Capítulo Dois

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Robert Young:

Nimuna não havia mencionado como resolveria a situação com a diretora, mas eu tinha uma forte sensação de que alguma coisa havia acontecido, provavelmente com o uso de magia. A diretora ainda estava em transe, os olhos fixos em algum ponto distante, como se estivesse sob um encantamento suave. Não era normal, e agora eu tinha certeza de que a explicação para isso estava além do que eu podia compreender.

Enquanto eu terminava de arrumar minha mochila, não pude deixar de perguntar:

— Como vamos sair daqui?

Nimuna sorriu de maneira misteriosa, e seus dedos começaram a se mover no ar, como se estivesse desenhando algo invisível. No instante em que os traços foram completados, o chão começou a tremer levemente. Meus olhos se arregalaram quando vi raízes surgirem do chão, crescendo e se entrelaçando como uma rede viva, movendo-se com uma graça sobrenatural.

— Da melhor maneira possível — ela disse, com um tom leve de satisfação. — Através das raízes.

As raízes se expandiram rapidamente, formando um caminho que levava diretamente à parede do fundo da sala, como se estivessem criando uma passagem secreta. Era um espetáculo surreal, mas de alguma forma, não me surpreendia mais. Eu estava começando a aceitar que, de agora em diante, minha vida estaria cheia de coisas que desafiam a lógica.

— Entre as raízes, você vai encontrar uma conexão com o mundo que seus pais conheciam — continuou Nimuna, seus olhos brilhando com uma intensidade ancestral. — Não estamos apenas deixando este lugar físico. Estamos saindo da prisão de ilusões que o manteve preso por tanto tempo.

Eu olhei para as raízes, sentindo um misto de curiosidade e medo. O chão ainda pulsava levemente, como se estivesse vivo, convidando-me a dar o próximo passo. Respirando fundo, dei um primeiro passo em direção às raízes, sentindo o chão macio e úmido sob meus pés. Algo dentro de mim começou a se agitar, como se eu estivesse entrando em uma nova dimensão.

— Não tema, Robert — Nimuna disse com a voz calma, notando minha hesitação. — Essa é apenas a primeira de muitas jornadas. Você está pronto para abraçar seu legado.

Eu assenti lentamente, sabendo que, uma vez que desse o próximo passo, não haveria volta. As raízes me chamavam, e de algum modo, sabia que estavam levando-me para o começo de algo maior do que jamais imaginei.

Coloquei as mãos sobre as raízes, e no instante em que toquei aquela superfície estranhamente viva, senti algo se mover, como se elas estivessem respondendo ao meu toque. Antes que eu pudesse reagir, as raízes me agarraram com uma força inesperada, puxando-me para dentro. Tentei me soltar, mas era como se a terra ao redor estivesse viva, apertando meus braços e pernas, sugando-me sem piedade.

O pânico tomou conta de mim, e um grito escapou de minha garganta enquanto era arrastado para baixo. Senti meu corpo ser engolido pela terra e pelas raízes, tudo ao meu redor escurecendo em um instante. Era como se o chão estivesse me tragando, cada parte de mim sendo envolvida por aquela força invisível. Meu grito ecoou, mas o som parecia abafado, distante, como se o próprio mundo estivesse me engolindo.

O medo tomou conta de mim por um segundo eterno, o corpo tenso, o coração acelerado. Eu estava sendo sugado para um lugar desconhecido, completamente fora de meu controle. As raízes continuaram a me puxar, implacáveis, até que tudo ao meu redor desapareceu em um turbilhão de sombras e escuridão.

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Não posso dizer que saí das raízes por vontade própria. Na verdade, fui cuspido para fora delas e caí de cara no chão com um baque surdo. O impacto me deixou atordoado por um segundo, e soltei um xingamento enquanto tentava me limpar da sujeira e do musgo que se grudaram em mim.

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