Lágrimas na Pista

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Na manhã seguinte, Aurora acordou com um leve cansaço, resquício das tensões da noite anterior. Ela respirou fundo, deixando a dor e a ansiedade de lado enquanto se preparava para o dia. Ollie ainda estava dormindo, e ela decidiu deixá-lo descansar antes de começar sua jornada de volta para casa.

Depois de se arrumar, pegou o voo para Mônaco, onde sua rotina, ainda que exigente, lhe proporcionava um refúgio familiar e confortável. Após algumas horas, o avião aterrissou, e ela pôde finalmente sentir a sensação de estar em casa, em seu próprio espaço, longe das pressões do circuito e dos julgamentos.

Sua casa em Mônaco era seu santuário. No instante em que entrou, soltou um suspiro de alívio. Não era grande, mas era acolhedora, e cada detalhe ali refletia uma parte de sua personalidade. Depois de colocar suas malas no quarto, decidiu fazer uma pausa na varanda, onde a vista do mar Mediterrâneo brilhando ao sol era sempre revigorante.

Aurora se deu o luxo de um banho demorado, deixando que a água quente aliviasse os músculos e acalmasse a mente. Enquanto a água escorria sobre ela, pensava na pressão que tinha enfrentado durante a última corrida, no julgamento constante que seu pai colocava sobre ela e no apoio silencioso de Ollie, que, de alguma forma, fazia todo o estresse parecer suportável.

Após o banho, enrolou-se em um robe macio e foi para a cozinha preparar algo leve para comer. Enquanto cortava frutas e preparava um chá, sua mente vagava entre lembranças das voltas intensas no autódromo e o abraço reconfortante de Ollie na linha de chegada.

À tarde, com uma xícara de chá nas mãos, sentou-se no sofá e decidiu dar um tempo para si mesma, algo raro na vida que levava. Sabia que logo as responsabilidades voltariam, que as críticas de seu pai não cessariam e que as corridas continuariam exigindo dela o máximo.

Mas, naquele instante, enquanto olhava para a janela e via o sol começar a se pôr no horizonte, Aurora permitiu-se um momento de paz. Mônaco lhe dava essa pausa preciosa, um intervalo entre uma corrida e outra, onde ela podia ser apenas Aurora — não a piloto, não a competidora, mas a pessoa que existia por trás de tudo aquilo.

Aurora ouviu o toque do celular e, ao ver o nome do pai na tela, sentiu o coração acelerar. Hesitante, atendeu.

"Aurora, abra a porta. Estou aqui na frente da sua casa." A voz dele soou impaciente, quase autoritária.

Ela congelou por um instante, olhando para a porta da varanda como se pudesse enxergá-lo do outro lado. O último lugar onde ela queria vê-lo era em seu refúgio, seu lar. Respirou fundo, tentando se preparar emocionalmente para o que viria, e, finalmente, se levantou e caminhou até a porta.

Ao abrir, encontrou o pai com o semblante rígido, o olhar crítico de sempre. Ele entrou antes mesmo que ela pudesse convidá-lo, fazendo-a recuar para dar espaço. Fechou a porta devagar, sentindo o desconforto aumentar com cada segundo.

"Então, foi para isso que eu vim? Para ver minha filha voltando para casa com um quarto lugar? Você acha que isso é suficiente?" ele começou, sem preâmbulos, o tom afiado como uma lâmina. Aurora sentiu a onda de ansiedade tomar conta dela novamente, e o latejar em seu pulso se intensificou.

"Pai, eu... eu dei o meu melhor," ela disse em voz baixa, evitando encará-lo diretamente. Sabia que qualquer justificativa pareceria fraca aos olhos dele.

"Seu melhor não é o suficiente. Você está deixando coisas externas te distraírem," ele continuou, os olhos penetrantes fixos nela. "Esse garoto, o Ollie... acha que não percebo? Vocês são distrações um para o outro."

Aurora tentou conter as lágrimas, mas era inútil. Cada palavra dele a atingia fundo, como uma ferida que ele não deixava cicatrizar. Ela fechou os olhos, apertando as mãos com força. O pulso doía, mas era quase um alívio comparado ao que sentia emocionalmente.

Acelerando Corações - Oliver BearmanOnde histórias criam vida. Descubra agora