* Nao corrigido*
À manhã passa rápido e eu me encontro algumas vezes encarando o garoto, tentando por alguns segundos ver a cor dos olhos dele. Mas não tenho nenhum resultado. Até por que não quero ser fragada fitando ele como se minha vida dependesse disso. Em um certo ponto eu cedo e me viro para Gabriel.
- Pergunta estranha, você consegue ver a cor dos olhos do menino novo na banca do Aladim? - Falo baixo só para ele ouvir, ele ri antes de responder.
- Você gosta de pegar os garotos da Banca do lado né. - ele continua rindo, mas se mexe um pouco encarando a loja. - Se ele olhasse pra ca ficaria mais fácil.
-Eu só peguei uma pessoa e cogitei o Vitor, mas ele é menor de idade.
-Uma piranha consciente. - Nossa risada se mistura na banca e eu olho mais uma vez. - Minha visão é pessima, mas eu acho que é verde só me falta certeza.
- Que diferença faz a cor dos olhos?
-Sei la é um costume meu analisar a cor dos olhos dos outros, é poetico.
- Vai dizer que analisou os meus?
- Sim e o da Eduarda e eu prefiro os olhos dela. - Digo rindo, Eduarda é a namorada dele.
- Nunca reparei essas coisas, o que exatamente tem de poético nisso?
-Já percebeu que eu tenho olhos de gato? Minha pupila aumenta dependendo da situação, é como se meu olho ficasse completamente escuro. É poético poxa.
- Você é estranha isso sim.
- Eu sou escritora e artista é coisa nossa.
- É coisa de vocês mirar para um homem e não parar até ter ele?
- Eu acho que isso é coisa de mulher mesmo. Ou minha.
- Certo você descobre a cor dos olhos dele e depois?
- A eu tenho meus meios de conseguir um homem, mas primeiro eu preciso saber se é solteiro.
- E se não for?
- Ai eu choro em posição fetal e espero que terminem.
- Que pessimo, você nunca pensou isso de mim né?
-Não, eu jurava que você era gay na verdade.
- Só por que eu trabalho vendendo maquiagem?
-Não, você se comporta um pouco como um.
- Nossa obrigada. - Ele diz rindo e encara a banca do outro lado de novo. Eu viro meu rosto percebendo que o garoto encara de volta.
Olho no olho um para o outro e eu tenho quase certeza que é verde. Mas eu sou cega me viro para o Gabi.
- É verde não é?
- É muito claro, mas eu acho que sim um verde claro.
Foi o a primeira vez que nossos olhos se cruzaram, a primeira vez que notei ele me olhando. Eu deveria ter sustentado o olhar, provavelmente. Não sou dessas que paga uma de difícil, se eu quero eu vou atrás, faço meu jogo e consigo o que quero. É um ego do caralho, mas eu sempre consegui o que eu queria quando se tratava de relacionamento. Eu sei ter o que eu quero, mas também sei perder muito fácil. Ou eu enjoo da pessoa ou assusto ela com a intensidade que eu sinto tudo ao meu redor, uma bipolar sem um único tratamento é isso que eu sou. Sem contar o tdah, eu tinha tratamento quando morava na minha cidade, me consulto com psiquiatra dês dos dezesseis anos, me mudei para balneário com vinte e um. Eu tomava remédio no começo, mas se você conhece o nome Lítio sabe que ele engorda e foi o que aconteceu comigo. Preferi viver desequilibrada do que com mais de cinquenta quilos, pois eu ainda tenho problema de anorexia para lidar. Alem de hoje em dia eu comer e não ver a comida como um inimigo, engordar ainda é um problema, minha cabeça não sabe lidar muito bem com isso, então larguei o remédio. E fico esperando a próxima fase depressiva, eu nunca sei identificar se eu só estou neutra ou em hipomania. Fico pensando se as outras pessoas que tem a doença conseguem, eu acho que já desisti. Tenho meus meios para não entrar em depressão, tenho uma boa quantia de antidepressivo quando começo a me sentir mal e sem ânimo começo a tomar. Não façam isso em casa, nenhum medico recomenda e poderia dar muita merda. Até hoje não deu e eu espero que nunca aconteça.
Gabriel e eu continuamos na conversa até a Su e a Lu chegarem na loja, somos nós três geralmente. Gabi sai para almoçar e eu fico la conversando com elas, as lindas me conhecem bem o suficiente para notar que meus olhos vagam para a banca do lado algumas vezes. Não é que eu to encarando de mais, só que na ultima hora ele começou a encarar de volta e agora eu me sinto na obrigação de devolver os olhares. E é assim que o jogo começa.
-Hum, tem um garoto novo na banca do Aladim? - é a Su que pergunta.
Suelem é a risada desse lugar e a personificação de fofoca, sem contar que ela adora me apontar os caras gatos que andam nesse lugar, ela e a Lu que começaram com a ideia do Tiago, meu claro arrependimento, ele é um idiota que só serve pra entulho de lixo. Que infelizmente eu tive a capacidade de levar para cama, não vou detalhar, mas o claro macho escroto é ele. Graças a Su eu delirei e achei ele razoavelmente bonito, eu sou cega. Su tem luzes em seu cabelo escuro assim como os olhos castanhos, sua pele é morena e bronzeada, vinte e sete anos, tem um filho e é casada.
Lucielia é a mais sensata entre as três, mas mesmo assim não deixa de ser a brincalhona e a alegria que você precisa em um dia ruim, seus olhos são azuis e o cabelo comprido loiro com ondas, foi ela que me ensinou a cuidar do meu cabelo, ela tem essa coisa de mãe que caminha com ela. Nós três somos baixinhas, mas ela ganha e é encorpada essa vive de academia. As duas na verdade são. Eu que sou completamente desconexa aqui, mas elas fazem eu me sentir em casa nesse lugar. Não sei como seria sobreviver aqui sem elas.
- Sim tem, e sinceramente ele é gato. - Digo rindo e volto meu olhar para as duas. - Só me questionando a cor do olho dele, eu juro que é verde e o Gabi também.
- Ele é bonitinho, é bem sua cara mesmo. - A voz suave de Lu ecoa entre nós, as três começamos a rir.
- Você devia ir falar com ele e descobrir por conta a cor do olho dele. - Como sempre Suellem
- Ele é bonito de mais para eu dizer alguma coisa na cara dele.
-Eu acho que o olho dele é azul. - Diz Su encarando novamente a banca ao lado, quando me viro nossos olhares se cruzam novamente e tem um sorriso em seu rosto, pensa em um sorriso bonito.
- Não, é verde eu tenho quase certeza. - Digo voltando meu olhar para elas
- Vai lá e descobre, você não teve problema em fazer isso com aquele que não deve ser nomeado.- Su vê uma coragem em mim, que dessa vez eu não tenho.
- É diferente dessa vez, ele é bonito de mais para ser solteiro e se for é pior. - Meus olhos voltam para ele, que não está me encarando, e eu o admiro atendendo um cliente, eu já ouvi a voz dele essa manhã. E como o resto é como teclas de um piano sendo tocadas. - Ele é tão bonito que chega a doer.
- Ser fã de Taylor swift te deixa dramática. - Su diz rindo
- Eu sempre fui dramática e eu acabei de citar uma musica dela. - Meu sorriso cresce e eu continuo encarando ele.
- Tem uma baba caindo da sua boca sabia. - Dessa vez é a Lu quem fala rindo. - Os olhos dele são verdes e um verde claro.
- Certo verdes então. - Eu olhos para as duas que também estão encarando ele. E eu desvio o olhar. - Estamos parecendo três loucas encarando o garoto.
- Já descobriu o nome dele? - Su diz indo para traz da bancada de maquiagem aonde fica o caixa.
- Ainda não, eu ouvi o Vitor falar Guilherme em algum momento, mas não tenho certeza se foi para ele.
- Pergunta para o Vitor, certeza que ele vai falar. - Lu diz
- Ele vai falar e me explanar. Eu vou dar um jeito de descobrir. - Digo indo pegar minha bolsa. - Agora eu vou para casa almoçar, espero que a Amanda ainda esteja dormindo.
- Boa sorte. - As duas dizem juntas.
Saio da loja andando pelo corredor como se nada abalasse o meu mundo, minha confiança falsa passando por mim quando viro meu rosto de leve só para encarar aqueles olhos verdes mais uma vez e dessa vez tendo certeza que são verdes já que eles me encaram de volta, um sorriso se curva em meus lábios. Eu não digo nada enquanto nossos olhos travam uma batalha, deuses como eu odeio não ter eles para mim. Parece horas, mas são apenas segundos quando desvio o olhar e continuo meu caminho. O caminho para casa é um completo calor, bem vindo a praia, no verão minha pele odeia estar viva. Realmente espero que Amanda esteja dormindo isso geralmente acontece, fui embora mais cedo ontem com a desculpa de que eu precisava trabalhar e sei que ela vai ter muita coisa para me contar sobre o resto da noite, coisas que eu não quero ouvir. Por que a única coisa na minha mente é aquele maldito sorriso e aqueles olhos, eu sou a porra de uma mariposa sendo atraída pelo fogo.
Eu chego no apartamento, que está virado do avesso, ele não é grande a sala e a cozinha são um conjunto, primeiro a sala que segue um sofá cama preto e a tv na parede, tem um saco de pancadas antes de chegar na sacada, passo horas jogando minha raiva nele, a cozinha é para outro lado. Não é nada inovador, geladeira pia e fogão. Uma mesa que é colada na parede, a maquina de lavar roupa e o varal ficam um pouco mais a frente, junto com a porta que leva a outra sacada que enfim leva ao meu quarto. Não vejo Amanda então imagino que esteja dormindo. Eu não penso em comer ou qualquer coisa do tipo, simplesmente me jogo no colchão. Com meu celular na mão, trilho meu caminho para descobrir qualquer coisa sobre o garoto. Eu não sei o nome dele, mas estou realmente pensando que seja Guilherme, não lembro de ter mais alguém na loja quando Vitor falou. Seria otimo ter o Vitor no insta, mas não tenho, então começo a pesquisar pelo perfil do Tiago, não encontro nada de guilherme como seguidor, mas encontro o do Vitor. Eu nem sei se o nome dele é Guilherme e estou aqui pesquisando por ele. Queria dizer que foi difícil, mas não foi e acerto em cheio quando acho o perfil dele na barra de pesquisa dos seguidores do Vitor. Um ponto para mim, eu poderia dizer que descobri a cor dos olhos dele nas fotos, mas todas são em preto e branco. Os destaques são gatos, aparentemente ele tem três. Eu amo gatos e aparentemente ele ama gatos. Um ponto em comum. Eu não sigo, mas tiro print do perfil para não perder, eu sigo o Vitor para ficar menos visível quando eu seguir ele. Assunto fácil seria gatos, mas eu preciso de um storys pelo menos e seguir ele. Jogo meu celular no colchão e fito o teto. O que tem nesse garoto que me deixou assim, foi uma troca de olhares e um sorriso então por que eu estou boba, em nenhuma das fotos recente ele usa aliança, nas antigas ele usa, mas nas novas não, então vou imaginar que é solteiro.
Em algum momento eu pego no sono, um sono raso que qualquer coisa me acorda e o que me acordou foi ouvir um barulho no banheiro, ótimo Amanda acordou. Pego meu celular vendo que são duas da tarde, eu preciso voltar para a loja em uma hora, mas não estou disposta a conversar com Amanda agora, então eu tenho duas escolhas, voltar a dormir e fingir que eu não existo ou voltar para a loja. Nenhuma envolve almoçar o que eu deveria fazer já que meu estômago grita por comida, certo eu preciso cozinhar.
Me arrasto do quarto para cozinha, eu não sou a pessoa mais fitness do mundo, não me alimento direito, tipo hoje a preguiça me toma e eu decido fazer um miojo, da maneira simples. Meu tempo na cozinha é rápido e é tempo o suficiente para evitar Amanda, eu sinto ela saindo do quarto quando estou voltando para o meu. Pego meu celular e fuço meu whats vendo mensagens da minha mãe, é incrível que agora que eu sai de casa ela me mande mensagem ou passe mais tempo conversando comigo, mas eu ignoro todas elas. Não estou com um pingo de vontade de lidar com isso agora. Meus amigos da minha cidade ainda conversam comigo, mas eu geralmente evito. Briguei com o Hiago semana passada por besteira, mas eu simplesmente não aguentava mais toda essa história que eu abandonei ele e vim para outra cidade. Eu vim correr atrás dos meus sonhos é tão difícil entender isso e não me julgar.
Eu odeio minha cidade odeio o que ela representa para mim, meus traumas, meu passado, minha familia, amigos falsos, relacionamentos péssimos. Tudo naquela cidade é um passado que eu não quero encarar. Precisava fugir encontrar um novo ar uma nova vida, uma nova eu. Mas a realidade é que eu não sei como encontrar uma nova eu. Não sei deixar de ser egotista, não sei como não manipular a citação para sair da forma como eu quero, não sei como não ser amaldiçoada. Por que é assim que eu me sinto, como se existisse uma maldição a minha volta e eu nunca deixe de ser fria e calculista. Acho que apenas aceitei meu destino. As vezes eu só procuro alguém que consiga ver através da mascara e não se assuste, que fique mesmo sabendo o monstro que vive ali dentro. Amanda não conhece essa pessoa, ela conhece a Beatriz disposta a ser amigável, que é fã de Taylor Swift e que passa mais tempo lendo do que sendo sociável. É isso que ela sabe sobre mim, nada mais e nada menos. É o que todo mundo sabe sobre mim.
Mas ninguém conhece a voz que habita dentro de aqui dentro, aquela que julga o mundo ao meu redor, a que controla tudo da forma que quer, a mentirosa patológica, a manipuladora. Deixo as pessoas terem uma visão boa até que eu me canse. E no momento por mais cansada que eu esteja de segurar essa mascara na frente da Amanda, eu ainda não achei um lugar para eu me mudar e voltar para a minha solidão que eu tanto amo.
Amanda e eu temos um amigo em comum, ela conheceu no curso de teatro e bem ele é legal. Diferente da Amanda, Eduardo entende um pouco da minha pessoa, mas ainda faz suas chantagens emocionais para eu sair com eles, quando vou embora mais cedo ele é o único que não tenta me segurar, sempre se preocupa comigo. Mas é a mesma coisa, se eu me mostrar a Beatriz fria que não se importa com o mundo e que por ela ele poderia explodir. Ele continuaria sendo meu amigo? Inclusive não, nunca existiu nada entre eu e Eduardo pois o próprio é Gay. E eu já ajudei ele como namorado dele e tudo mais.
Eu geralmente sou a garota de um noite só, mais ou menos uma semana é o suficiente para eu enjoar e fugir. Meus relacionamentos sempre acabaram com eu enjoando das pessoas ou quando eu deixo a mascara cair e não gostam do que vêem. Poucas pessoas me viram sem mascara, a maioria não estava disposta a continuar e quem esteve disposto de alguma forma eu arruinei tudo. Eu amo cavar minha cova e pular, podemos chamar de auto sabotagem. Mas eu fico melhor sozinha, consigo entender meus paradigmas e as entrelinhas da minha história, cada coisa que me transformou no que sou hoje.
Existia uma época que eu era uma boa garota a filha perfeita do papai, a que não da problema e tem notas altas, eu era o exemplo da família, o problema é que ser essa pessoa para meu pai e para o mundo la fora, estava me matando. Me tornei anorexia já que meu namorado queria que eu fosse perfeita, me tornei maniaca por limpeza já que era o único jeito de deixar minha mãe feliz. Nunca funcionou muito ser essa pessoa, eles nunca ficavam satisfeitos, sempre queriam mais. E eu não tinha mais pra dar. Eu me rebelei, comecei a fumar e beber, aos dezessete comecei a usar drogas, essas coisas viravam meu refugio enquanto aprendia ser eu e não o que eles queriam. O problema foi que eu me tornei o pior, de aluna boa eu fui para reprovação, matei aulas de mais para ter uma nota boa e ainda teve as faltas. Me mudaram de colégio, era o que eu queria. Mas lamento informar isso só alimentou o monstro que vive na minha cabeça, primeira tentativa suicida, trinta e sete cortes no braço, e uma boa gama de medicação com vinho. Infelizmente sobrevivi, e o monstro na minha cabeça se tornou mais forte. Me comendo viva, me matando pouco a pouco. E lá estava eu no psiquiatra tomando antidepressivos que me levavam direto para hipomania, mas ele não sabia disso. Soube meu diagnóstico com o tempo, mas eu não falava pra ele, na verdade ele demorou para chegar lá e quando chegou. Ainda errou o tipo, mas acertou q medicação. E isso começou a matar o monstro dentro de mim. Eu era estável, mas não sentia absolutamente nada. Eu bebia para sentir, usava droga para sentir, cortava meu braços e nada. Uma hora eu desisti e foi quando eu me mudei. Larguei o remédio dois meses depois que eu cheguei. E o monstro voltou mais forte, ele não me deixa ser feliz, ele não gosta que eu coma, ou que faça amigos. Não me deixa socializar, o único momento que eu me livro dele é quando leio, quando coloco meus fones de ouvido e o mundo some. Quando fico na loja conversando com as meninas. As vezes eu passo do meu horário só para ficar lá distraindo minha cabeça. E é exatamente o que eu decido fazer, levantar da cama e ir direto para a loja eu mal toquei no miojo, mas foi o suficiente para a fome passar.
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Nosso reencontro
RomanceEsse livro é para aqueles que precisaram assim como a Taylor ressegnificar Reputation. É para aqueles que tiveram seu quase ultimo amor. É uma história minha, que eu vive na pele, sobre uma menina adulta encarando a vida real, mudando de cidade e co...