Capítulo Três - Apresentando a Morte

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Um suspiro longo e extenuado foi soprado pelas narinas de Ichigo pelo que parecia ser a milésima vez só na última meia hora. Ele jazia ali, plantado como um idiota diante da porta da própria casa, repassando o discurso que ensaiou mentalmente desde o minuto que enfim tomou o caminho para o lar, avaliando todas as desculpas que poderia utilizar. Mal havia tomado a decisão entre as duas tenebrosas escolhas que lhe foram oferecidas e já estava se arrependendo amargamente. Se viu até mesmo desejando pedir para o homem ao seu lado levá-lo embora de uma vez, só para não ter que ver com os seus olhos a situação vergonhosa e desconfortável que estava prestes a lidar.

Os eventos se desdobraram mais rápido do que seu cérebro conseguia acompanhar, e podia jurar que, se prestasse mais atenção, conseguiria sentir o cheiro da fumaça oriunda de seus — últimos — neurônios fritando.

Kurosaki era tomado pela vontade de entoar um riso histérico, sondando a si mesmo onde diabos estava com a cabeça quando decidiu ser uma ótima ideia trazer aquele cara macabro para viver sob o mesmo teto, cujo dividia com o pai e as suas irmãs. Definitivamente, talvez fosse melhor consultar a emergência psiquiátrica que sugeriu à Morte, pois não estava em plenas faculdades mentais.

Além de ter a certeza de ter perdido o juízo, ele era um péssimo mentiroso. Mal conseguia omitir ou mentir sobre as informações que sabia sem ficar nervoso ou gaguejar. Sempre se orgulhou de sua honestidade, uma das maiores virtudes que tinha, no entanto, desejou conseguir contar uma lorota minimamente convincente para convencer a própria família da história que inventara para explicar a presença daquele Shinigami.

Independente, sendo um bom mentiroso ou não, nada conseguiria tirar aquela sensação de que um mau presságio estava para acontecer, uma iminente catástrofe. Suas unhas passearam pelos fios curtos da nuca, coçando de forma breve.

— Okay, vamos lá. — o garoto deu o veredito, olhando de soslaio para o homem de madeixas escuras — Você lembra o que nós vamos dizer a eles, certo?

— O que você vai dizê-los. — o Shinigami o corrigiu, ríspido. Embora as linhas do rosto fossem serenas, o tom de voz era cortante e afiado como uma navalha — Isso não passa de uma formalidade inútil para mim. É apenas uma maneira conveniente de garantir que eu possa cumprir a minha tarefa sem interrupções frívolas.

Ele estava a par do fato de que levantaria suspeitas e seria atrapalhado caso não fosse convincente o suficiente, todavia, seguir o plano banal de Kurosaki soava como uma afronta, tirando toda a importância de seu papel como um ceifeiro da morte. Era um desperdício indubitável de sua presença.

Ichigo quase se deixou ser levado pelo impulso de revirar os olhos, mas não o fez, temendo ter uma dor de cabeça nas horas seguintes.

“Porra, que cara chato!”, resmungou mentalmente.

— ‘Tá, ‘tá, que seja! — bufou, girando a maçaneta e seguindo rumo à sala com passos lentos, ligeiramente taquicárdico — Anda.

Morte o seguiu, pálpebras cerradas de modo solene, pomposo num nível que chegava a ser esdrúxulo.

Quando chegou ao seu destino, a cena era como já esperava, nada surpreendente aos seus olhos. O volume baixo da TV era o som de fundo, pois Karin gostava de assistir os seus programas favoritos depois de voltar do colégio, acompanhando o bebericar da xícara de café de Isshin, que lia um jornal, e também o cantarolar animado de uma melodia vibrando na garganta de Yuzu enquanto ela preparava uma sobremesa, espalhando um delicioso aroma doce pela cozinha.

— Cheguei! — anunciou alto, para todos escutarem e virem ver a novidade. Tinha certeza de que bastava seu pai olhar para a Morte para a notícia chegar aos ouvidos de suas irmãs.

Como Eu Me Apaixonei Pela Morte - IchiBya/ByaIchi Onde histórias criam vida. Descubra agora