Capítulo 2 - (In?) Capaz

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27/03/2024, 15:38.

    Boa tarde, diário.

    Até agora seu nome tem sido esse, “Diário”, mas é muita falta de originalidade, então pensei em dar um nome a você, mas isso é muito difícil, já que você não tem vida. Tipo, eu posso considerá-lo como uma vida, pois estou registrando aqui todos os meus sentimentos do passado, mas não nos conhecemos o suficiente pra você de fato ser uma vida. Sei também que tenho que ter uma confiança muito grande em ti, já que estou te contando tudo isso. Eu criei você na noite anterior. Seu nome pode ser algo relacionado a noite, não é, Nacht? Ae! Pronto, esse vai ser seu nome. Sem mais enrolação, vou continuar a te contar os acontecimentos passados, aposto que você está curioso.

    Quando eu fui à escola no dia seguinte, a arte da existência da minha irmã desapareceu na minha alma. Não, ela não morreu. Mas a negatividade da escola me fez esquecer totalmente sobre o quão ela é incrível, e se eu mantesse esse pensamento, aquele dia não teria sido tão ruim. Na sala de aula, reconheci mais um ponto fraco em relação ao que eu tenho com a humanidade. Aula de Química, a matéria que eu mais odeio. Eu sentava em uma fileira que estava do lado da janela, e o que me incomodava a respeito da carteira que eu sentava, era que simplesmente, de todas as carteiras que existiam naquela sala, a minha era a única limpa. Sei que isso pode ser visto como ponto positivo, não faz sentido eu me incomodar com isso. Mas Jesus, eu queria me sentir sujo como eles! Não importa se eu era algo positivo em meio a negatividade, isso me assustava. Só me mostrava ainda mais o quanto eu sou inferior e diferente de todo mundo.

    Mas essa não foi a única tragédia daquele dia, Nacht. O professor escolheu cinco alunos para resolver os cinco exercícios que estavam na lousa, todos teriam que resolver simultaneamente. Obviamente, eu fui um dos cinco. Fui lá, na frente de todos, completamente sem certeza do porque me levantar da cama para escrever elementos da tabela periódica. Fui o primeiro a terminar. Todos os outros acabaram quase ao mesmo tempo. E então o professor passou a corrigir os exercícios na frente de todo mundo.

  Surpreendentemente, fui o único que fiz certo.

    Eu não aguentava aquilo, porque logo eu, de todos os cinco, teria que ser o único a acertar?! O professor me elogiou, disse para que os outros alunos sigam meu exemplo. Aquilo não fazia sentido. Aquele dia foi uma completa tragédia! Mas não acabava por aí. Até porque, eu ainda tinha a minha casa.

    Minha mãe é uma mulher rigorosa. Queria que de qualquer forma, tudo desse certo em casa. Que todas as roupas estejam dobradas, que nenhum pó esteja no chão, e que nenhuma cama esteja mal feita! É o que ela orava para Deus todos os dias. Eu não entendia as orações dela. Eu também não sabia nada sobre religiões, não me considerava ateu também. Eu não era nada. E o ato de estar ali, numa casa com duas cristãs que sabiam o que acreditavam, com eu sendo o fardo de não saber nem mesmo o que eu acredito, era razão o suficiente para se trancar no quarto. E minha mãe era dura, inflexível na sua técnica de arrumar as coisas e, ao mesmo tempo, nada compreensiva. Via que eu passava demasiado tempo no quarto, eu também não ajudava em nada dentro de casa, então ela decidiu me pressionar, para que assim, dois coelhos sejam mortos numa cajadada só. Eu poderia sair do meu quarto e ao mesmo tempo ajudar minha mãe.

    — Tu continua aí? — disse, após abrir a porta do meu quarto bruscamente. — Ajuda a gente em algo, pelo amor de Deus! Você não faz nada!

    Até que eu tentaria ajudar, mas depois disso ela fechou a porta, então não consegui entender se eu deveria ajudá-la ou não. Sim, eu me confundi só por causa do simples ato da porta ter sido fechada.

    Eu pensava que minha mãe me odiava. Ela era gentil com minha irmã, mas comigo, era assim, austera. Mas a grande heroína da minha vida, Nicole Rodrigues, me salvou mais uma vez.

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