Dark Angels

Capítulo 7 - Vamos caçar

O treino começa a ficar mais árduo. Sarocha quer fazê-la desistir, mas ela já matou alguém e isso não tem volta. Na luta, ela a derruba com facilidade no chão. Rebecca volta a levantar. No tiro, ela grita para desconcentrá-la. Ela erra e recarrega as armas para tentar de novo. Apenas na biblioteca Becky tem sua paz. Ou pelo menos tenta.

Depois que colocou uma faca nas costas de um "homem", não dormiu mais. Suas madrugadas são resguardadas estudando os monstros que um dia vão acabar cruzando seu caminho e quem também ceifará a vida. Tenta se convencer de que foi o certo, que aquele homem já estava "morto" como dizem os livros, que ele era um monstro e não podia continuar "vivo", mas a culpa e sua promessa como médica de preservar a vida não a deixam se concentrar nos treinos. Não é Freen gritando ou derrotando diversas vezes nas lutas, é a guerra que se desenvolve em sua mente esgotando seus sentidos. 

Sarocha já tem ideia que esse é o problema. Vê-la acordar após um pequeno cochilo na mesa da biblioteca e se arrastar até o quarto todas as manhãs para tomar um banho antes de começar o treino a faz pegar mais pesado nas lições, mas a jovem é dura na queda e ela não pode mais aguentar vê-la definhar sem progresso. Ela ia desistir de tentar fazê-la desistir.

Após derrubar mais uma vez sua aprendiz no chão, sua mestre para o treino.

— Já chega Becky. — ela levanta tentando respirar com dificuldade sem fôlego para continuar.

— Eu ainda nem comecei. — insiste se posicionando para lutar.

— Eu disse chega! Você está se matando! E eu vou acabar com essa culpa.

— Então está preocupada em decepcionar o Jones? Ele não dá a mínima para ninguém nem para mim então pode ficar tranquila.

— Você parece odiar ele, mas é igualzinha a ele. Não estou falando da minha culpa. — Rebecca percebe onde ela quer chegar. — Você tem que parar de se culpar. Se quer mesmo continuar com os treinos e caçar monstros, vai ter que matar primeiro esse monstro dentro de você. 

— E como eu faço isso?

— Droga, eu vou me arrepender disso. — ela a encara hesitante. Rebecca tem o olhar tão desolado e parece tão indefesa… Sarocha sabe que não tem mais volta. — Vamos caçar.

Ao anoitecer, elas pegam a estrada escura voltando para o centro da cidade. Ela dirige até um dos bairros mais perigosos de San Diego, estaciona num beco mais escuro e ambas saem do carro. Em silêncio, caminham até uma escada de incêndio. Alta, alcança e desce a escada para que Becky consiga subir. Logo, as duas estão no telhado de um prédio. Nada de incomum, pelo menos é o que passa pela cabeça da jovem. Aquela deve ser a rotina dela de caça aos monstros antes de conhecê-la. Ela só segue, observa e obedece qualquer instrução dita por sua mestre, absorvendo informações, anotando mentalmente suas observações e tirando inúmeras dúvidas que surgem enquanto as duas estão de tocaia no telhado.

Rebecca é uma tagarela, Freen pensa enquanto ouve a jovem falar ao seu lado. Ela sabia que o silêncio não ia durar quando saíram do carro, mas esperava que o nervosismo dela fosse menos evidente já que ela o tentava esconder desde que ela disse o que as duas fariam naquela noite. Sarocha quer mostrá-la o verdadeiro sentido de fazer o que fazem. O real significado de "dormir uma noite tranquila". Só assim ela pode continuar o trabalho sem se sentir culpada. Apesar de que para ela isso ainda não é suficiente para ser creditada como heroína.

Observando com um binóculo, Sarocha percebe algo suspeito. Ela pede silêncio e passa o objeto para jovem que tenta identificar a mesma ação suspeita no prédio à frente.

— Vê aquela garotinha dormindo em sua cama? — diz aos cochichos. Rebecca balança a cabeça já atenta ao movimento vindo do escuro do quarto da criança.