Depois de alguns dias ruminando acerca do acontecido no festival e na nossa antiga escola, tomamos coragem e fomos à praia num lugar que todos da cidade baixa dizem ser onde os jovens se encontram para curtir, beber e andar de skate. Chegamos lá na minha lata velha. Tiramos todos os equipamentos e os montamos em uma área aberta. Começamos a tocar nossas músicas naquele sol escaldante de fim de tarde. Quase ninguém dava bola para a gente, muito menos os jovens. Parecíamos dois invisíveis. Algumas pessoas até jogavam moedas pensando que estávamos pedindo dinheiro. Ficamos tocando sem muitas pretensões e o repertório já estava acabando quando, de repente, no meio da música Vira-latas, uma turma de skatistas chegou e começou a apreciar nosso som. Um deles pediu que cantasse ela novamente e assim o fizemos, o que não fazemos pelo nosso público? Subitamente, o local começou a ficar ‘cheio’. Estávamos realmente agitando, colocando para fora todas as nossas letras de repúdio aos políticos, à sexualidade infantil exposta nas músicas, à juventude fracassada que não fazia nada e ao som ridículo desses barbudinhos de merda que tomou de assalto os ouvidos da nação. Até que um fiscal da prefeitura chegou e perguntou “Vocês têm autorização para se apresentarem aqui?’’ Eu disse que não, então ele continuou “Tem que ter uma licença da prefeitura para fazer qualquer tipo de apresentação nesse local. Essa área é um ponto turístico. Se deixarmos vocês, outros virão e isso aqui vai virar uma bagunça’’, então Lu, no seu mais alto nível de sinceridade, mandou ele se fuder e voltamos a tocar. O fiscal foi embora sem dizer mais nada. Nós estávamos grandes e com o moral alto. Agora tinha uma turma de umas trinta pessoas reunidas à nossa volta. Quer dizer, realmente vibrando e cantando ao nosso ritmo. Mas, como toda sorte de pobres infelizes que só querem falar a verdade dura pouco, o mesmo fiscal da prefeitura apareceu com guardas armados da prefeitura para nos intimidar. Pensei “Com a polícia não dá para encarar, mas esses ‘guardinhas’ folgados, sim!’’. Eles vieram e foram direto colocando a mão em nossos equipamentos, porém levantei minha guitarra como um taco de beisebol e disse “O primeiro que vier, vai tomar!’’. Estava com muita coragem naquela hora, os guardas hesitaram num primeiro momento, porém puxaram armas de verdade e apontaram para a gente. Puta merda! Os caras estavam armados e eu nem percebi. Então colocamos o rabo entre as pernas e fomos tentar persuadir o fiscal que o que estávamos fazendo era algo para agregar a cultura e os bons costumes, no entanto o fiscal estava irredutível e nos deu um ultimato “Te dou dois minutos para tirarem esses equipamentos e sumirem daqui’’. Não tinha como enfrentar homens armados, logo, colocamos o rabo entre as pernas de novo e saímos. Nosso público mais uma vez teve que se dispersar involuntariamente por força da lei e de uma arma.
Não estávamos acontecendo, onde quer que fôssemos, éramos expulsos. Então eu e Lu resolvemos dar uma pequena pausa e voltar à vida de trabalho-casa-estúdio.
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Geração absorvente
Não FicçãoOdeio do fundo da minha alma sertanejo, funk e arrocha... vão toma no cu com essas merdas. Abra sua mente!