A casa dos espíritos

Capitulo Um

Robert Young:

Meu nome é Robert Young, e hoje eu completo dezessete anos. Deveria ser um dia especial, algo que mexesse comigo, mas, na verdade, passa como qualquer outro. Viver em uma instituição que abriga jovens sem ninguém no mundo faz isso com você. Aqui, as coisas são sempre as mesmas, sem grandes celebrações ou momentos que realmente marquem a gente. Esse lugar tem sido meu lar por tanto tempo que, às vezes, esqueço que existe um mundo lá fora. Desde os meus oito anos, é aqui que moro.

Perdi meus pais naquela época. Eles eram arqueólogos, sempre explorando lugares distantes e cheios de histórias para contar. E, apesar de amá-los mais do que qualquer coisa, éramos só nós três. Eu os via partir em suas expedições com um sorriso no rosto, acreditando que voltariam para mim com novas aventuras. Mas, naquela última viagem, eles não voltaram. Fui deixado sozinho, com um vazio tão grande que nenhum outro lugar conseguiu preencher. A notícia da morte deles foi como uma corrente fria que me envolveu e nunca mais me soltou.

A instituição virou minha casa, mas nunca substituiu a sensação de segurança que eu tinha com meus pais. Agora, tudo o que resta são as memórias borradas daquela última vez que os vi, o último abraço, o último olhar, e a promessa não cumprida de que tudo ficaria bem. Eu vivo nesse ciclo, tentando seguir em frente, mas o passado sempre me puxa de volta, me lembrando de que, no fundo, sou apenas um garoto que perdeu tudo.

Eu também leio muito — na verdade, leio tudo o que consigo colocar minhas mãos. Desde os livros de história antigos da escola até os romances de fantasia empoeirados que encontro por aqui. A parte dos romances de fantasia, essa sim, é a que me deixa realmente feliz. É o único momento em que consigo escapar de verdade, mergulhando em mundos onde qualquer coisa é possível. Nessas histórias, heróis enfrentam desafios impossíveis, magias são conjuradas com uma palavra, e até os mais perdidos conseguem encontrar um caminho. Talvez, de certa forma, eu me identifique com eles, com esses personagens que também estão sempre em busca de algo maior.

— Robert. — Ouço uma batida suave na porta do meu quarto. Levo alguns segundos para registrar, ainda preso nas páginas do livro em minhas mãos. Quando olho para cima, vejo a porta se entreabrir, e uma cabeça aparece na fresta. Um dos responsáveis — ou seja lá o que ele era, nunca soube ao certo — espiava para dentro.

— A diretora quer falar com você. E tem uma... moça com ela.

Meu estômago deu um pequeno salto, aquele tipo de frio que a gente sente quando algo inesperado está prestes a acontecer. Eu não sabia quem essa "moça" era, mas a última vez que fui chamado à sala da diretora não foi exatamente por algo bom. Fecho o livro com cuidado, mas minha mente já está a mil.

Fecho o livro devagar, tentando conter o nervosismo que já começava a se formar no fundo do meu peito. O som das páginas se fechando ecoa no quarto pequeno e silencioso, como se marcasse o início de algo que eu não esperava.

— Tudo bem, já estou indo — respondo, minha voz um pouco mais hesitante do que eu gostaria.

Ele dá um leve aceno com a cabeça antes de fechar a porta, deixando-me sozinho por um momento. Me levanto devagar, a mente já tentando decifrar o que poderia estar acontecendo. Quem seria essa moça? Por que a diretora queria falar comigo?

Passei as mãos pelo cabelo desordenado, um gesto automático que não fazia muita diferença, e sai do quarto. Os corredores da instituição eram sempre silenciosos, com as luzes frias e o ar estagnado de um lugar que parecia mais funcional do que acolhedor. Cada passo ressoava como se o prédio inteiro estivesse prestando atenção.

Quando cheguei à sala da diretora, o sentimento de desconforto aumentou. Toquei levemente na porta, esperando a permissão para entrar, e logo ouvi a voz firme e controlada de sempre: