Capítulo 4: Ressacas e Revelações

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Eu acordei com a luz do sol invadindo o quarto, um lembrete claro de que o dia estava em plena atividade enquanto eu ainda estava presa à noite anterior. A ressaca batia levemente, quase como um eco de todas as emoções que vivi. Olhei para o relógio: já eram 11 da manhã, e eu tinha chegado em casa por volta das 3 da madrugada.

Os sábados eram dias em que eu não trabalhava na "After Hours". A casa de shows preferia trazer DJs para tocar funk, um gênero que, embora eu gostasse, não fazia parte do meu repertório de apresentações. Meus pais, seguindo a tradição, levariam Sofi para se divertir, talvez no clube aquático onde meu pai é sócio, um lugar onde a alegria da infância de Sofi poderia correr livre pelas piscinas e escorregadores. Isso me dava um dia inteiro de paz e solidão, algo que eu valorizava muito, especialmente em dias como hoje, onde minha cabeça ainda estava tentando se recuperar do barulho e das luzes da "After Hours".

Com um bocejo que parecia carregar o peso de uma noite inteira, levantei-me, sentindo o corpo protestar pela falta de descanso. Fui até a cozinha, preparando um café forte, o remédio quase mágico contra a ressaca e para clarear as ideias. Enquanto a cafeteira fazia seu trabalho, peguei o celular. O dia de hoje seria sobre recuperação e conexão com os amigos, algo que sempre fazia bem para mim.

Sábados eram dias de call com Derick e Giulia, e de sessões de Free Fire.

Após preparar meu café e enquanto o cheiro forte começava a me revigorar, notei algo diferente sobre a mesa da cozinha. Era um bilhete, escrito com a caligrafia delicada de minha mãe:

"Querida Kaki,

Fomos ao clube com a Sofi e provavelmente ficaremos fora por quase todo o dia. Peça algo para você almoçar pelo delivery, está tudo combinado com o cartão. Descanse bem e aproveite o seu sábado.

Com amor,
Mamá"

Sorri ao ler o bilhete. Era típico dela cuidar de todos os detalhes, mesmo quando estava ausente. O apelido "Kaki", que ela usava carinhosamente desde que eu era pequena, me trouxe um conforto familiar. Sabendo que tinha a casa para mim, o dia parecia ainda mais livre, uma tela em branco para preencher com o que eu quisesse.

Com o café na mão, voltei para o sofá, pegando o celular para me conectar ao mundo digital dos meus amigos. O dia de jogo e conversa com Derick e Giulia seria uma boa maneira de passar o tempo até decidir o que pediria para almoçar. A ideia de não ter que cozinhar e simplesmente desfrutar de um almoço pedido só para mim era parte da pequena alegria de um sábado solitário.

Eu me loguei no Free Fire, e logo estava na call com Derick e Giulia, pronta para jogar e descontrair.

— To fazendo amor com a favela toda, mais meu coração, babaca, vai ser pra sempre seu. O que minha xota faz sua pica perdoa, foi tanta ostentação quase me enlouqueceu!

Ele cantou com uma alegria que só ele conseguia transmitir, sua voz ecoando pelo microfone com um ritmo contagiante.

— Derick, você está de novo com essa música? Mila, que sumiço! Achei que tinha se perdido na balada ontem.

— Bom dia, pessoal! Desculpa o sumiço, estava precisando de um tempo. Vou pedir algo para almoçar, mas antes, vamos jogar um pouco?

Nos agendamos para a partida, e enquanto esperávamos, a conversa seguiu.

— Gente, vocês têm que ouvir o último remix do 'Anaconda', é simplesmente incrível. A Nicki Minaj é uma deusa.

Giulia riu.

— Sério, Derick, você é o maior fã dela que eu conheço. E você, Mila, já decidiu o que vai pedir para almoçar?

Antes que eu pudesse responder, a partida começou e um jogador aleatório, com o nickname "FunkMaster_77", entrou na nossa equipe. Ele já começou falando, talvez para se impor no grupo.

A DescaradaOnde histórias criam vida. Descubra agora