Londres, Inglaterra. 1815.
Edward Howard sabia que sua família achava que ele havia enlouquecido. Ele tentou ignorar isso enquanto seguia de carruagem até a St. George's Church, ainda em Mayfair. Mesmo com os vidros fechados, o Conde de Pembroke conseguia ouvir os sons do bairro movimentado_ pessoas conversando alto, passos apressados abafados pelas camadas de neve nas ruas, mais trotar de cavalos conduzindo charretes e outras carruagens...
No final, contudo, Edward teve de suspirar e desistir, falando para suas companheiras de viagem:
_ Eu lhes darei o restante da viagem para falarem o que vem reprimindo esses últimos dias.
Quase no mesmo instante, sua irmã mais nova e mãe desataram a exclamar:
_ Edward, isto é loucura!
_ Você sequer a conhece...
_ Ela pode ser uma menina de mal caráter, meu filho, nunca se sabe...
Inclinando a cabeça para trás, ele esperou que continuassem.
_ Sei que acredita que deve isso a seu amigo _ Sua mãe foi quem retomou a conversa, ao passo que Emma reprimia seus próprios protestos. _, e acredite, Edward, eu mesma sempre estarei em dívida com Alexander Campbell por lhe prestar ajuda em sua hora mais necessitada. Mas em detrimento de sua felicidade, querido?
Um sorriso malicioso repuxou os cantos da boca do jovem Conde.
_ O que a faz acreditar que não serei feliz?_ ele replicou. _ Eu terei uma esposa. Não era isso que a senhora queria durante toda a temporada?
_ Não assim.
_ Oh? Esse arranjo é tão bom quanto qualquer outro, mamãe.
A Condessa Viúva suspirou, exasperada.
_ Você deve estar brincando, Edward. _ Sua irmã protestou do outro lado do assento de veludo. _ Você nunca sequer a viu!
Alargando ainda mais seu sorriso, ele se aproveitou do deslize na fala da irmã antes que ela pudesse se corrigir.
_ E eu veria qualquer outra noiva, doce irmã?
Um silêncio constrangedor se seguiu, quase fazendo Edward sentir-se mal em relação a sua piada de humor negro. Quase.
Por que, afinal, era o dia de seu casamento, e mesmo o mais humilde dos homens merecia um pouco de divertimento antes de um evento tão solene. Mesmo um cego. E, oh, era tão revigorante provocar a irmãzinha. Ela era extremamente tímida e ingênua, e Edward simplesmente adorava isso.
_ E-eu não quis dizer... _ Emma começou a gaguejar.
_ Edward. _ repreendeu-lhe a mãe.
Ele revirou os olhos inúteis.
_ Certo, certo. Desculpe, Emma.
Um bufar suave soou a sua direita.
_ Você é mal.
_ E você tem apenas 16 anos. _ brincou o Conde. _ Não se preocupe. Conforme for ficando mais velha, se tornará mais difícil para mim provocá-la.
A irmã mais nova se moveu ao seu lado, e ele imediatamente se viu imaginando-a cruzando os finos braços pálidos contra o peito estreito.
Imaginando, sim, pois era somente isso que ele poderia fazer. Afinal, haviam sete anos que ele não enxergava absolutamente nada, sequer um palmo a sua frente, e seria uma vida imensamente entediante se tudo o que ele fizesse durante conversas fosse apenas se focar na escuridão permanente do que antes costumavam serem imagens vívidas e definidas.
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Um Acordo Conveniente
RomanceApós uma temporada desastrosa em Londres que resulta em sua reputação destroçada e honra questionada, Lady Elinor Campbell se vê em uma posição que nunca imaginou na vida: rica e nobre, se torna uma dama solteira indesejável na alta sociedade britân...