Capítulo 4: O Peso da Coroa e o Fardo do Coração

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Após aquela noite no jardim, Jungkook percebeu que algo dentro dele estava se partindo e, ao mesmo tempo, se construindo. Nos dias que se seguiram, ele continuou com seu exterior firme e impiedoso, mas sua mente estava constantemente voltada para Jimin. O jovem camponês havia se tornado uma presença inquietante em seus pensamentos, como uma canção que ecoava, mesmo quando ele tentava ignorá-la.

Ainda assim, Jungkook recusava-se a demonstrar qualquer fraqueza diante de seus conselheiros e súditos. Ele era o príncipe de Eryndor, e sua força era o que mantinha o reino em ordem. Mas, por baixo daquela máscara, ele sentia um turbilhão de emoções que, até então, nunca havia experimentado. Como ele poderia, afinal, permitir-se ter tais sentimentos? Ele era o herdeiro do trono, e laços emocionais eram perigosos.

Enquanto isso, Jimin continuava com suas tarefas diárias no castelo. Apesar do trabalho pesado, ele estava cada vez mais à vontade entre os outros criados, que o consideravam uma alma gentil e iluminada. Jimin fazia amigos facilmente, distribuindo sorrisos e ajudando sempre que alguém precisava. A gentileza dele era como uma brisa de esperança que aliviava o peso que muitos carregavam.

Os rumores sobre a relação entre o príncipe e o camponês começaram a se espalhar silenciosamente entre os servos e, logo, pelos corredores do castelo. Afinal, todos tinham notado o olhar com que Jungkook seguia Jimin, mesmo que ele próprio não o admitisse. Muitos comentavam que o príncipe nunca demonstrara interesse por alguém assim, e o fato de ele convocar um camponês para tarefas tão próximas dele alimentava as especulações. A curiosidade era grande, e aqueles que ousavam se aproximar do assunto, apenas cochichavam em segredo, atentos a qualquer sinal do príncipe.

Uma tarde, enquanto estava na biblioteca revisando documentos do reino, Jungkook foi interrompido por seu conselheiro mais antigo, Lorde Han, um homem sábio e astuto que o conhecia desde criança. Com um olhar perspicaz, ele observava o príncipe, que, claramente, estava mais disperso do que de costume.

"Algo o preocupa, alteza?" Lorde Han perguntou, em um tom cuidadoso.

Jungkook fechou o documento e suspirou, mantendo uma expressão neutra. "Por que pergunta, Lorde Han? Tudo está em ordem."

O conselheiro ergueu uma sobrancelha, sorrindo levemente. "Apenas que... ultimamente, parece que seus pensamentos estão em outro lugar. Não é comum que o nosso príncipe perca o foco, e alguns rumores têm chegado até mim. Rumores sobre um certo camponês que ganhou seu interesse."

Jungkook imediatamente endureceu a expressão, sentindo o sangue ferver ao ouvir as palavras do conselheiro. "Rumores são rumores, Lorde Han. Eu sou o príncipe, e ninguém tem o direito de questionar minhas decisões."

Lorde Han assentiu calmamente, mas manteve o olhar firme no príncipe. "É claro, alteza. Mas apenas lembre-se de que, para um rei, as alianças devem ser sempre escolhidas com cautela. Corações são frágeis, e um príncipe deve saber onde está o seu."

Após a saída de Lorde Han, Jungkook sentiu o peso de suas palavras como uma pedra no estômago. Havia verdade no que o conselheiro dizia; ele estava se permitindo ser vulnerável de uma forma que nunca havia sido antes, e isso o assustava.

Decidido a colocar um fim nas dúvidas que cresciam em sua mente, Jungkook ordenou que Jimin fosse trazido até ele na biblioteca. Precisava confrontá-lo, precisava entender o que o atraía tanto naquele camponês que ousava desafiá-lo com sua paciência infinita e seu sorriso genuíno.

Minutos depois, Jimin entrou na biblioteca. Ele estava vestido com suas roupas simples de servo, mas ao ver Jungkook ali, parado em meio a estantes de livros e pergaminhos, ele sentiu o peso da realeza que o príncipe exalava. Jimin fez uma reverência respeitosa, mantendo a serenidade habitual em seu rosto.

"Alteza," ele disse, levantando-se.

Jungkook o observou em silêncio por um momento, tentando encontrar as palavras certas. O príncipe, que sempre fora firme e decisivo, agora se via hesitando, como se estivesse lidando com algo que desconhecia completamente.

"Você sabe por que eu o trouxe ao castelo?" Jungkook finalmente perguntou, a voz baixa e controlada.

Jimin manteve o olhar firme no do príncipe, mas havia uma suavidade em seus olhos que revelava compreensão. "Sei que foi uma forma de me testar, alteza. De provar a si mesmo que eu cederia ao peso das suas ordens. Talvez até que eu demonstrasse o medo que muitos sentem na sua presença."

Jungkook apertou os punhos, sentindo o coração bater mais rápido. "E por que você nunca demonstrou medo, Jimin? Por que continua sorrindo? Por que você me desafia dessa maneira?"

Jimin respirou fundo antes de responder, seu tom calmo, mas sincero. "Porque eu vejo algo em você que talvez os outros não vejam, alteza. Eu vejo que, por trás da sua dureza, há uma alma que deseja algo além do poder. Eu acredito que, no fundo, você deseja ser compreendido, talvez até amado."

As palavras de Jimin atingiram Jungkook como um golpe inesperado. Ele queria retrucar, dizer que aquilo era um absurdo, que ele não precisava de nada além de sua força e do respeito dos súditos. Mas, pela primeira vez, ele não conseguiu responder.

Em vez disso, ele se aproximou de Jimin, tão próximo que podia sentir o calor que emanava do jovem camponês. Seus olhos escuros fixaram-se nos de Jimin, que sustentou o olhar sem medo, mas com uma vulnerabilidade que era ao mesmo tempo desarmadora e reconfortante.

"Você fala como se me conhecesse", sussurrou Jungkook, a voz quase rouca de emoção contida.

"Talvez porque o conheça, alteza. Ou, pelo menos, porque vejo aquilo que você se recusa a mostrar ao mundo."

Jungkook sentiu seu coração se acelerar ainda mais. Ele não sabia como responder a isso, não sabia o que fazer com os sentimentos conflitantes que se agitaram em seu peito. Sentia raiva por alguém ter quebrado sua armadura, mas ao mesmo tempo, uma sensação que ele jamais havia experimentado antes — uma paz, uma compreensão.

Impulsivamente, Jungkook ergueu a mão e a levou ao rosto de Jimin, tocando-lhe o rosto de forma suave, quase hesitante, como se temesse que o camponês desaparecesse como um sonho. Jimin não se afastou, mas fechou os olhos, deixando-se guiar pelo momento.

A proximidade entre eles era sufocante e ao mesmo tempo libertadora. Por um instante, Jungkook esqueceu seu título, suas responsabilidades e os olhos vigilantes de seu conselheiro e súditos. Havia apenas ele e Jimin, duas almas de mundos distintos, mas conectadas por algo inexplicável.

"Eu não posso... me permitir sentir isso", murmurou Jungkook, retirando a mão e recuando, como se tivesse acabado de acordar de um sonho perigoso.

Jimin abriu os olhos, observando Jungkook com compreensão. Ele sabia que aquele momento, por mais breve que tivesse sido, tinha quebrado algo dentro do príncipe. Ele sabia que o caminho que tinham à frente seria difícil, mas, mesmo assim, Jimin não recuaria.

"Eu sei, alteza. Mas não há nada de errado em permitir-se sentir. Todos somos humanos, afinal."

Jungkook soltou um suspiro profundo, desviando o olhar. Ele não sabia como continuar, como lutar contra aquilo que sentia e ao mesmo tempo proteger o que sempre valorizou. Mas, de alguma forma, ele sabia que, independentemente das dificuldades que enfrentariam, Jimin havia se tornado mais do que um mero servo aos seus olhos.

"Você é o maior enigma que já encontrei, Park Jimin", disse Jungkook, em tom baixo.

Jimin apenas sorriu, um sorriso leve e sincero. "E você, alteza, é uma tempestade que ainda não decidiu se quer destruir ou trazer a chuva que cura."

Com essas palavras, Jimin fez uma reverência e se retirou, deixando Jungkook sozinho com seus pensamentos. O príncipe observou-o desaparecer pela porta, sentindo que, pela primeira vez, alguém havia realmente o visto.

Ele estava no limiar de algo que nunca havia considerado possível — uma luta entre a razão e o coração, entre o peso da coroa e o fardo de sentimentos que ele ainda não sabia se deveria acolher ou temer.

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