Ciúmes

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Eu não conseguia dormir, pois só podia pensar em como foi bom aquele beijo. Eu estava totalmente perdida, sem entender como cheguei a beijá-lo ontem. Seus lábios eram tão macios quanto bolas de algodão; era como se eu estivesse pulando entre as nuvens, como se o mundo tivesse parado para que eu pudesse viver aquele momento.

Levantei-me e fui comer alguma coisa, caminhar pela casa para tentar relaxar.

— Oi, filha, está tudo bem? — perguntou minha mãe, andando pela casa.

— Tudo sim, mãe. E você? Por que está acordada até essa hora? — perguntei enquanto pegava um pedaço de bolo.

— O Fred está estranho, filha, mais preocupado que o normal — disse ela, enquanto pegava um copo de leite.

— Deve ser o cansaço, mãe — respondi rapidamente.

— Deve ser... Por que você ainda está acordada? — ela sorriu. — Paquerou alguém ontem?

— Mãe, não se diz mais "paquerar" — dei uma risada. — Mas sim, digamos que fiquei com uma pessoa.

— E é alguém que você já queria "ficar"? — disse ela, fazendo aspas com os dedos. Dei uma risada sincera.

— Sim, mãe. Na verdade, eu nem sabia direito que queria ficar com ele, até ficar — disse, sorrindo.

— Você usou camisinha, né? — perguntou ela com uma cara assustada.

— Mãe, relaxa. Eu ainda sou virgem. Quando acontecer, eu vou te contar — sorri discretamente.

— Tá bom, cuidado, viu? Eu te amo. Vou deitar — disse ela, depositando um beijo na minha cabeça.

— Também te amo — sorri e fiquei ali pensando nele.

***


Acordei com o celular tocando e, quando vi quem era, meu coração disparou, quase saiu pela boca. Era o Eduardo me ligando.

— Alô? — disse assim que atendi.

— Olá, Soso, tudo bem? Está a fim de almoçar comigo? — perguntou ele diretamente.

— Claro, Edu, vou adorar — respondi de prontidão.

— Passo aí ao meio-dia. Beijo — disse ele, desligando o celular.

Comecei a pular e gritar de felicidade. Logo apareceram as duas no quarto, Mamãe e Luiza, querendo saber o que havia acontecido. Contei que iria sair para almoçar com o Edu, e as duas ficaram felizes. Fico pensando qual seria a reação da minha mãe em saber que estou indo almoçar com um cara vinte anos mais velho que eu. Ela iria surtar.

Me arrumei de forma básica e elegante, pois não sabia onde iríamos, e é melhor estar bem arrumada e ser desnecessário do que não me arrumar e precisar estar minimamente apresentável.

Exatamente ao meio-dia, recebi a mensagem de que ele estava na frente do prédio e pediu para que eu descesse. Logo desci e vi o carro dele parado, todo preto e com insulfilm. Meu coração disparou, a vontade de sair correndo e voltar para casa era gigantesca, até porque era o meu primeiro date. Nunca fui convidada para almoçar com algum cara.

Respiro fundo e entro no carro. Logo sinto o perfume dele; foi como um calmante para mim, me deixando tranquila num piscar de olhos.

— Você está linda — disse ele sorrindo.

— Obrigada, você está muito lindo também — respondi, ficando muito vermelha.

Eduardo se aproximou, ficando cada vez mais perto, e logo pude sentir o melhor cheiro possível: o de menta, o cheiro do seu hálito. Em questão de segundos, senti seus lábios nos meus. Meu rosto queimava de vergonha, e minhas mãos suavam. Um beijo gentil e delicado, como eu nunca havia sonhado.

Fomos até um restaurante mais afastado e nos sentamos. Ficamos conversando sobre tudo: comida, filmes favoritos, jogos, presepadas. Falamos sobre o BOPE, em como era difícil e perigoso trabalhar lá. Foi uma conversa tranquila e confortável. Ficamos ali até pedirmos a conta, já que ele teria que trabalhar mais tarde. Assim que a conta chegou, ouvi uma voz conhecida vindo em nossa direção.

— Eu não acredito que te encontrei aqui! — disse Guilherme, sorrindo e vindo me abraçar.

— Guilherme! Como você está aqui? Que bom te ver! — disse, indo abraçá-lo.

— Eu sou o dono do lugar, agora você tem entrada VIP aqui — disse ele, rindo.

— Obrigada — disse, rindo. — Esse é o Eduardo, meu... — não soube o que completar.

Assim que me dei conta, olhei para Eduardo e ele estava com a cara extremamente fechada, como se fosse matar o Guilherme ali mesmo.

— NAMORADO — disse Eduardo, de forma ríspida.

Sua mão apertava a de Guilherme com muita força, o que era nítido. Guilherme não abaixou a cabeça e o encarou de volta, como se os dois tivessem travado uma briga de ego.

— Bom, acho que já devemos ir — disse, tentando tirar a tensão do ar. — Foi bom te ver, Gui, até mais.

Segurei a mão de Eduardo e fomos até o carro em silêncio. Minha cabeça estava a milhão, tentando processar tudo o que havia acontecido: como encontrei o Guilherme, como o Edu ficou tão nervoso. Assim que entramos no carro, ele bateu com força no volante, o que me fez dar um pulo no banco.

— Eu não gostei daquele cara, ele é um merdinha — disse ele, quase em um rosnado.

— Você nem conhece ele, do que está falando? E que história é essa de NAMORADO? — perguntei, tentando assimilar tudo.

— Não vou deixar esse filho da puta perto de você! — ele bufava com ódio no olhar.

— Eduardo, você é casado. Eu nem deveria estar aqui, e você não deveria estar desse jeito — disse, colocando a mão em seu ombro.

— A partir de agora, você é minha mulher e não quero saber de nada. Porra, eu vou matar aquele desgraçado, ele encostou em você! — Fiquei nervosa com o tom de voz dele, um turbilhão de sentimentos me invadiram.

— E-eu sou sua? — perguntei, gaguejando.

— Só minha! Entendeu? — disse ele, olhando no fundo dos meus olhos.

— S-sim, entendi — senti meu corpo perder a força, como se alguém tivesse aplicado a melhor droga nas minhas veias.

Chegamos em casa e me despedi. Dessa vez, o beijo dele continha ódio, o que o deixou mais gostoso do que nunca. O seu cheiro ficou grudado em minha roupa.

Corações em CombateOnde histórias criam vida. Descubra agora