Capítulo Três

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Ella passara sua noite de núpcias sozinha no grande quarto que lhe fora dado.

Era um bom quarto_ maior do que o que ela tinha em Mains Castle, decorado com papel-de-parede verde-claro, móveis Louis XVI pintados de um dourado ocre, com janelas amplas e altas posicionadas do lado leste de cômodo.

E uma grande cama com dossel no centro, travesseiros e cobertores de cetim claro sobrepostos, onde a mais nova Condessa de Pembroke dormira sozinha.

No início da noite, depois do banho quente e perfumado que sua nova criada havia lhe preparado, Elinor se sentira revigorada e quente, mas ansiosa e nervosa. Muito nervosa. Uma das peças principais de seu enxoval de casamento_ que havia sido encomendado ás pressas da Escócia em uma das boutiques de Londres_ lhe foi oferecida para vestir: um boudoir feito da seda branca mais suave que a jovem já havia tocado, com fitas de cetim marfim atando-o na altura do esterno. Martha ainda lhe havia penteado os cabelos e perfumado-os um pouco mais com óleo de lavanda, talvez na esperança de fazê-la sentir-se confortável em seus novos aposentos, mas nada fora eficaz em expulsar o sentimento de terrível expectativa da mente de Ella.

Parecera-lhe que, se fechasse os olhos, a qualquer instante sentiria as mãos brutas de Sir Ethan Sheffield apalpando seu corpo.

Fazia quase um mês desde o ocorrido, e ainda assim ela tinha pesadelos com aqueles terríveis minutos na varanda escura da casa de Lady Ingram.

Elinor não era tola. Ela sabia o que a maioria das pessoas que ouviram do caso pensavam dela. No final, culpa e responsabilidade sempre caiam sobre os ombros da mulher, não dos do homem. Fora culpa dela, as pessoas sussurravam, que se deixara ser pega em uma situação tão comprometedora com um cavalheiro. Fora culpa dela que o houvesse, de alguma forma, provocado. Afinal, ele era o segundo filho de um Visconde respeitado na aristocracia, um cavalheiro consagrado pelo próprio rei após sua participação valorosa na Batalha de Rolica, há sete anos atrás, e ela... Era apenas uma jovem escocesa conhecida por seu temperamento e língua afiada, introduzida recentemente a sociedade. Uma jovem escocesa rica, mas ainda assim, uma intrusa naqueles salões de baile.

Então, sim, fora difícil para Ella superar. Ainda estava sendo. Seria um longo processo, ela tinha certeza, antes que tivesse coragem de entrar de cabeça erguida na casa de outro aristocrata afetado e hipócrita.

Ela tivera sorte que os convidados de sua recepção de casamento fossem tão agradáveis. Certamente ela não teria aguentado tanto tempo se não houvessem sido tão gentis com ela.

Ainda assim, isso não anulara seu quase total desespero na noite de núpcias.

Ela não acreditava que seu marido a maltrataria. Até aquele momento, ele fora nada além de gentil e paciente com ela, mesmo quando o humor de Ella não fora nem um pouco acolhedor. Seu irmão gostava dele, e o admirava, então ele devia ser um bom homem.

Mas Sir Ethan também parecera um bom homem de início, de modo que a jovem não tivera ideia do que pensar enquanto, sentada entre os lençóis, esperava pela chegada do marido.

Um quarto de hora se passou desde a partida de Martha. Depois uma hora. E então duas. Quando finalmente as chamas na lareira acesa começaram a esvaecer por falta de lenha, Elinor relaxara, inclinara-se para assoprar as velas restantes, se enrolara no pesado cobertor acolchoado e deitara-se contra a macia cama.

Quando abrira os olhos novamente, já era de manhã.

Ela não precisou esperar muito. Apenas alguns minutos haviam se passado com ela encarando a marquise de brocado dourado acima da cama quando uma batida suave ecoou pela porta.

Prontamente, ela se sentou.

_ Entre.

Martha obedeceu, sorrindo alegremente enquanto afastava as pesadas cortinas de veludo da janela para deixar a luz matutina entrar.

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