Capítulo 2: A Vida Sem Brilho

2 0 0
                                    

Ao retornar para casa com a Bíblia debaixo do braço, Dídimo sentia um turbilhão de emoções. Ele olhava para o livro, mas não sabia por onde começar. Aquele objeto parecia carregar um peso que ele não compreendia, algo que, de alguma forma, o inquietava profundamente. Embora fosse um homem de números e negócios, Dídimo sentia, pela primeira vez em muito tempo, que havia algo além do que ele podia ver ou contar.

Colocou a Bíblia sobre a mesa e ficou ali, parado, encarando-a como se estivesse diante de um mistério impossível de decifrar. Sua mente estava tomada pelas lembranças das vozes que ecoavam em sua cabeça na praia. "Homem sem brilho", "coração de gelo", aquelas palavras o perseguiam, e ele não conseguia afastá-las. Por mais que tentasse se distrair, sabia que algo dentro de si estava diferente.

Nos dias que se seguiram, Dídimo voltou à sua rotina de sempre: trancar-se em seu escritório, contar suas moedas e cuidar de seus negócios. Mas algo estava errado. Nada parecia mais fluir da mesma forma. O brilho que ele via em suas riquezas parecia ter desaparecido. Antes, o som das moedas caindo em seus cofres lhe trazia satisfação, como se fosse uma música de sucesso. Agora, esse mesmo som soava vazio, sem vida. Era como se o ouro, que antes o confortava, tivesse perdido sua luz.

Dídimo começou a sentir uma angústia que não sabia explicar. Ele observava as pessoas pela janela de sua grande casa, e notava algo que nunca havia percebido antes: elas sorriam. Mesmo aquelas que não tinham grandes riquezas, que viviam de forma simples, pareciam ter uma alegria que ele não conseguia compreender. Havia algo em seus rostos, um brilho, que contrastava com o vazio que ele sentia por dentro.

Certo dia, enquanto fazia mais uma de suas caminhadas solitárias pela cidade, Dídimo passou por uma praça onde um grupo de pessoas conversava animadamente. Entre elas, estava uma mulher idosa, vestida de forma modesta, mas com um sorriso caloroso no rosto. Ao vê-lo passar, ela o cumprimentou gentilmente:

— Bom dia, senhor Dídimo! Que o senhor tenha um dia abençoado!

Dídimo mal sabia como reagir. Ele não estava acostumado a gentilezas. Normalmente, as pessoas o evitavam, e ele gostava disso. Mas aquela mulher, que claramente não tinha tanto quanto ele, o saudava com uma alegria genuína, como se fosse a pessoa mais rica do mundo. Aquilo o incomodou profundamente.

— Como pode alguém como ela ser tão feliz? — murmurou ele consigo mesmo enquanto se afastava.

De volta em casa, aquela pergunta o assombrava. Como as pessoas, sem todo o ouro que ele possuía, podiam viver de maneira tão plena, enquanto ele, com suas riquezas, sentia-se cada vez mais vazio? Ele olhou novamente para a Bíblia em cima da mesa. Aquilo o perturbava mais do que gostaria de admitir.

Certa noite, sem conseguir dormir, Dídimo decidiu finalmente abrir o livro. Sentou-se em sua poltrona de couro e, com dedos trêmulos, começou a folhear as páginas. Ele não sabia o que estava procurando, mas sentia que havia algo ali que precisava descobrir.

Ao abrir em uma página aleatória, seus olhos caíram sobre uma passagem que dizia: "Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mateus 6:21). Aquela frase o atingiu como um raio. Ele releu as palavras várias vezes, tentando entender o que significavam para ele.

— Meu tesouro está nas minhas riquezas... — pensou ele. — Mas por que, então, meu coração se sente tão vazio?

Dídimo passou a noite inteira lendo a Bíblia, descobrindo histórias de pessoas que, apesar de todas as dificuldades, encontravam paz e propósito em algo maior do que o ouro ou os bens materiais. Ele leu sobre fé, bondade e, acima de tudo, sobre o amor de Deus, algo que ele nunca tinha conhecido verdadeiramente. Para ele, essas palavras soavam distantes, quase irreais, mas algo dentro dele começou a despertar.

O  Homenzinho TortoOnde histórias criam vida. Descubra agora