Capítulo 1: O Verão Começa

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O sol começava a se pôr quando, finalmente, avistei a casa de praia no horizonte

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O sol começava a se pôr quando, finalmente, avistei a casa de praia no horizonte. A brisa do mar entrava pela janela do carro, trazendo o cheiro de sal e a promessa de liberdade. Depois de meses na cidade com meus avós, eu finalmente estava de volta — o verão.

O carro seguia devagar, e com cada quilômetro que passava, as lembranças da última visita surgiam. As tardes longas na praia, os castelos de areia e, claro, as brigas intermináveis com Christopher Smith, o vizinho que parecia gostar de me irritar. Sempre com seu sorriso arrogante e um jeito cruel, ele era o tipo de pessoa que ninguém conseguia entender, mas ao mesmo tempo, ninguém conseguia ignorar. Eu certamente não conseguia.

Quando o carro parou, eu fui a primeira a sair, ansiosa para respirar o ar do mar. Meus pais estavam na varanda, acenando e sorrindo, e eu senti aquele calor familiar, aquele reconforto do reencontro. Mas logo minha mente voltou para Christopher, como uma sombra que se estendia pelo verão que estava começando.

— Pronta para um verão divertido? — minha mãe perguntou, com um brilho nos olhos, como se estivéssemos prestes a embarcar em alguma aventura.

— Se for com Christopher, talvez eu precise de um bom plano de defesa — eu respondi, levantando uma sobrancelha.

Meu pai riu e fez uma piada sobre como o verão nunca era sem seus desafios, e seguimos para dentro da casa. Mas, no fundo, eu sabia que este verão seria mais do que apenas sol e mar. Seria sobre encarar o passado, enfrentar velhos conflitos e, talvez, até mudar algo dentro de mim.

 Seria sobre encarar o passado, enfrentar velhos conflitos e, talvez, até mudar algo dentro de mim

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A casa de praia era exatamente como eu lembrava: confortável, mas com uma sensação de prisão. A brisa que entrava pela janela trazia um alívio momentâneo, mas não conseguia acalmar o turbilhão que se formava dentro de mim. O sol se punha, e as sombras já começavam a se estender pelo jardim, mas meu pensamento estava em outro lugar — nele, Christopher Smith, o vizinho. O único ser humano que, em todos os verões que passei ali, conseguiu transformar cada momento de paz em uma guerra silenciosa.

Eu queria evitar pensar nele. Mas ele já estava presente, em cada canto, em cada lembrança. O sorriso cínico, a voz abafada de tanto gritar nas discussões, a maneira como ele sempre me fazia sentir a raiva borbulhando até que fosse impossível não reagir. Christopher e eu éramos como dois imãs opostos, prontos para se repelir a cada mínima interação.

— Você vai mesmo ficar aí, só pensando? — minha mãe perguntou, interrompendo meus pensamentos. Ela parecia ansiosa por alguma atividade em família, como sempre. Era um clichê — o verão perfeito na casa de praia, todos felizes e aproveitando o tempo juntos. Só que, para mim, aquele verão nunca foi perfeito. E Christopher sempre foi a razão disso.

— Estou indo para a praia até mais tarde — respondi, tentando parecer o mais normal possível, enquanto o peso do passado me esmagava por dentro. Eu sabia que não estava evitando apenas o sol, mas sim a ideia de reencontrar Christopher. Eu não queria repetir o que sempre acontecia — as brigas, os olhares fulminantes, as provocações.

Saí da casa sem esperar por mais perguntas. A praia, ao menos, parecia mais honesta. O mar nunca mentia. As ondas batiam contra as pedras como se estivessem me desafiando a seguir em frente. Mas nem o som constante e familiar do mar conseguiu me acalmar. O que eu temia estava próximo. Ele estava ali, e eu sabia exatamente onde.

Não demorou muito para que o carro de Christopher parasse na entrada da praia. Eu o vi ainda antes de ele sair do carro — os cabelos desordenados pelo vento, a postura relaxada, mas com aquele olhar arrogante, como se fosse o dono da praia. Ele nunca mudava. E eu, por algum motivo que eu não queria entender, sempre caía no jogo dele.

Quando ele me viu, aquele sorriso torto surgiu automaticamente, como se já soubesse que eu ficaria incomodada com sua presença. — Lavínia — ele disse, o tom debochado marcando suas palavras. — Achei que você não viria este ano. Não que eu tenha sentido falta —

Eu respirei fundo. Ele estava fazendo exatamente o que eu esperava. Desestabilizando, provocando. A raiva instantânea que eu sentia dele era tão forte quanto o mar à nossa frente. Eu poderia, talvez, ignorá-lo. Mas não seria fácil.

— Que surpresa... você ainda não aprendeu a ficar quieto, né? —  respondi, as palavras saindo quase sem pensar. Aquelas trocas de farpas já faziam parte de nossa rotina. O pior era que, apesar do ódio, eu sabia que ele ainda tinha o poder de me tirar do sério. E isso me enfurecia mais ainda.

Ele deu um passo à frente, e o cheiro de mar parecia se misturar com o cheiro ácido da provocação no ar. — Ah, Lavínia, sempre tão charmosa. E tão cheia de raiva. Você ainda não percebeu que essa briga toda é só sua? — Ele falava como se eu fosse a culpada de tudo, como se a minha reação à sua arrogância fosse a verdadeira causa do nosso desgosto mútuo.

Eu sabia que ele queria que eu perdesse o controle, mas eu não ia dar essa satisfação. Não mais. Eu o olhei com desdém, o coração batendo mais forte, e então, simplesmente o ignorei. Não havia mais nada a dizer. A briga de sempre não precisava de palavras.

— Fique à vontade para se afastar — ele disse, com aquele sorriso de quem sabe que, por mais que eu tente, jamais conseguiria ignorá-lo completamente. A verdade era que ele tinha razão, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Ele se afastou, rindo de algo que só ele entendia, deixando-me com a raiva pulsando nas veias e o estômago revirado.

Eu fiquei lá, de pé, sentindo o vento mais frio e cortante do que antes. A raiva não passava. Ela ficava, como uma presença constante, um lembrete de que nada entre nós poderia mudar. Ele era a mesma pessoa de sempre, e eu era a mesma também — a garota que o odiava, a garota que nunca iria deixar de odiá-lo.

— Nos vemos por aí, Lavínia — ele gritou de longe, mas não havia desafio ou humor em sua voz. Só uma indiferença que eu já conhecia. Ele sabia, como eu sabia, que aquilo não ia passar. O ódio entre nós não era algo que se apagava com o tempo.

Voltei para casa mais rápido do que planejei, com a cabeça fervendo. Eu odiava sentir isso. O ódio por ele. O ódio que se arrastava de verão em verão, como uma sombra que nunca se afastava completamente. Eu queria seguir em frente. Eu queria que aquele verão fosse diferente. Mas no fundo, eu sabia que, com Christopher ali, nada seria diferente.
  

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