Capítulo 3 - Num lugar seguro

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Elas entram no carro em silêncio. Rebecca relembra toda a noite tentando digerir o absurdo que aconteceu no curto espaço de tempo em que viu Sarocha matar um homem e àquele momento nada confortável dentro do carro dela. Sarocha parece calma. Seus planos em manter Rebecca protegida foram por água abaixo. Ela precisa pensar e seguir o próximo passo.

Ela dirige por uma hora e Rebecca cai no sono exausta. Logo, para o carro numa estrada secundária deixando o carro para trás e começa uma longa caminhada com Rebecca em seus braços. Ela resmunga no começo, mas a exaustão a vence e ela adormece se deixando levar. Ela finalmente acorda atordoada. Sarocha que espera ansiosa ela acordar observando-a durante o sono, finge desinteresse ao vê-la abrir os olhos.

— Onde nós estamos? — pergunta confusa.

O lugar parece impenetrável, ela não sabe porque, mas se sente segura. No subsolo de uma fábrica abandonada, fica um pequeno cômodo equipado com um sistema de segurança e confortavelmente mobilado com poltronas, mesa, cama, um sofá e um armário no canto. Também tem um pequeno banheiro.

Sarocha havia preparado para usar numa situação de emergência, mas com conforto de um quarto de hotel. Sua cabeça já está a mil procurando uma saída rápida e segura para sua protegida, ela sabe que não vai conseguir mantê-la ali por muito tempo.

— Num lugar seguro. — ela responde para tranquilizá-la. — Temos água quente se quiser tomar banho, tem algumas roupas naquele armário e comida suficiente para...

— Quanto tempo eu dormi? — ela interrompe esfregando os olhos descansada tentando calcular o tempo para adivinhar as horas sem perceber o que ela quer dizer. Ela não si importa.

— Algumas longas horas.

— Preciso voltar pra casa, ligar pra alguém, avisar que estou bem.

— Isso pode ser feito. Só não ligue para polícia. Foi assim que eles a encontraram. Mas agora você está segura. — ela a entrega um celular. — Esse número não é rastreável.

Ela tem questões a esclarecer e não perde tempo.

— Como sabe meu nome? A propósito, é Rebecca, Becky para os íntimos, mas não Jones.

Sarocha fica em silêncio. Ela não quer mentir, mas também não tem permissão de contar a verdade. Ainda não. Rebecca resmunga.

— Hum. Não pode dizer. Você é algum tipo de agente secreta? É, isso pode explicar algumas coisas.

— Não sou uma agente secreta, mas se fosse, não poderia dizer não é mesmo? — ela dá um sorriso debochando dela. Ela abre uma carranca.

— Você não é engraçada. — e logo muda de assunto interessada no nome da misteriosa. — Por que você me carregou até aqui... E obrigada, aliás.

— Sarocha. Freen para os íntimos. — ela dá um sorriso torto, sua tentativa de deixar o clima mais leve fracassa novamente. Ela suspira frustrada. — Você parecia cansada. Não quis acordá-la. — ela confessa incomodada. Logo disfarça. — A ligação. Faça.

Após ligar para o ex marido deixa um recado desconfortável de ouvir, talvez o celular estivesse descarregado Jeremy vive esquecendo disso. Ela tenta tirar a preocupação da cabeça indo tomar banho e depois come um pouco mesmo que ainda não sinta fome suficiente não estava tranquila imaginando que sua vida não é mais a mesma.

Preparada para sair do esconderijo, insiste em voltar para casa mesmo sendo fim de tarde convencendo Sarocha a leva-la de volta. Elas pegam outro carro na fábrica e partem.

Ela está alerta. As duas mal trocam palavras durante o trajeto de volta ao apartamento dela, mas ela fica admirada com o quanto de tempo que dormiu. Havia passado mais de um dia. Sarocha só pensa em mantê-la segura.

É começo da noite. Jeremy já deve ter chegado e espera desesperado por notícias. Ela imagina encontrá-lo aflito quando entrar em casa. Espera poder abraça-lo e explicar tudo, por mais que não consiga nem explicar a si o que aconteceu. Perdida em seus pensamentos, não percebe logo o que há de errado no quarto andar do seu prédio, mais precisamente no seu apartamento.

O porteiro explica aliviado em vê-la que na madrugada anterior a polícia esteve no prédio a procura dela dando a entender que Rebecca corria perigo e então na noite seguinte houve uma explosão. Os bombeiros afirmaram que foi um vazamento de gás no apartamento dela e que haviam encontrado alguém lá dentro. Ele parece aliviado de não ser ela.

Rebecca se desespera. Jeremy devia estar lá esperando por ela. Tenta ligar para ele, deixa vários recados, mas nenhum sinal. Se sente culpada. Maldita ligação! Devia ter esperado amanhecer, devia ter ligado com mais calma, devia ter evitado toda essa bagunça. Sarocha olha para sua protegida penalizada pela culpa que imagina que ela esteja sentindo. Nada que possa dizer, vai ajudar naquele momento. E é difícil ficar só olhando o desespero dela. Mas ela não sabe como agir diante da situação então somente aguarda observando a jovem fazer ligações segurando o choro que mais cedo ou mais tarde vai cair.

Na ligação seguinte foi a vez dos pais de Jeremy. Esperou um tempo até que alguém atendeu. A voz abalada do outro lado, se surpreendeu ao reconhecer a nora que achou também estar no apartamento no momento da tragédia. Sim, Jeremy estava lá. A mãe do rapaz tinha certeza disso porque o filho havia ligado naquele dia afirmando esperar a ex-mulher. Não sabia qual razão da volta repentina do filho, ele não explicou, acreditava apenas que essa seria uma reconciliação do casal, mas a tragédia abalou tanto a senhora que nem pensou nos detalhes do acidente.

Aquilo não pode está acontecendo. Jeremy não está morto, o apartamento ainda é seu lar, ela não conheceu Sarocha e não tinha visto um assassinato. Ia fechar os olhos e Sarocha não estaria ali na sua frente com a expressão de não saber o que fazer para ajudá-la. Mas ela está lá, uma assassina, seu apartamento, suas lembranças, tudo transformado em cinzas e Jeremy também.

No primeiro momento, Rebecca sente raiva, ela explode com Sarocha batendo e esmurrando seu peito enquanto ela tenta controlar a fúria dela segurando seus braços. Ela a aperta forte e o choro começa a cair em seu rosto. Ficaram um bom tempo assim no meio do apartamento em cinzas que ela insistiu em entrar mesmo com o aviso de perigo do corpo de bombeiros na entrada.

Sarocha se afasta para vê o olhar bravo de Rebecca. Ela se apressa em deixar o local. Não quer demonstrar sua fragilidade na frente daquela estranha. Por isso a raiva. Também precisa falar com a mãe que a essa altura deve estar de luto pela sua suposta morte.

Sua protetora segue em silêncio logo atrás. Não sabe o que dizer. Espera que ela reaja mais uma vez, mas não acontece. Ela pede para dirigir e no caminho, conta sua história com Jeremy. 

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