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RECIFE

Kauani

Depois que o Veigh saiu do palco, um outro cara subiu no lugar dele, um tal de Ghard, acho que foi isso que eu ouvi anunciar.

- Pra falar a verdade eu até que gostei do show desse carinha, hein. Ele sabe prender o público, com certeza. - Dou um gole no meu drink. Humm, amo moscow mule. - Provavelmente porquê ele é um gato. - Olho pra Nia que já me olhava com os olhos semicerrados.

- O que? - Pergunto fazendo minha melhor cara de sonsa. - Eu não gosto do gênero musical, mas isso não tem a ver com aparência. Adoro MPB, mas acho o Caetano Veloso horrível, amiga.

- Aham, tá... Eu vi ele te olhando no camarim, sua safada. - Eu ergo as sobrancelhas em deboche.

- Nia, você viu o estado que eu estou? É meio difícil não reparar em mim hoje. - Finalizo meu drink e coloco o copo vazio no balcão do bar novamente. Não saí dali desde que o show começou, preferi não ficar na muvuca.

- Vou ir no banheiro, não saí daqui pra gente não perder o lugar. - Ela decide me ignorar e honestamente, por mim tudo bem. Me viro para o bar e chamo o barman.

- Você pode me ver uma garrafa d'água, por favor? - Eu grito por cima da cantoria quando sinto alguém chegar bem atrás de mim.

- Duas garrafas, na verdade. - Ouço a voz do alguém misterioso e o barman acena com a cabeça e saí do meu campo de visão, me viro parcialmente pra ver quem é.

Um moletom preto com um capuz enorme tampa quase todo o seu rosto, mas aqueles dois piercings no nariz são inconfundíveis.

- Trocou de lado? - Pergunto e indico o palco com um aceno de cabeça.

- Eu sou o maior fã daquele cara ali, tenho que prestigiar, né? - Ele sorri e eu gostaria de poder o enxergar melhor, mas eu imagino que não há chance nenhuma de ele tirar esse capuz, pelo menos, não aqui.

O barman volta com as nossas águas e eu abro a minha dando um longo gole. Sinto seus olhos em mim e tiro a garrafa dos lábios pra olhar pra ele.

- O que? - Pergunto um pouco impaciente, odeio me sentir intimidada.

- Não sei... o que estou fazendo aqui. Só... Eu vi você do palco e senti vontade de vir aqui, tava te olhando dalí só esperando sua amiga sair. Quero falar com você... Trocar um papo, tá ligada? ... - Ele me olha intensamente com um misto de confusão e curiosidade nos olhos e nesse momento eu sinto minha cabeça girar como se eu tivesse bêbada, mas além dos dois shots em casa, eu bebi apenas dois drinks. Sacudo a cabeça pra me concentrar.

- Nossa... Que coisa estranha. - Sussurro e respiro fundo. - Então vamos conversar, o que você quer falar? - Me recomponho finalmente e percebo que posso ter soado um pouco antipática. Faço uma careta mental.

- Qual é o seu nome? - Ele me pergunta e não consigo deixar de sentir essa sensação como se o resto do mundo tivesse em segundo plano, como se o som alto do local tivesse abaixado ligeiramente alguns décimos e tudo que existisse fosse nós dois.

- Kauani, Kauani Duarte. - Dou um meio sorriso.

- Kau. Posso te chamar assim? - Dou um leve aceno de cabeça.

- Na verdade, as pessoas me chamam de Kakau, mas você pode me chamar de Kau, sim, se quiser. - Estreito os olhos quando vejo seu sorriso de lado. Nenhum homem que sorri de lado assim, presta.

- Da hora. Você não é daqui, né? Não tem sotaque.

- Não, sou de São Paulo, vim pra cá só pra aproveitar o feriado prolongado.

Akai Ito. - VEIGHOnde histórias criam vida. Descubra agora