Duas Linhas, Uma Nova Vida

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flashback on:

Era uma noite fria de outubro, e Olivia estava sozinha em seu apartamento. A sensação de exaustão e náuseas já vinha a acompanhando há alguns dias, mas ela ignorara, atribuindo tudo ao estresse do trabalho. Contudo, algo a incomodava. As leves tonturas, a sensibilidade a certos cheiros e um pressentimento que parecia se instalar no fundo de sua mente, como um pequeno alarme que ela relutava em ouvir.

Naquela noite, porém, a inquietação venceu. Olivia vestiu um casaco e desceu até a farmácia da esquina. Olhou para o balcão onde estavam os testes de gravidez e, depois de alguns segundos de hesitação, pegou um deles. O caminho de volta parecia interminável, e seu coração batia como se estivesse numa corrida.

De volta ao apartamento, Olivia entrou no banheiro, observando o pequeno teste de plástico em suas mãos. Respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de pensamentos que passavam por sua cabeça. “Isso é só para descartar, Rollins”, murmurou para si mesma, tentando tranquilizar-se.

Os minutos seguintes pareceram horas. Quando finalmente olhou para o teste, seu coração quase parou.

Duas linhas. Positivo.

Ela encarou o resultado, sem saber ao certo como reagir. Um misto de surpresa, alegria e medo a invadiu. As lágrimas surgiram sem que ela pudesse controlar, mas havia um leve sorriso em seu rosto. Ela estava grávida. Uma pequena vida crescia dentro dela, e essa percepção era, ao mesmo tempo, assombrosa e emocionante.

Flashback off

Era tarde da noite, e Amanda estava na casa de Olivia. As duas haviam passado o dia todo juntas na UVE, e, ao final do turno, Amanda resolveu acompanhar Olivia até em casa. Entre um café e risadas sobre o dia exaustivo, a conversa logo foi tomada por uma onda de nostalgia, e ambas se perderam em memórias antigas.

Sentadas à mesa da cozinha, com duas xícaras fumegantes nas mãos, Olivia e Amanda começaram a conversar sobre Liz. Amanda notou como Olivia parecia pensativa ao olhar para uma foto da filha, ainda pequena, que estava pendurada na parede.

“Lembra da época em que você estava grávida da Liz?” Amanda perguntou com um sorriso afetuoso. “Nem acredito que já faz tanto tempo…”

Olivia deu um sorriso suave, e seus olhos se encheram de um brilho nostálgico. “Eu me lembro como se fosse ontem... Foi um dos momentos mais intensos da minha vida.”

Ela suspirou e desviou o olhar para fora da janela, como se as lembranças daquele tempo estivessem tomando forma diante de seus olhos.

“Eu tinha tanto medo, Amanda. Nunca me senti tão sozinha e assustada,” confessou Olivia. “Saber que estava grávida foi um choque… Não sabia se conseguiria ser uma boa mãe.”

Amanda estendeu a mão sobre a mesa e segurou a de Olivia, em um gesto de apoio. “Você não estava sozinha, Liv. Mesmo que eu não soubesse de tudo no começo… eu sempre estive lá para você, e sempre estarei.”

Olivia apertou a mão da irmã e sorriu. “Eu sei. Mas naquela época, eu carregava tantas dúvidas. Cada batida do meu coração parecia um peso, uma lembrança do que estava por vir. E ao mesmo tempo, era tudo tão... mágico. Eu sentia como se uma nova vida estivesse crescendo dentro de mim, me trazendo uma esperança que eu nunca havia sentido antes.”

Amanda riu, lembrando-se de como Olivia tentara esconder a gravidez nos primeiros meses. “Você foi tão discreta, eu nem desconfiei. Só percebi mesmo quando você quase desmaiou em uma cena de crime e eu tive que arrastar você de volta ao carro.”

Olivia balançou a cabeça, rindo da lembrança. “Foi um erro pensar que eu conseguiria esconder isso de você por muito tempo! Naquele dia, tive certeza de que precisava contar. Quando voltamos para a delegacia, eu só consegui te olhar e dizer: ‘Amanda, acho que estou grávida.’ E você ficou em choque!”

“Em choque?” Amanda riu. “Eu estava entre o choque e a felicidade. E depois, quando caiu a ficha, fiquei tão emocionada. Você, mãe… foi a melhor notícia que eu poderia receber.”

Elas riram juntas, mas logo o riso deu lugar a um silêncio carregado de memórias. Amanda observou Olivia, que estava novamente perdida em pensamentos.

“Você se lembra da primeira vez que sentiu a Liz mexer?” perguntou Amanda, com curiosidade.

Olivia sorriu, seus olhos brilhando ao lembrar. “Foi em uma noite de verão. Eu estava deitada na cama, pensando em como tudo mudaria, em como a vida estava prestes a dar uma virada. E então, senti aquele movimento… foi tão leve, como se ela estivesse apenas dando um ‘oi’ de dentro de mim. Naquele momento, eu soube que não estava mais sozinha. Liz estava ali, me lembrando de que, acontecesse o que acontecesse, eu teria uma razão para continuar.”

Amanda olhou para Olivia com admiração. “Você sempre foi uma mulher forte, Olivia. Mas ver você se tornar mãe… foi algo extraordinário. Cada dia você ficava mais determinada, mais cuidadosa, como se toda a sua vida fosse voltada para proteger aquela pequena vida.”

Olivia riu baixinho. “Ah, e você também foi incrível, Amanda. Sempre cuidando de mim, certificando-se de que eu comia direito, que eu descansava. Teve até uma época que você brigava comigo por eu trabalhar tanto.”

Amanda ergueu as sobrancelhas, fingindo-se ofendida. “E com razão! Você nunca tirava um tempo para descansar, e sempre dizia que estava bem. Teve aquele dia em que eu apareci no seu apartamento com uma montanha de comidas saudáveis e te obriguei a ficar de repouso.”

Olivia deu uma gargalhada. “Como eu poderia esquecer? E você ainda me trouxe aqueles chás horríveis que jurava que eram bons para a gravidez.”

Amanda deu de ombros. “Ah, mas Liz nasceu saudável, não nasceu? Então, valeu a pena!”

As duas riram juntas, sentindo o calor de uma cumplicidade que ia além das palavras. Olivia se levantou e foi até uma gaveta no aparador da sala, de onde tirou uma pequena caixa de veludo. Ao voltar, ela a colocou sobre a mesa e a abriu, revelando uma coleção de pequenos objetos guardados com cuidado: a pulseirinha do hospital de Liz, fotos do ultrassom, e até mesmo uma mecha do primeiro corte de cabelo da filha.

Amanda olhou para o conteúdo da caixa e sentiu os olhos se encherem de lágrimas. “Você guardou tudo isso…”

Olivia sorriu, emocionada. “Cada pedacinho de lembrança, Amanda. Liz é minha vida, e essas lembranças são a prova de que tudo valeu a pena. Mesmo nos dias mais difíceis, quando duvidei de mim mesma, ela sempre foi minha razão.”

Amanda olhou para a irmã, e seu coração se encheu de orgulho. “Você é uma mãe incrível, Olivia. E Liz tem sorte de ter você.”

Elas se abraçaram em silêncio, um abraço que não precisava de palavras para expressar a profundidade de seus sentimentos. Naquela noite, entre memórias e risos, Amanda e Olivia renovaram o laço inquebrável que as unia, não apenas como colegas de trabalho, mas como irmãs de coração e de vida.

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