dizia consigo mesmo. "Se eu consegui chegar onde estou, por que eles não podem? Não me devem nada e eu também não devo nada a eles."

O povo, por sua vez, sabia muito bem como Dídimo era. Eles cochichavam sobre sua fortuna e sua avareza. Nas ruas, diziam que o homenzinho torto nunca tirava uma moeda do bolso para ajudar quem quer que fosse. Ele era conhecido como um homem insensível e amargo, que vivia apenas para si mesmo.

Porém, a verdade é que Dídimo não era apenas torto por fora. Sua alma, assim como sua postura, estava encurvada. Ele sentia uma profunda revolta por ter nascido com aquela condição. Quando jovem, acreditava que, se acumulasse riquezas, poderia ser respeitado e admirado, apesar de sua aparência. Mas, com o tempo, percebeu que o dinheiro não lhe trouxe o que ele mais desejava: ser aceito.

Em vez de buscar uma solução para sua amargura, Dídimo se afundou ainda mais em sua ganância. Preferia passar horas trancado em seu escritório, contando suas moedas de ouro e admirando seus tesouros, a sair e tentar mudar sua vida ou melhorar suas relações com as pessoas. Ele preferia seu próprio isolamento.

A cada ano que passava, sua corcunda parecia aumentar, e com ela, sua raiva do mundo. Dídimo acreditava que a vida tinha sido injusta com ele. "Por que eu?", ele pensava. "Por que logo eu tenho que ser assim, torto e desprezado?". Ele culpava o mundo, mas nunca se olhava no espelho para ver que o verdadeiro problema estava dentro de si.

E assim, o homenzinho torto seguia pela vida, sempre mais torto, sempre mais distante das pessoas e de qualquer bondade. Ele estava preso em um ciclo de rancor, e seu coração, já encurvado pela avareza, endurecia a cada dia mais.

Ninguém sabia, mas dentro daquela figura encurvada havia uma alma ainda mais deformada, que não conhecia o amor, nem a bondade, nem a luz. O homenzinho torto vivia nas sombras de sua própria solidão, e por mais que acumulasse riquezas, sua vida continuava vazia e escura. O que ele não sabia é que esse caminho torto o levaria, mais cedo ou mais tarde, a um ponto de virada que mudaria sua vida para sempre.]

Na cidade onde Dídimo morava, havia muitas histórias de superação e de pessoas que, mesmo com pouco, conseguiam viver felizes. Mas essas histórias nunca tocaram o coração do homenzinho torto. Ele simplesmente não acreditava nelas. Para Dídimo, o único poder real era o dinheiro. Tudo que não pudesse ser comprado ou contado, ele considerava inútil.

Certo dia, durante uma manhã especialmente cinzenta, Dídimo caminhava pelas ruas, com sua cabeça sempre baixa por causa da corcunda. Ele cruzava o mercado da cidade, onde os vendedores gritavam seus produtos frescos e as famílias passeavam com sacolas cheias de mantimentos. Dídimo desprezava aquele lugar. As pessoas pareciam satisfeitas com tão pouco, e isso o irritava profundamente.

O  Homenzinho TortoOnde histórias criam vida. Descubra agora