Capítulo 3: O Fogo e a Brisa

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Os dias de Park Jimin no castelo de Eryndor se estendiam em uma rotina que, aos olhos dos outros, pareceria insuportável. O príncipe Jungkook não o deixava em paz, enviando-o para as tarefas mais árduas e humilhantes, esperando ver sua resistência se quebrar. Mas Jimin, com uma paciência quase divina, cumpria cada ordem com uma leveza que deixava o príncipe perplexo e, secretamente, intrigado.

Jimin, por outro lado, começava a entender o temperamento de Jungkook. O príncipe era uma tempestade, sempre cercado por uma nuvem de amargura e desconfiança, como se o mundo fosse um lugar frio e hostil, onde apenas o poder importava. Contudo, havia algo além da crueldade nos olhos de Jungkook, algo que Jimin não conseguia ignorar — uma sombra de solidão, como se, em sua posição elevada, o príncipe estivesse sempre isolado.

Certa tarde, enquanto Jimin estava no estábulo alimentando os cavalos, ele ouviu o som inconfundível das botas de Jungkook batendo contra o chão de pedra. O príncipe tinha o hábito de aparecer de repente, sem aviso, como se estivesse sempre à espreita, esperando por uma oportunidade para testar Jimin. Dessa vez, porém, havia algo diferente na sua presença.

Jungkook entrou no estábulo, os olhos escuros fixos em Jimin, observando seus movimentos com atenção. O ar entre eles parecia denso, carregado de uma tensão invisível que nem mesmo o príncipe parecia compreender.

"Eu te mandei limpar os estábulos, não alimentar os cavalos", disse Jungkook, a voz baixa, mas com um tom incisivo.

Jimin, sem parar o que fazia, lançou um breve olhar a Jungkook e sorriu suavemente. "Esses cavalos trabalham tanto quanto qualquer um de nós, alteza. Eles merecem ser bem cuidados."

Jungkook franziu o cenho, sentindo a irritação crescer mais uma vez. Não era a primeira vez que Jimin respondia a suas ordens com uma suavidade desarmante. Ele não entendia por que não conseguia dobrar aquele jovem camponês. Qualquer outra pessoa teria se curvado ou caído em desespero, mas Jimin não. Sua persistência quase pacífica era um mistério que Jungkook ainda não havia decifrado.

"Você fala como se estivesse em posição de decidir o que é justo ou não," retrucou o príncipe, dando alguns passos em direção a Jimin. "Mas se esquece que aqui, quem decide sou eu."

Jimin parou o que estava fazendo e se virou completamente para Jungkook, com o rosto sereno, mas os olhos brilhando com uma força interior que o príncipe não conseguia ignorar. "Eu nunca quis desafiá-lo, alteza. Apenas acredito que gentileza não é um sinal de fraqueza."

Essa resposta fez o sangue de Jungkook ferver. Ele não suportava ouvir palavras que colocavam em cheque sua maneira de ver o mundo. Sem pensar duas vezes, agarrou o braço de Jimin com força, puxando-o para mais perto. "Você acha que sabe algo sobre o mundo? Sobre poder? Você não faz ideia do que é governar, do que é viver sem confiança em ninguém!"

Jimin sentiu o aperto firme no braço, mas seus olhos não se desviaram dos de Jungkook. Ali, tão próximos, o camponês podia ver de perto a dor oculta por trás da máscara de crueldade do príncipe. E, mais uma vez, Jimin não demonstrou medo. Em vez disso, ele falou com uma tranquilidade que contrastava com a agressividade de Jungkook.

"Eu não sei o que é governar, alteza. Mas sei o que é ser humano. E todos nós, seja em um trono ou em uma vila, temos a capacidade de sentir e de sofrer. Talvez você tenha esquecido disso."

As palavras de Jimin acertaram Jungkook como uma lâmina. Ele o soltou, recuando um passo, visivelmente abalado. Ninguém nunca ousava falar com ele daquela maneira, e, o mais perturbador, era que as palavras de Jimin não eram desrespeitosas, mas sim verdadeiras. Por um breve momento, Jungkook sentiu sua armadura emocional rachar, expondo um vazio que ele mantinha escondido há anos.

Sem dizer mais nada, o príncipe virou as costas e saiu do estábulo com passos rápidos, deixando Jimin para trás, com o coração acelerado. Jimin sabia que havia tocado em uma ferida profunda, algo que talvez explicasse a maneira como Jungkook agia. Mas ele também sabia que, quanto mais se aproximava da verdade por trás da máscara do príncipe, mais perigosa se tornava a situação.

Nos dias que se seguiram, Jungkook manteve distância de Jimin. Ele estava confuso, dividido entre o desejo de esmagar aquele jovem camponês e a crescente curiosidade sobre o que Jimin representava. Suas palavras continuavam ecoando na mente de Jungkook, como uma melodia suave e incômoda que ele não conseguia afastar.

Certa noite, durante um banquete no castelo, enquanto a nobreza do reino se reunia para celebrar uma aliança comercial recém-formada, Jungkook estava presente fisicamente, mas sua mente vagava. Ele observava os rostos ao seu redor, cheios de sorrisos falsos e risadas vazias. Cada um daqueles nobres estava ali para obter algo — poder, influência, ou a atenção do príncipe. Nada era genuíno, e isso o irritava profundamente.

E então ele se pegou pensando em Jimin novamente.

"Alteza, está tudo bem?" perguntou um dos conselheiros de Jungkook, percebendo sua distração.

Jungkook, mantendo sua expressão fria, apenas acenou com a cabeça. "Sim, tudo está... perfeito", respondeu, embora soubesse que nada estava realmente bem. O vazio dentro dele parecia mais palpável do que nunca.

Depois do banquete, em vez de retornar aos seus aposentos, Jungkook encontrou-se vagando pelos corredores do castelo até chegar à ala onde os criados dormiam. Ele não sabia ao certo por que estava ali, mas sentiu uma necessidade inexplicável de encontrar Jimin. Talvez fosse para confrontá-lo novamente, ou talvez... para entender o que aquele jovem simples despertava dentro dele.

Jungkook encontrou Jimin do lado de fora, sentado sob uma árvore no pequeno jardim dos servos, olhando para o céu estrelado. A cena era tranquila, quase poética, e pela primeira vez em muito tempo, Jungkook hesitou antes de se aproximar. Ele observou Jimin por alguns segundos, admirando a serenidade que o camponês irradiava, algo que o próprio príncipe nunca havia conhecido.

Finalmente, Jungkook quebrou o silêncio. "O que você faz aqui a essa hora?"

Jimin virou-se devagar, surpreso ao ver Jungkook ali, mas não intimidado. "Apenas... aproveitando a paz da noite. Às vezes, é o único momento em que o mundo parece parar."

Jungkook sentiu-se desconcertado pela simplicidade da resposta. Ele se aproximou, parando ao lado de Jimin, mas não se sentou. Ficou ali, olhando para as estrelas por um momento, antes de soltar um suspiro pesado.

"Você realmente acredita que existe paz neste mundo?", perguntou Jungkook, a voz mais baixa do que de costume.

Jimin sorriu suavemente, seus olhos voltados para o céu. "A paz não está no mundo, alteza. Ela está aqui..." Jimin levou a mão ao peito, indicando o próprio coração. "Mesmo nas maiores tempestades, se você tiver paz dentro de si, o caos lá fora não pode te atingir."

Jungkook ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Pela primeira vez, ele não sentiu a necessidade de rebater ou provar algo. Em vez disso, ele se permitiu pensar no que Jimin dizia. Talvez, no fundo, ele soubesse que estava sempre lutando contra um caos interno, um vazio que nem todo o poder do mundo poderia preencher.

E naquele momento, sob as estrelas, algo silencioso e profundo começou a mudar no coração do príncipe.

O fogo de Jungkook e a brisa calma de Jimin começavam a se encontrar, mas o que isso significaria para o futuro dos dois ainda estava envolto em mistério. Contudo, uma coisa era certa: nenhum deles sairia ileso dessa colisão.

O Principe Cruel  Onde histórias criam vida. Descubra agora