Capítulo 10: A proposta

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Marcus Crowe

O silêncio do galpão abandonado era
quebrado apenas pelo som suave da
respiração de Daphne, ainda
inconsciente. Eu a observava, sentado
em uma cadeira a poucos metros de
onde ela estava presa, os pulsos
amarrados com firmeza, mas sem
feri-la. Não era hora de dor. Ainda não.
Havia algo mais que eu queria dela.
Ela começou a se mexer, seu rosto
contraindo-se conforme despertava do torpor.

Aquela sensação de poder, de controle absoluto, me inundou quando seus olhos finalmente se abriram. A confusão rapidamente deu lugar ao terror. E eu sabia que ela sabia. Sabia que estava nas minhas mãos.

─ Bom dia, detetive Hale ─ falei com
um sorriso frio, me levantando
lentamente e caminhando em sua
direção. ─ Espero que tenha dormido
bem.

Ela olhou ao redor, os olhos varrendo
cada canto, buscando uma saída que
não existia. Ela sempre foi esperta.
Mas aqui, comigo, esperteza não seria
o suficiente.

─ O que você quer de mim? ─ Sua voz
estava firme, apesar do medo palpável. Daphne nunca seria uma vítima comum, e talvez fosse isso que
me atraía tanto. Ela tinha uma força
que poucas pessoas possuíam. Mas
eu sabia que podia quebra-la, como já fiz com tantos outros.

Eu parei na frente dela, inclinando-me
apenas o suficiente para que nossos
olhos se encontrassem. Toquei
suavemente seu rosto com o dorso da mão, sentindo sua pele se arrepiar sob
meu toque. Ela se afastou, mas estava
presa, sem para onde ir.

─ O que eu quero de você... ─ repeti,
minha voz baixa, como se saboreasse
cada palavra. ─ Isso vai além de
qualquer coisa que você possa
imaginar, Daphne. Não sou como os
outros. Você sabe disso. Não me
contento com simples assassinatos,
com sangue derramado sem
propósito. Não... O que quero é algo
mais profundo.

Ela me encarou, sua respiração se
tornando mais rápida, seus olhos
expressando uma mistura de desafio e desespero.

─ Você é doente. ─ ela murmurou,
tentando soar forte. ─ Nada do que
você fizer vai me quebrar.

Soltei uma risada curta, fria. Ela ainda
não entendia.

─ Eu não vou te forçar, Daphne. Isso
seria fácil demais. ─ Me abaixei até
ficar na altura dela, segurando seu
queixo com delicadeza, forçando-a a
me encarar diretamente. ─ O que eu
quero... é que você me dê permissão.
Eu quero que você deseje o que estou
prestes a propor.

Ela franziu a testa, confusa. O medo
brilhou em seus olhos por um
segundo, e eu sabia que estava no
caminho certo.

─ Permissão? ─ Sua voz tremeu
ligeiramente, revelando a incerteza que ela tentava esconder.

Assenti lentamente.

─ Exatamente. Quero que aceite o que
eu estou oferecendo. Um ritual... uma
união entre nós. ─ Soltei seu queixo.
─ Você ainda tem muito a me oferecer. Mas eu preciso que você esteja de acordo. Que seja algo consensual.

Ela balançou a cabeça com firmeza,
tentando se mover para longe.

─ Você é louco se acha que eu vou
aceitar qualquer coisa que você
proponha - ela cuspiu as palavras
com desprezo. ─ Jamais vou fazer
parte de algum jogo doentio seu.

Eu sorri. Era exatamente o que eu
esperava.

─ Isso é o que você diz agora. Mas
com o tempo, Daphne, você vai mudar de ideia. Eu vou te mostrar que, no fundo, você me entende. Que somos mais parecidos do que você gostaria de admitir. ─ Inclinei-me novamente, meus lábios perto de seu ouvido. ─ E no final, você vai me querer tanto quanto eu quero você.

Ela virou o rosto, tentando se afastar,
mas eu continuei ali, próximo, sentindo
seu medo e resistência.

─ Eu vou te quebrar, detetive. Mas será algo lento, controlado. E quando você finalmente ceder, será porque você quis. ─ Me afastei, observando sua expressão de repulsa e medo. ─ Você verá.

Daphne não respondeu, mas eu podia
ver o pânico crescendo em seus olhos.
Ela tentava manter o controle, mas
sabia que estava à mercê de algo
muito maior do que um simples
assassino. Eu estava jogando um jogo
que ela mal conseguia entender.

Caminhei até uma mesa próxima, onde alguns instrumentos estavam
dispostos. Peguei uma pequena faca,
girando-a entre meus dedos, apenas
para provocar uma reação dela. Seus
olhos seguiram o movimento da
lâmina, mas ela não disse nada.

─ Não tenha pressa, Daphne. Temos
tempo. E quando você estiver pronta,
quando finalmente aceitar o que eu
estou te oferecendo... então, e só
então, eu te libertarei.

Ela me lançou um olhar desafiador,
embora seu corpo tremesse
levemente.

─ Você nunca vai conseguir o que
quer de mim, Marcus. Nunca.

Sorri, satisfeito com sua resistência.
Ela não entendia ainda, mas no fundo,
eu sabia que conseguiria o que queria.
Não era questão de força física, mas
de controle. De desejo.

─ Veremos, detetive. Veremos. ─ Dei um passo para trás, a lâmina ainda girando entre meus dedos. O jogo mal havia começado, e eu tinha todo o tempo do mundo para fazer com que ela se rendesse. Não importava quanto tempo levasse. Eu era paciente. E no final, ela cederia.



sᴜsᴜʀʀᴏs ᴅᴇ ᴜᴍ ᴀssᴀssɪɴᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora