Capítulo 5: Domingo de Recomeços

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Acordei na manhã de domingo, a luz do sol tímida tentando se infiltrar pelas frestas das cortinas. Sentei-me na cama, sentindo o peso dos meus olhos inchados, lembranças da noite passada voltando como um filme não desejado. As lágrimas que tinha derramado antes de cair no sono deixaram minhas pálpebras pesadas e doloridas, uma lembrança física da tempestade emocional que havia me consumido.

Ainda podia ver o vídeo na minha mente, Lauren e Roger em um abraço íntimo, seus lábios se encontrando de uma forma que parecia proclamar algo que eu não queria aceitar. Era como se cada imagem que eu tinha visto na tela do meu celular estivesse gravada atrás das minhas pálpebras. O som da festa, o ritmo do funk, as risadas, tudo isso se misturava na minha cabeça como um eco distante, mas doloroso.

Suspirei, passando os dedos pelas bochechas ainda marcadas pelas lágrimas secas da noite anterior. O quarto estava silencioso demais, o tipo de silêncio que se encaixa perfeitamente com a sensação de vazio que eu sentia. Meu coração parecia estar tão inchado quanto meus olhos, cheio de uma dor que não estava pronta para enfrentar.

Levantei-me lentamente, cada movimento ecoando a tristeza que sentia. Fui ao banheiro, olhando meu reflexo no espelho. O rosto que me encarava não era exatamente o meu; havia uma tristeza nele que não costumava estar ali. Lavei o rosto, tentando lavar para longe os resquícios da noite anterior, mas sabia que a dor não iria embora tão facilmente quanto a água escorria pelo ralo.

Voltei para o quarto, pensando no que faria com esse dia que se esticava à minha frente como um campo de batalha emocional. Eu precisava encontrar uma maneira de lidar com esses sentimentos, mas no momento, a única coisa que parecia real era o vazio no meu peito, um buraco onde antes havia esperança, ilusão, e talvez, um pouco de amor não correspondido.

Decidi tomar um banho, sentindo que a água quente poderia ajudar a dissolver um pouco da tensão que se acumulava em meus ombros. Sabia que meus pais e Sofi já estavam acordados; era domingo e, como de costume, Sofi estaria na sala, completamente absorta em algum desenho no Disney+, perdida em um mundo de fantasia enquanto eu enfrentava a realidade. Meu pai, provavelmente, estaria no quintal, preparando o churrasco que era quase uma tradição dominical, com sua música sertaneja tocando baixinho ao fundo. Minha mãe, por sua vez, estaria ajudando com os preparativos, organizando a mesa e talvez já começando a fazer uma salada.

A casa onde cresci sempre foi um refúgio, um lugar onde cada canto parecia carregar um pouco da minha história. O terreno era amplo, com um quintal que parecia um pequeno paraíso. Era um espaço aberto, cheio de vida, onde a piscina azul convidava para mergulhos em dias quentes, e as árvores frutíferas ofereciam um toque natural e colorido ao cenário. Havia uma jabuticabeira, pesada com frutos escuros e doces; uma goiabeira, sempre tentadora com suas goiabas amarelas e rosadas; uma aceroleira, que no verão se enchia de pequenas frutas vermelhas, e um pé de romã, cujas flores vibrantes e frutos exóticos adicionavam um ar quase místico ao jardim.

Caminhando pelo corredor até o banheiro, senti o cheiro familiar de café fresco e o aroma de carne temperada, me lembrando de dias mais simples, quando meus maiores problemas eram escolher o filme para assistir com a família ou decidir entre subir na jabuticabeira ou na goiabeira. O banho parecia uma forma de lavar não só o corpo, mas também os pensamentos que insistiam em me trazer de volta à realidade dura da noite passada.

Enquanto a água corria, pensei no contraste entre o caos emocional que sentia e a paz da minha casa. Aqui, no meio de árvores e cantos de pássaros, deveria ser fácil encontrar consolo. No entanto, mesmo em meio a essa serenidade, o coração ainda doía, lembrando-me que algumas dores não são facilmente lavadas, nem esquecidas.

Me desculpe pelo inconveniente. Vamos tentar novamente:

Após sair do banho, enquanto me secava, peguei o celular que havia deixado carregando na cômoda. A tela iluminou-se com notificações do WhatsApp, do grupo de amigos que compartilho com Derick e Giulia. Curiosa e precisando de uma distração das minhas próprias preocupações, abri o aplicativo.

A DescaradaOnde histórias criam vida. Descubra agora