Capítulo Quatro - Convivência Forçada

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Os primeiros dias de estadia da Morte na casa dos Kurosaki haviam sido uma aventura e tanto. Acontece que Ichigo se sentia um senhor de idade enfadado, amargurado com a vida e que segue a mesma rotina religiosamente desde quando as rugas faciais começaram a ficar impossíveis de esconder. Estava sendo um verdadeiro teste; de sanidade, de paciência, de autocontrole e de quão longe poderia chegar sem perder o réu primário.

Quando ele achava que estava no fundo do poço, que não tinha mais como se surpreender com as peripécias do dito cujo Shinigami, Byakuya provava o quão dolorosamente errado estava. Apresentá-lo à sua família já havia se provado um desafio, uma receita perfeita para o desastre. Conviver, então? Pfft! Não era somente uma receita para o desastre, era A RECEITA em caixa alta, destacada em negrito com uma fonte gritante e colorida em neon, explicada passo a passo para uma criança de cinco anos que até então não conhecia o conceito do que era uma panela.

Para começar, Kuchiki tinha manias insuportáveis de lidar. Era um castigo divino, ele tinha certeza. Só isso poderia elucidar o modo que cada movimento, cada palavra e cada suspiro daquele homem conspiravam a fim de irritá-lo em um nível que nenhuma palavra no dicionário era intensa o bastante para descrever.

O dia mal começava, e Ichigo estava sempre prestes a perder a cabeça. Aquela manhã não foi diferente.

Ele acordou com um toque rápido e leve em seu ombro, coisa que durou apenas um segundo, talvez até menos. Aquilo normalmente não surtia efeito em acordá-lo; entretanto, a sensação era gelada como um iceberg, um frio tão extremo que beirava o patológico. Deixou um grunhido leve ressoar na garganta, se remexendo na cama e afundando o rosto no travesseiro fofinho e macio. Estava quase caindo no sono de novo, quando uma voz grave, rouca e neutra invadiu seus ouvidos, o tirando de seu estado de semiconsciência.

— Hm? — o murmúrio vibrou, seguido de um bocejo e coçar de olhos.

— É hora de acordar, Kurosaki Ichigo. — lá estava o timbre moderado e invariável, ausente de emoção.

Kurosaki mal tinha os olhos abertos, sentindo-os pregados e cheios de remela, os fios ruivos bagunçados e apontando para todas as direções.

— Que horas são?

— Cinco e meia. — Byakuya anunciou.

CINCO E MEIA? — Ichigo acordou de uma só vez, de olhos arregalados, o sono evaporado de seu corpo num só instante — Nem fodendo que você veio aqui só ‘pra perturbar meu sono de novo! A escola só começa às oito, ‘pra que diabos você ‘tá me acordando uma hora dessas, cara?!

O adolescente atirou um travesseiro na direção do Shinigami, que o pegou ainda no ar, sem ao menos se desviar ou fazer algum esforço, a temperança intrínseca a ele prevalecendo com a naturalidade que era respirar.

— O Sol já nasceu. — esquivou o olhar rapidamente para a janela de cortinas escancaradas, a luz do dia invadindo o cômodo sem gentileza alguma.

— Eu tenho cara de agricultor para você, por acaso? Não tem necessidade nenhuma de eu levantar uma hora dessas, Byakuya! — vociferou — Você acha que 'tá em que época, cara? Na era feudal?!

— Acordar cedo é uma virtude, o primeiro passo para uma rotina disciplinada. — explicou com uma calmaria digna de um santo, mantendo o tom controlado, diferente de Ichigo, que estava berrando aos quatro ventos de irritação — Não deveria desperdiçar as horas do seu dia de maneira preguiçosa. Ócio não leva a lugar algum.

— Virtude é a cabeça da minha pica. — retorquiu com rispidez, rosnando — Eu não tenho nada ‘pra fazer às cinco e meia. O que mais você quer? Que eu comece a meditar e aplaudir o Sol que nem um hippie? — ele estava seriamente cogitando socar a coisa mais próxima. Talvez a cara de Byakuya — Vai arrumar alguma coisa ‘pra fazer e me deixa dormir.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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