Capítulo 1

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O escritório de Namtan Tipnaree, localizado em um dos arranha-céus mais modernos de Bangkok, exalava sofisticação e poder. Enorme, com paredes de vidro que ofereciam uma vista deslumbrante da cidade, o espaço refletia a ambição de sua dona, sempre preparada para travar as batalhas intensas de sua carreira.

Hoje, no entanto, o clima estava mais intenso do que o normal. Sentada em uma das cadeiras de frente para sua mesa, Film Rachanun, uma advogada de renome na capital tailandesa, mantinha uma expressão imperturbável, apesar do desconforto que o ambiente exuberante parecia causar. O contraste entre as duas era visível, mas as semelhanças em termos de determinação e força de caráter apenas intensificavam a tensão entre elas.

— Bem, senhorita Rachanun — começou Namtan, rompendo o silêncio —, parece que finalmente estamos prestes a resolver as questões em aberto.

Film manteve o olhar fixo, implacável, mas a faísca nos olhos denunciava a irritação.

— Eu não diria que estamos "resolvendo". Diria que estou tentando impedir que destrua o que resta de uma empresa familiar que representa muito mais do que lucros.

Namtan sorriu, inclinando-se para a frente, como se estivesse saboreando a discussão antes mesmo de começar.

— Sempre com esse tom dramático. Me diz uma coisa, senhorita Rachanun, você realmente acha que eu destruiria algo sem um motivo muito bom?

— Eu acho — retrucou Film —, que tudo o que importa para você é quanto vai lucrar. Pessoas são apenas números, empresas são apenas peças. Para você, tudo é jogável.

A voz dela era firme, mas quem prestasse atenção notaria um leve tremor — como se as palavras carregassem mais do que um simples confronto profissional.

Namtan se permitiu uma risada baixa.

— Então você me vê assim, uma espécie de monstro de negócios, fria e calculista? — Ela deu de ombros, cruzando as pernas com o cuidado de alguém ciente do efeito que cada gesto provocava. — Talvez seja verdade. Mas é isso que mantém empresas como esta à tona. A paixão não paga contas.

Film abriu a boca para responder, mas fechou de novo. Sabia que não era prudente deixar Namtan ver o quanto suas palavras a irritavam. Respirou fundo e, após um momento, falou num tom controlado:

— Talvez. Mas o que não quero ver é essa empresa se tornar mais um brinquedo que você descarta quando se cansa.

Namtan a observava atentamente. A postura rígida de Film, o maxilar travado, a intensidade nos olhos... cada detalhe fazia com que seu interesse crescesse. Havia algo delicioso em ver alguém tão moralmente obstinada perder o controle, mesmo que levemente, sob sua provocação.

— O que você quer então? — Namtan perguntou, sabendo que suas palavras seriam vistas como outra provocação. — Quer salvar o mundo dos negócios com sua ética impecável?

Film sorriu, mas seu sorriso era frio.

— Quero que você olhe para além dos números, pelo menos uma vez. Mas isso talvez seja pedir demais.

— É mesmo. — Namtan apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos, como se estivesse se preparando para um jogo. — E você, Film, já olhou para além das suas próprias barreiras? Porque, sinceramente, parece que você passa mais tempo tentando me fazer desistir de qualquer proposta do que realmente me escutar.

Film piscou, quase como se fosse uma acusação pessoal. Por um instante, um leve rubor coloriu seu rosto, mas ela se recuperou rapidamente.

— É o meu trabalho manter o que é importante intacto.

— Eu sei. — Namtan se inclinou um pouco mais, diminuindo a distância entre elas. — E, por isso mesmo, você é a pessoa que eu menos quero escutar. Porque você me lembra que, no fundo, eu gosto do desafio. Gosto de ver você perder o controle, de te tirar da zona de conforto.

O silêncio pairou entre elas. Film, que nunca admitiria o que sentia naquele momento, desfez o contato visual, ajustando os papéis na mesa.

— Se não tem mais nada a dizer, senhorita Tipnaree, acho que posso me retirar. Já temos o suficiente para revisar com nossa equipe jurídica — disse ela, com um tom frio, se levantando.

Mas, antes que pudesse dar o primeiro passo, Namtan se levantou também, bloqueando seu caminho de saída.

— Film, por que tem tanta pressa em fugir?

— Não estou fugindo — respondeu Film rapidamente. — Só estou evitando perder tempo.

— Claro... — Namtan sorriu, mas dessa vez o sorriso não tinha sarcasmo. Havia algo mais intenso ali, algo que fez Film prender a respiração por um momento. — Mas, se estivesse fugindo… de mim… eu entenderia.

Film a olhou, e dessa vez não pôde esconder o incômodo que aquela sugestão lhe causava. Havia algo na forma como Namtan a olhava — um misto de desafio e uma atração perigosa que mexia com tudo dentro dela. Tentou disfarçar, mas o coração acelerado era impossível de ignorar.

— Desculpe desapontá-la — murmurou Film, finalmente passando por Namtan —, mas não há nada em você que me faça correr.

Com isso, saiu do escritório, deixando para trás a empresária com um sorriso divertido nos lábios e a sensação clara de que aquele embate estava apenas começando. Namtan tinha certeza de que, entre o ódio e a indiferença de Film, preferia o ódio — porque sabia que ele escondia algo muito mais profundo, algo que, um dia, teria o prazer de desvendar.

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