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SÃO PAULO

Kauani

- A minha irmã falou que cê tem um negócio. - Thiago se apoia no balcão da cozinha e observa eu cortar os legumes.- De que?

- Drogas. - Ele revira os olhos e eu coloco a cenoura picada em um recipiente, pegando a batata em seguida e a descascando. - Cosméticos. Sou dona de algumas lojas de cosméticos.

- Se você não fosse empresária, seria o que? - Ele pega uma cenoura crua e morde, e eu faço uma careta.

- Pedagoga. Eu queria dar aula pro fundamental I. - Bato na sua mão quando ele vai pegar mais uma cenoura. - Para com isso!

- Cê gosta de criança? - Ele me olha curioso, pegando a cenoura mesmo assim e eu estreito os olhos.

- Sim, gosto. E você, coelhão? - Ele ri pelo modo que eu falo.

- Gosto. De algumas, tem umas crianças chatas. - Ele da a volta no balcão e eu o ouço abrir alguns armários, até que ele pergunta. - Cadê os copos?

- Sua direita, em cima. - Digo, quando termino de cortar as batatas. - Os filhos são um reflexo dos pais. Não odeie as crianças, odeie quem os criou assim. - Me viro parcialmente pra olhá-lo, que bebe um copo de água. - E você, seria o que? - Ele ergue a mão em um sinal de 'espera' e eu jogo as batatas e as cenouras na panela que estava o frango.

- Eu não sei. - Ele responde sincero. - Sempre sonhei com música.

- Que legal. Deve ser incrível viver o seu sonho. - Sorrio e ele sorri também.

- É. - Ele concorda com a cabeça. - Por que você não virou professora? - Ele da a volta pelo balcão novamente, se sentando no banco alto.

- Por que eu precisava ter mais ambição. Eu não conseguiria uma vida boa pro meu filho sendo apenas uma professora. - Digo e suspiro. - Não me arrependo e faria tudo de novo.

- Faz sentido. Mães tem essa sina de se sacrificar pelos filhos, né? - Ele diz pensativo.

- Não tenha dúvidas. Ser mãe é padecer no paraíso. - Desligo a água do macarrão e coloco pra escorrer na pia.

- Desculpa a pergunta, mas o pai dele morreu como? - Eu olho nos seus olhos e ele me encara com curiosidade genuína.

- Acidente de moto. - É tudo que digo e ele me olha como se esperasse mais, porém, eu não alimento seu interesse. Coloco o tempero na panela que cozinhei o macarrão e ligo o fogo.

- Ele tinha quantos anos?

- Ele quem? - Devolvo a pergunta. - O meu filho tinha um ano e sete meses, o pai dele tinha vinte e um. - Esclareço e ele concorda com a cabeça.

- E cê ficou triste? - Ele insiste indiscretamente e eu reviro os olhos e pego o macarrão escorrido, o virando na panela.

- Soltei fogos de artifício e fiz um churrasco. - Digo sorrindo. - Claro que fiquei, meu filho ficou sem pai. Mas pra responder a pergunta que eu sei que você tá louco pra fazer, não. Se ele estivesse vivo nós definitivamente ainda estaríamos separados, eu não terminei com ele por qualquer coisa... - Ele concorda com a cabeça, com os olhos fixados em mim. Boto o molho de tomate e mexo, deixando o tempero e o molho se misturar com o macarrão.

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⏰ Última atualização: Nov 24 ⏰

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Akai Ito. - VEIGHOnde histórias criam vida. Descubra agora