Rebecca o conhecia desde pequena quando os pais dele mudaram para casa ao lado. Filho único, fez amizade com os filhos dos Jones e estava sempre vindo brincar na casa deles. Cresceram juntos e já na adolescência mostraram interesse em um relacionamento duradouro. Namorados até o fim do ensino médio, casados antes dela entrar na faculdade.
O jovem Mitchell era um artista, desenhar e pintar eram suas paixões. Decidiu não fazer faculdade. Sua única ambição era ser reconhecido por sua arte. Ele vendia seus quadros e desenhava para uma gráfica. Isso ajudava nas contas de casa. Rebecca o apoiou desde o início.
A jovem engravidou no fim do quinto ano do curso de medicina e quis interromper os estudos. Ela queria ajudar o marido com as despesas que viriam com o nascimento do bebê, o casal ainda não havia financiado a casa própria, nem tinham poupança para uma emergência médica, a jovem só queria ser útil para sua família.
Jeremy não permitiu. A esposa já tinha chegado tão longe para desistir quase se formando. Essa não era uma opção. Ajudando e apoiando a esposa, arrumou um segundo emprego na construção civil e se dedicou ao máximo para construir sua pequena família feliz.
Ambos estavam ansiosos para conhecer o primogênito após o parto, porém o pequeno Henry nasceu sem vida. Foi um choque e tanto para o casal. Rebecca não podia aceitar que seu bebê saudável durante toda a gravidez, tivesse nascido morto. O obstetra explicou que havia uma anomalia não detectada nos exames pré-natais e isso foi o que causou a insuficiência de oxigênio para o bebê. Não tinha como prever a situação a tempo de salvar a vida de Henry.
A explicação convenceu Jeremy, entretanto Rebecca estava irredutível. Não tanto pelo seu conhecimento médico, mas como mãe, ela sentiu que havia algo de errado. O assunto estava encerrado, entretanto por muito tempo foi a causa de constantes brigas entre o casal. O resultado foi o divórcio seis meses depois.
Durante o ano que passaram separados, Rebecca havia sido convencida do que houve com seu bebê foi apenas uma fatalidade, terminou o curso de medicina e começou a residência no hospital de San Diego. O trabalho de Jeremy como artista prosperou após mostrar seus desenhos e quadros ao arquiteto da empresa que trabalhava. Sua arte finalmente foi valorizada. Estava numa exposição dele e de vários artistas na Espanha quando a ex-mulher ligou apavorada querendo vê-lo. Ele pegou um avião de volta no mesmo dia.
♢
Ela não chora mais. Só quando encontra sua mãe e a abraça, sente o alívio de tirar aquele peso de si. Depois de deixar a mãe aliviada, Rebecca volta para o carro onde Sarocha ainda espera ansiosa para saber se ela se sente melhor. Não é exatamente o que ela vê. Rebecca parece diferente. Então, começam as perguntas. Pergunta quem realmente eram aqueles caras, porque estavam atrás dela, o que ela supostamente sabe sobre eles e porque isso é motivo para matar Jeremy. Todas são respondidas com hesitação por Sarocha.
Ela não pode mais esconder. Conta sobre quem as perseguiu, o porquê e quem a incumbiu de proteger a vida dela. O homem no estacionamento era um monstro que ela "cuidou" antes que fosse atacada naquela noite, mas que por conta dela permanecer viva após o ataque mal sucedido e ter presenciado algo daquele mundo, os outros foram atrás delas para não deixar pontas soltas. Esse era o motivo para Rebecca não entrar na delegacia. Para finalizar, Sarocha revela que o seu pai faz parte desse mundo como caçador e que o senhor Jones havia pedido a ela para proteger sua filha.
Rebecca não consegue acreditar na metade daquela história absurda. Pensava se tratar da máfia, de criminosos até de espionagem internacional, mas nunca de um mundo sombrio ou de criaturas que se escondem nas sombras da noite. Ela rir no início até perceber que Sarocha fala sério e que por mais que tudo pareça estranho ou absurdo, faz sentido.
Os olhos, as presas, a força daqueles homens ou seja lá o que for que invadiu seu apartamento eram diferentes de um ser humano normal. Eram de dar medo. E descobrir que seu pai está envolvido nessa história não é bem uma surpresa. Ele sempre foi um homem frio e distante, entretanto assegurava a proteção da família de forma exagerada. Principalmente com ela. A mais teimosa dos Jones. Sentada num bar, Sarocha observa Rebecca beber seu quarto copo de vodca com espanto.
— Desde quando bebe desse jeito?
— Diga você. Não me segue para todo lado? — cospe meio irritada e alterada pela bebida. — Para tudo há uma primeira vez.
— Não devia beber. Manter-se sóbria é vital para...
— Cala a boca e senta. — ela empurra o banco do bar. — É chato beber sozinha.
Ela faz sinal para o barman que enche mais um copo. Sarocha dispensa o seu. Ele deixa a garrafa com elas.
— Falei sério. — ela insiste controlando a irritação.
— Eu também. Monstros, caçadores das sombras, Jones... Nunca achei que fosse ouvir essas palavras numa mesma frase.
— Não importa se você não acredita. Não vou deixar ninguém machucar você.
Ela não se afeta com a declaração dela. Sarocha finalmente deixa-se cair no banco abalada. Um silêncio se forma e logo é dissipado pela curiosidade da jovem.
— E desde quando...
— Protejo você? Há muito tempo. — Rebecca ri com escárnio.
— Você quer dizer persegue, né? Seguir alguém e tirar sua privacidade não é proteger.
— Nunca fui invasiva. Você não percebeu, mas eu estava lá.
Isso é verdade. Rebecca nunca percebeu alguém atrás dela até ouvir aquele gemido agonizante que não saía mais de sua cabeça. Ela estremece só de lembrar enchendo seu pequeno copo até a borda.
— Já aconteceu aquilo... antes? — ela engole a bebida de uma vez para digerir a resposta.
— Algumas vezes. Confesso que dessa vez, eu fui imprudente. Você não devia ter visto.
— Então, o senhor Jones é como você? Ele protege as pessoas enquanto elas dormem?
— Não exatamente como eu, mas ele faz isso a mais tempo.
De repente, seus olhos se enchem de esperança.
— Encontraram um corpo. E se não for dele? Acha que o Jeremy pode está...
— Vivo? Isso é pouco provável... Desculpe... Tudo pegou fogo.
— Mas tem uma chance?
— Nada é impossível, mas não posso dar esperança.
— Se ele estiver vivo, vou encontrá-lo!
— Para que? Matá-lo? — Sarocha cospe irritada. — Se ele estiver vivo ainda não muda o que ele pode ser agora. Eles não o deixariam continuar humano e eu não o deixaria chegar perto de você.
— A escolha não é sua, Sarocha!
— Ele está morto, Rebecca. Você só precisa aceitar! — ela se arrepende do feito. — Desculpe, eu não quis... desculpe.
— Foi exatamente isso que você quis dizer, mas não se desculpe Sarocha, não há mais regras. Só beber e superar.
Ela a vê encher mais uma vez o copo com vodca.
— Pode chorar se quiser. — sugere. Rebecca nega, cansada de chorar.
— Prefiro beber.
Dizendo isso, coloca a bebida garganta adentro. É hora de superar e seguir em frente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dark Angels
FanfictionRebecca é uma jovem médica que descobre um mundo escondido nas sombras e que ao anoitecer monstros de todos os tipos espreitam em becos escuros de ruas mal movimentadas ou dentro da sua casa especificamente debaixo da sua cama! Sarocha é uma caçado...