CAPITÃO NASCIMENTO
Pedir ajuda a uma garota de 18 anos com um ferimento... droga, eu tinha um hospital ao lado de casa, uma enfermaria no batalhão. Só podia estar arrumando uma desculpa para falar com ela, o que é estranho demais. Eu, com o dobro da idade dela, fazendo o maior esforço para ficar perto de uma garota que nem conheço. Porra, eu tenho idade para ser o pai dela. Ela estuda com a minha filha, e eu nem sei o sobrenome dela; eu simplesmente quero ela perto. Definitivamente, a falta de sexo perturba a mente de um homem. Fazem meses que eu não sei o que é ter uma relação com a mãe da Giovanna. Ela simplesmente me ignora, diz que não precisa da minha companhia e muito menos dos meus toques. Eu realmente não sei o que ainda estou fazendo com ela. Tento me enganar dizendo que é pela Giovanna, mas acredito que seja pelo conforto de não ter que mover céu e terra para fazer um divórcio. Sei que Heloísa infernizaria a minha vida, mas, pensando bem, já estou vivendo um inferno.
Eu não a amo mais, e sei que ela também não me ama. Talvez essa nossa relação sem afeto, sem amor e sem carinho esteja resultando no estado em que a Giovanna está, maltratando as pessoas e julgando corpos como se fosse a pessoa mais perfeita do mundo. Pode ser minha filha, mas não admito que ela maltrate alguém.
Penso em como conversar com Heloísa sobre nossa filha. Tenho quase certeza de que ela não me ouviria; diria que estou delirando, criando problemas onde não existem. Quando percebo, já estou entrando no estacionamento do quartel. Nem vi o tempo passar, e muito menos o caminho, o que se torna um perigo. A cada dia fica mais difícil lidar com esses tipos de problema, mas, como capitão, não posso deixar isso transparecer. Eles obedecem ao que eu falo, e, se eu vacilar, posso colocar todos em perigo.
Ao descer do carro, vejo que Matias já está me esperando. Pela cara preocupada, nada está indo bem.
- Bom dia, Mathias. Que cara é essa? - pergunto enquanto ando em direção à mesa de reunião.- Bom dia, Capitão. Queria dizer que achamos o vagabundo daquele traficante. - Ao ouvir isso, senti uma felicidade tremenda. É hoje que eu quebro alguns ossos. Posso descontar um pouco da minha raiva e do meu desapontamento.
- Estou pronto para macetar aquele filho da puta. - respondi com sangue nos olhos. Mal entrei e já tivemos que sair, agindo rápido para pegá-lo sem dar chance de fuga. Ao entrar no carro, passo os comandos:
- Neto, você vai por trás. Mathias, só atira quando eu der a ordem. Não quero que matem ele, porque quem vai acabar com a vida desse merdinha sou eu. - Minha boca salivava de ódio.
- Entendido, Capitão. - respondeu Neto prontamente.
- Mathias, observe cada centímetro daquele lugar; desta vez, não quero nenhuma criança baleada. - falei rapidamente. - Neto, espere o sinal do Matias para entrar. Não faça nada nem um segundo antes, entendeu?
- Entendido, Capitão. - respondeu novamente.
O sangue fervia nas minhas veias. Precisava disso. Ia quebrar os ossos daquele vagabundo que estava me tirando o sono há semanas. Ele faria sofrer por cada criança que carregou droga naquele morro, por cada pai de família morto em assaltos por esses bandidos.
Ao chegarmos ao morro, dei o sinal para que a equipe subisse em silêncio, pegando ele de surpresa. Vi o primeiro vagabundo armado, mirei bem devagar e acertei a cabeça do desgraçado. Mais um CPF cancelado. Mas eu só ia parar quando pegasse aquele marginal. Corremos, atentos a cada detalhe, até que avistei o traficante tentando fugir. Mathias tinha uma visão melhor que a minha, então dei o sinal para atirar na perna dele. Pronto, dito e feito; ele caiu, gritando de dor, um som que era como música para os meus ouvidos. Eu adorava ver ele sofrer. Quando cheguei até ele, vi sua cara de desespero. Todo valentão quando estava armado, mas agora, sangrando e sentindo dor, chorava igual uma mulherzinha.
- Finalmente te achei, seu filho da puta. A partir de hoje, você não vai colocar mais nenhuma criança no crime, vagabundo. - sorri, satisfeito, como se tivesse acabado de ganhar um troféu em um jogo bem disputado.
Comecei a socá-lo, chutando e esmurrando, sentindo meus punhos esmagarem os ossos do seu crânio. O olhar dele, implorando piedade, era uma piada para mim. Aproximei-me do ouvido dele e sussurrei:
- Quer uma 12 ou uma 38? Pode escolher, hoje estou bonzinho. - disse, enquanto olhava para o rosto deformado dele.
- 38, senhor, e no peito. - respondeu ele, agonizando.
- Ah, você ainda acha que está no direito de escolher? Matias, traga a 12; desta vez, vai ser na cara.
- Por favor, senhor, não na cara, para não estragar o velório. - gargalhei. A piada mais engraçada que já ouvi: um vagabundo querendo escolher como ia morrer.
- Você não pensou em estragar o velório dos pais que perderam os filhos em trocas de tiro, não é? - cuspi na cara dele e, olhando firme, dei a ordem: - Mathias, caveira!
Assim que virei as costas, ouvi o som do disparo. Sabia que tinha treinado ele bem.Descemos e voltamos para a viatura. Meu coração estava um pouco mais leve, com a sensação de dever cumprido. Menos um na rua, mas meu trabalho não acaba por aqui. Cada vez que você mata um, nascem três, e eu vou adorar acabar com cada um deles.
***
Ao chegar em casa, vejo Giovanna sentada no sofá com Heloísa, e o sangue ferve nas minhas veias ao lembrar da forma como ela tratou Soraia.
- Heloísa, você sabia que sua filha está tratando as pessoas mal só porque o corpo delas é diferente? - perguntei, com desprezo no olhar.
- Pai, como assim? O que você está falando? - disse Giovanna, se fazendo de desentendida.
- Cala a boca, Giovanna. Você sabe exatamente o que estou falando. Conheci sua colega. Ela estava debaixo do sol, esperando para fazer um trabalho com você, e você a enganou, fez ela ficar ali esperando enquanto estava, sabe-se lá fazendo o quê, com as suas amigas. - respondi, apontando o dedo na cara dela.
- Eduardo, olha a forma como está falando com nossa filha! - disse Heloísa, levantando do sofá.
- E você é outra mesquinha. Criou ela assim. Eu ensinei a ser uma boa pessoa, mas você só liga para bolsas e roupas caras. Se engordar 600 gramas, fica louca, falando de dietas. Claro que ela ia se espelhar em alguém. Você é a figura feminina dela. - respondi, cheio de ódio. - A partir de hoje, não vai mais sair com seus amigos para o shopping até melhorar suas atitudes.
Não consegui ficar mais tempo em casa. Peguei as chaves novamente e saí. Não posso ficar no mesmo ambiente que elas. Preciso dar uma volta antes que eu cometa uma besteira.
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Corações em Combate
FanfictionAo se mudar para o Rio de Janeiro, Soraia González, uma jovem de dezoito anos, vê sua vida se transformar completamente. Deixando para trás uma infância marcada por desafios, ela inicia sua jornada em busca do sonho de se tornar advogada, impulsiona...