Capítulo Dois - O Acordo

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Uma semana inteira havia se passado para Ichigo. Ele enfim estava de alta depois de ser estabilizado e mantido em observação por dias a fio, preso ao leito, sem poder nem ao menos se levantar. Aquilo costumava ser algo que o deixava em um profundo estado de alívio. Significava escapar da morte mais uma vez, sair do ambiente estéril, frio e irritantemente barulhento de uma UTl e retornar ao seu lar, à sua casa aconchegante, para suas irmãs e até mesmo para o bobalhão que era o seu pai, estando de volta nos braços de uma família que o amava.

Sair do hospital daquela vez significou algo diferente, uma coisa inominável que ele não sabia ao certo o significado. Algo havia mudado em si desde o encontro que tivera com o homem presente em seus sonhos, e não dizia respeito à sua saúde fragilizada. Até mesmo o ar parecia diferente, mais denso, melancólico e fúnebre, o deixando inerte e pensativo, mais do que era típico de sua pessoa. Era preocupante, considerando que tinha a tendência de se afogar na própria mente e entrar em uma espiral de tristeza e pensamentos pessimistas toda vez que seguia aquele caminho, o qual ele evitava sempre que possível. Não fazia bem, nem para Ichigo, nem para as pessoas ao redor que se importavam com ele.

— Terra chamando Kurosaki-kun! — de repente havia um polegar e um indicador estalando na frente de seu rosto, as feições de uma amiga o encarando com um quê de preocupação.

Kurosaki saiu do transe que estava, o queixo saindo da mão que o apoiava para se erguer e fitar a garota.

— Ah, Inoue? — ele estava tão disperso que mal percebeu o momento que seus pensamentos estavam longe, num lugar obscuro da própria mente, distantes da realidade e da conversa com os amigos — O que foi?

— Perguntei o que você vai lanchar hoje. — Orihime ofereceu um sorriso gentil, estendendo um pedaço de uma das combinações estranhas e no mínimo duvidosas que montava — Quer um pedaço?

— Não, obrigado. Estou sem fome. — dispensou com um gesto da mão.

Inoue assentiu, voltando ao lugar que estava sentada, ao lado de Tatsuki, compartilhando o outro lado do fone de ouvido com a namorada, entrelaçando os dedos aos dela. Elas se entreolharam por um instante, e Arizawa se pronunciou:

— Você ‘tá estranho desde que voltou do hospital, Ichigo. Está se sentindo bem? — o averiguou de cima a baixo, procurando qualquer sinal de mal-estar.

Ele arqueou uma sobrancelha, as linhas da testa enrugadas.

— Não é nada, já ‘tô totalmente recuperado. Relaxa. — embora dissesse aquilo, as próprias ditas não convenciam nem a ele mesmo — Vaso ruim não quebra, sabia?

— Não é novidade você ter sobrevivido, Kurosaki. Sabemos que você é teimoso até para morrer. — Uryuu proferiu em um timbre monótono e calmo, pacientemente costurando uma peça de roupa rasgada — O ponto é: você está mais cabeça de vento que o normal.

— Como se isso fosse possível ‘pra ele. Esse é o limite puro e cristalino do quão longe a estupidez de um ser humano pode chegar. — Renji complementou, provocando o amigo a cada oportunidade, como era de costume.

Uma veia saltou na testa de Ichigo pelos comentários sarcásticos que lhe foram dirigidos, bufando em silêncio.

— Não enche, vocês dois. Nem ‘pra me dar uma folga, um moribundo que acabou de voltar do hospital. — resmungou — Mas é sério, eu ‘tô legal.

— Agir como se tivesse visto um fantasma durante a aula da sua matéria favorita não é o que uma pessoa que está legal faria. — Rukia o confrontou, tomando um gole do suco de caixinha que Renji, o seu namorado, havia comprado para ela.

Ichigo pinçou a ponte do nariz com o polegar e o indicador, já se sentindo encurralado e enervado com a insistência num assunto o qual estava claramente desconfortável em tocar.

Como Eu Me Apaixonei Pela Morte - IchiBya/ByaIchi Onde histórias criam vida. Descubra agora