Um experimento malsucedido - ao menos é o que os mais velhos contam - que destruiu tudo o que antes acreditávamos ser belo e vivo, o ar se tornou tóxico em diversas partes do mundo, os animais que sobreviveram sofreram mutações diversas, a população humana foi praticamente dizimada.
É difícil encontrar outros humanos fora das vilas e dos fortes, e se os encontrar, é melhor fugir, geralmente são saqueadores ou piores. Ainda há ruínas e poucos registros da antiga civilização, porém é muito difícil ter acesso a esses lugares, o que nos restou foram apenas lembranças.
Lembranças e relíquias (livros, cadernos, de modo geral, registros físicos) que no mercado valem muito. As relíquias foram responsáveis por ainda termos formas de alimento, embora os estudos das espécies de vida da sexta dimensão também sejam de grande proveito. Através desses estudos e de uma mescla com a antiga tecnologia, tivemos alguns avanços tecnológicos, obviamente, não são todos que têm acesso.
Uma tragédia sempre será uma tragédia.
O nevoeiro do Rio de Mármore ainda me impede de ver a Décima Vila, mesmo sendo um nevoeiro tóxico para quem tem contato, ainda consegue ser mais seguro do que andar nas estradas. De forma simples e bem objetiva, todas as vilas e fortes são conectadas por estradas supostamente seguras. Elas são mais arriscadas, já que os saqueadores usam elas como bem entendem. Para quem viaja sozinha, como eu, é bem mais perigoso. Eu trabalhei pra caralho para conseguir essa máscara respiratória e os óculos protetores apenas para usar no rio. Levo comigo apenas uma bolsa com itens de sobrevivência, comida seca, garrafas d'água, uma muda de roupa, um saco de dormir, algumas armas para defesa, entre outras coisas. Em minhas mãos estão luvas de proteção e uma afiada lança, enquanto a direita leva uma arma de plasma.
Fora das vilas, isso tudo não passa de uma terra sem lei. O melhor que pode fazer é se defender.
O Rio de Mármore era um belo rio e cruzava o continente de ponta a ponta, mas que secou assim que a sexta dimensão surgiu. Uma grande cortina de névoa tomou conta, todas as espécies que viviam no rio morreram. Do alto, a névoa o faz parecer um grande piso de mármore, a areia branca contribui para isso. Dizem que, se você entrar no rio de mármore sem proteção, leva cerca de 6 horas para que morra intoxicado. No entanto, protegendo as mucosas da névoa, é possível cruzar as pequenas distâncias. Em alguns pontos, ele é apenas um risco; em outros, onde havia lagos, a distância de uma ponta a outra é maior. Pelo ar tóxico, não há muitas espécies vivendo aqui, aquelas que se adaptaram ao ambiente inóspito saem de suas tocas apenas à noite. A distância dele para chegar à Décima Vila é de mais ou menos um dia, pelo relógio já passou do meio-dia. Já atravessei o Rio algumas vezes, embora essa seja a maior distância que já percorri.
Pode ter certeza de que ninguém quer estar fora da Vila à noite, não importando a localização.
Nós sobrevivemos, dia após dia, sem descanso. Vivendo como pequenos insetos inofensivos para os grandes, as poucas coisas que encontro nas minhas viagens me fazem crer mais e mais que algum dia homens e mulheres foram os donos do mundo e que jogaram tudo isso no lixo.
Minhas botas são serenas ao tocar a areia alva, tudo o que faço é andar em linha reta sem parar, segundos são como anos aqui. Não posso parar, não quero me perder. Embora seja uma máscara de respiração, sinto que ela apenas me sufoca, isso é normal? Mesmo que eu tenha bebido bastante água e comido o suficiente antes de entrar no deserto, minha boca está seca e meu estômago começa a sentir o vazio. Apenas o som da brisa é ouvido aqui, é como estar em outro planeta ou dimensão. Não posso parar, não quero me perder!
No meu pulso, o relógio informa que um terço do dia já se passou, falta pouco. Eu disse isso para mim mesma há cinco minutos, isso é o que chamam de positividade?
Começo a sentir que estou perto, o fim do dia está próximo. São apenas frações de segundos para sentir o impacto, meu corpo é arremessado para longe, minha respiração está desregulada, eu não consigo ver nada. Merda! Meu óculos está com uma pequena rachadura. Tento me levantar, mas novamente sou acertada, dessa vez sinto uma dor imensa no meu braço, tem algo na névoa.
Eu vou morrer.
Eu vou morrer.
Eu vou morrer.
Só então eu o ouço, é estridente, extremamente alto - ao ponto de os meus tímpanos serem estourados - e bizarramente humano. Não tenho tempo para pensar nisso, a lança que eu carregava já não se encontra no meu campo de visão. Tudo que vejo é o pequeno brilho da minha arma, corro até a mesma, que até então é a minha melhor opção.
Sinto as lágrimas no meu rosto, minha respiração irregular, meu corpo inteiro está doendo, acho que fraturei algo. A adrenalina me impede de sentir mais do que isso, sinto o líquido vermelho escorrer na minha perna, e eu não quero olhar para conferir. Finalmente chego até a arma, mas novamente aquele som estridente me impede de ter qualquer ação, sinto que meu cérebro vai explodir. Isso não era para acontecer, não existem monstros fortes o suficiente para atacar durante o dia.
É então que eu o vejo, é maior do que qualquer coisa que eu já tenha visto, seu corpo é escamado, sua cabeça é gigante, é como se fosse uma mistura de diversos animais, é uma puta anomalia. É aterrorizante. Seu corpo se mistura à névoa, como um passe de mágica, a criatura some. Eu nunca tive chances de atravessar esse rio, eu sou muito burra!
Posso ouvir o monstro se rastejando até mim, eu sou apenas a sua presa. Posso contar as inúmeras vezes em que estive na cara da morte, e nenhuma delas me aterrorizou tanto quanto agora. Uso o que me resta de forças para pegar a arma e atirar, mesmo acertando ainda não é o suficiente para que cause qualquer dano à besta.
É tarde demais... ele está tão próximo que, mesmo sem o ver, a sua respiração é audível. Finalmente posso vê-lo, sua cauda se movimenta rapidamente e a ponta dela atravessa o meu peito.
É frio como mármore... a areia já não é mais branca.
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sexta dimensão
Ciencia Ficciónsexta dimensão, esse é o nome dado ao fenômeno que devasta a Terra há décadas. e por muitas vezes foi chamado de inferno... a história é contada por dois pontos de vista, o primeiro acompanha uma andarilha deprimida que tem o objetivo de chegar ao q...