Um arrepio percorre todo o meu corpo, fazendo-me estremecer da ponta dos pés até a cabeça. Viro-me lentamente para trás, mas, diferente do que imaginava, não era a irmã Carmel, e sim a irmã Ana. Ela pergunta novamente:
- Quem te deu permissão para entrar aqui, pestinha? Você sabe muito bem que só pessoas autorizadas podem entrar aqui - diz ela com uma expressão de muita raiva.
Respiro aliviado. Eu considero a irmã Carmel como uma mãe, mas a irmã Ana é como uma irmãzona; ela já salvou a mim e ao Deniz de várias encrencas.
- Me desculpe, irmã. Peço mil perdões... Prometo que isso não vai acontecer mais nunca - falo enquanto tento sair rapidamente da sala.
- Aí, aí, sei não, hein... Espero mesmo que isso não volte a acontecer - diz ela, com os braços cruzados e cara de ranzinza.
Vou direto para o corredor que leva aos dormitórios. No caminho, vejo Deniz ao telefone com uma expressão séria.
- Certo... Certo... Vou tentar desenrolar isso, mas isso é pela Júlia, não por você, tá entendendo? ... Ok... Certo... Tchau - disse Deniz, desligando o telefone.
- E aí, cabeça de vento, quem era? - pergunto, ainda ofegante de tanto correr.
- Era o Edy. Amanhã ele quer falar com você. Aliás, por que você estava correndo? - perguntou Deniz, guardando o celular no bolso.
- Um rolê muito doido, depois te conto. Mas como assim o Edy quer falar comigo? - falo, ainda ofegante.
- Amanhã você vai saber - diz Deniz, entrando no seu quarto.
Depois dessa conversa, vou rapidamente para o meu quarto, com medo de que a irmã Carmel descubra de algum jeito o que eu fiz. Fecho a porta e, de novo, estou no meu belo e vazio quarto. Deito-me e, mal dá tempo de minha cabeça começar a se encher de pensamentos, o sono logo me cobre com um pesado véu de algodão.
O dia amanhece trazendo de volta minha velha e repetitiva rotina: tomar banho, me alimentar com uma xícara amarga de café e me arrumar para ir para a escola, junto com todas as crianças. Encontro-me com Deniz no portão de entrada do orfanato, mas ao chegar lá, não há sinal dele. Olho para os lados da rua e, como não o vejo, decido ir sozinho para não me atrasar.
Do orfanato até a escola não é tão perto a ponto de precisar pegar um ônibus, mas também não é uma caminhada agradável.
- Opa, bom dia. Você sabe me dizer em que direção fica a escola? - uma voz masculina soa atrás de mim.
Viro-me e vejo um cara alto, negro, com dreads, um pouco suado, segurando as alças da mochila nas costas. Respondo:
- Opa, bom dia! Pra qual escola? - finjo uma cara de dúvida.
- Como assim, qual? Não me falaram isso... Merda - ele responde com uma expressão de desespero.
- Haha! Relaxa, só existe uma escola aqui em Santana de Garambéu - respondo, rindo.
- Ah... Ok... Ok - ele responde com um pouco de vergonha.
- Tô indo pra lá agora. Você é novato? Nunca te vi por essas bandas.
- Sou sim... Aliás, prazer, Daniel - ele estende a mão para me cumprimentar.
- Prazer, Paulo Cezar - estendo a mão para retribuir o cumprimento.
Ao longe, o som de um motor e música alta se aproximam rapidamente.
Zum! Um carro de luxo com três pessoas dentro passa por nós.
- Carro de luxo aqui? Nesse fim de mundo? - fala Daniel, cobrindo os olhos para ver melhor o carro que já se afastava.
- Com certeza são os Pines. Só porque são ricos acham que podem andar como doidos nesses carros - respondo com uma expressão de raiva.
Depois de alguns minutos de caminhada, chegamos à escola. Despeço-me de Daniel, que logo à frente encontra um cara loiro. De longe, ouço o loiro gritar:
- Danieeeeeeel! Como você tá, amigão ?- gritava com a voz um pouco fanha.
Ignoro e sigo meu caminho para a rotina: cumprimento Pandora, tento aprender matérias que sei que nunca usarei na vida, durmo na cadeira, levo bronca do professor... Coisas básicas do meu dia a dia.
No intervalo, vou ao pátio, onde vários bancos de pedra estão cheios de pessoas sentadas. Dirijo-me a um deles junto com Pandora e outros colegas. Depois de alguns minutos conversando sobre jogos de futebol, filmes e fazendo piadas, vejo Deniz vindo em minha direção, acompanhado de uma figura conhecida: Edy. Levanto-me e vou ao encontro deles.
- Paulo - Edy balança a cabeça em um sinal de cumprimento.
Faço o mesmo gesto e respondo:
- Fala.
Edy se aproxima de mim com uma expressão séria e diz:
- Você já deve saber o que aconteceu com a Júlia, então vamos direto ao assunto. A Júlia estava tendo alucinações com uma tal menina de cabelos negros aqui na escola e, infelizmente, agora ela não quer mais vir para cá. Mas eu não posso deixar minha namorada sofrer tanto por algo que não existe.
Ele coloca a mão no meu ombro, apertando levemente e olhando nos meus olhos.
- Estou montando uma equipe com os melhores da escola, seja fisicamente ou mentalmente, para provar à Júlia que isso não passa de alucinações e acabar com essas fofocas de que ela está enlouquecendo.
Uma certa frase de um anime sempre ficou grudada na minha mente desde que a ouvi pela primeira vez. Essa frase dizia que "o principal poder não é conjurar fogo, água ou terra, mas sim o poder de convencer as pessoas a lutarem a guerra ao seu lado".
As palavras de Edy acendem uma chama de determinação em mim, fazendo-me querer provar à Júlia - e principalmente a mim mesmo - que o paranormal não existe.
Olho para Deniz e para Edy e respondo:
- Vamos nessa.
Nota do Autor:
Opa, pessoal! Espero que estejam bem. Trago mais um capítulo dessa incrível história e, de antemão, agradeço pelo apoio. Vocês são demais! Aviso que, a partir de agora, a verdadeira aventura começa, então fiquem ligados nos próximos capítulos e comentem suas teorias para me motivar a trazer mais e mais capítulos para vocês.
Beijos e abraços, até o próximo capítulo 🫶🏿🫶🏿🫶🏿
![](https://img.wattpad.com/cover/379143049-288-k149969.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Marcado pela morte
HorreurPaulo Cezar é um jovem com uma infância marcada por cicatrizes e memórias sombrias, vivendo em um orfanato pacato no interior de Minas Gerais. Quando a tranquilidade da pequena cidade é quebrada por uma presença inexplicável, ele descobre que o para...