a décima vila.

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Meu nome é Ravi, eu nasci na Oitava Vila, considerada uma das piores vilas. Bom, pelo  que eu me lembre, meus pais eram saqueadores assim como eu. Eles se separaram de mim em uma tempestade quando eu era mais novo, desde então, nunca mais os vi. Saqueadores andam em bando, logo tratei de encontrar o meu próprio bando.

A Sexta Dimensão nos proporciona diversas profissões, mas sendo sincero, nenhuma delas chega aos pés de ser um saqueador. Não estou tentando converter ninguém... talvez um pouco. No mundo dos saqueadores, as pessoas nos respeitam, elas têm medo, conseguimos tudo o que queremos, lutamos, nos divertimos. É um mundo mágico para mim.

Alguns acham que é pecado querer se divertir em meio ao caos, eu discordo. O caos vai existir mesmo que você se martirize, ou seja, lá qual for a loucura que se passe na sua mente. Não importa o que faça, o caos sempre vai existir! Então, por que eu tenho que passar por isso chorando? Entende onde quero chegar? É melhor rir do que chorar.

Só que poucas pessoas entendem isso, inclusive a ratinha que eu estou esperando não entende isso. Ela apenas aponta o dedo, é uma puta de uma hipócrita, onde apenas ela sabe como o mundo funciona. Mas ninguém sabe, a Terra já era incompreendida antes, quem dirá depois que as portas do inferno foram abertas. 

Um suspiro me escapa, levo o whisky aos lábios enquanto batuco alguma melodia aleatória no capô do carro. A Décima Vila é um porre. Todas as Vilas, na verdade, são cheias de regras e ordens. As vilas são onde a horda dos fracos vive, aqueles que não têm coragem para enfrentar o que está fora da bolha em que vivem são chamados de residentes. As vilas foram construídas em volta das pequenas reservas de água que restaram no mundo. Em troca de uma residência, os residentes cuidam de plantações, se tornam “cientistas” para inventar novas formas de energia sustentável ou qualquer bobeira do tipo. No melhor dos casos, você pode se tornar um Abatedor, caras que aplicam as leis das Vilas, exploram áreas novas para cultivo e reservas de água natural. A melhor parte é cuidar dos ataques noturnos, à noite todo tipo de monstro pode aparecer, às vezes ocorrem tempestades fora de controle também.

As vilas são divididas em três cinturões.

O Central é onde os “cientistas” e os Abatedores vivem para proteger a reserva de água.

O Mediano é onde os residentes e cultivadores vivem.

Os dois cinturões acima são proibidos para viajantes, o que nos leva ao último cinturão.

O Anel é onde os viajantes e comerciantes podem transitar, dependendo da Vila, é apenas um esgoto. Em outros casos, você pode conseguir suprimentos, um quarto para passar alguns dias, serviços em geral, e claro, o mercado de relíquias. Alguns mendigos insistem em viver nos esgotos, geralmente são pessoas que não conseguem se sustentar por conta própria, ladrões ou drogados. 

Para entrar nos Aneis é necessário pagar uma pequena taxa, quanto mais limpo, mais caro é a taxa. Foi uma explicação bem meia boca, mas não importa, o básico é sempre essencial. Se você sabe o básico, então as coisas se tornam mais fáceis.

No momento, eu estou no sudoeste do Anel, o Rio de Mármore me encara como se todos os segredos do mundo estivessem ali. É uma bela vista e tão traiçoeira quanto. 

“Ela ainda não saiu de lá? Já está anoitecendo, ela vai acabar se ferrando.” Eve chama minha atenção ao se aproximar. Já faz horas que a ratinha entrou no rio, gostaria de dizer que estou preocupado com ela, no entanto, estou mais preocupado com a minha recompensa pela cabeça dela. Meu olhar se dirige para Eve, que me encara esperando novas instruções. 

“Seria muito triste se ela morresse lá… Não veríamos a cor do ouro tão cedo e os outros ficaram putos comigo.” Um bocejo me escapa enquanto falo. “Vamos esperar até anoitecer, se ela não sair de lá até às 19h, então perdemos nossa recompensa.” Minha voz sai quase como um sussurro, termino a dose do meu whisky, encarando Eve. Ela apenas acenou com a cabeça antes de usar o binóculo em direção ao Rio. À nossa volta, o grupo de andarilhos está rindo e conversando, chamando minha atenção para um deles que faz uma dança estranha. “Temos que tomar cuidado, não sabemos se algum deles é um Imune… Fica atento.” Continuo voltando meu olhar para Eve, que continua olhando no binóculo.

Imunes, entre sortudos e amaldiçoados, eles são aqueles que sobrescrevem a capacidade humana. Não são apenas animais que sofrem mutações, humanos também podem sofrer. Embora as vilas não deem uma resposta definitiva sobre os Imunes, eles são pessoas com habilidades e, como o próprio nome já diz, eles são imunes às toxinas da sexta dimensão. As maiores recompensas são pela cabeça deles, principalmente porque são difíceis de serem rastreados.

“Pra mim, eles só parecem um bando de idiotas.” Ela diz mais para si  do que para mim. Dou um sorriso de lado, embora eu devesse repreender ela, apenas me deito no capô do carro. Fecho meus olhos, sentindo o vento passar pelo meu rosto. Estou ansioso para encontrá-la , da última vez ela conseguiu deixar uma cicatriz muito feia no meu rosto, me pergunto. Não sei o que acontecerá dessa vez…

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