Capítulo: 2 - Entre o fogo e o mar

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Eu cheguei à casa mais rápido do que imaginava, os passos pesados como se o peso da raiva me seguisse, me arrastasse

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Eu cheguei à casa mais rápido do que imaginava, os passos pesados como se o peso da raiva me seguisse, me arrastasse. A porta da varanda estava entreaberta, e pude ouvir minha mãe cantarolando alguma música na cozinha. O cheiro de comida me invadiu, mas não me acalmou. Nada parecia capaz de afastar o furor que queimava dentro de mim.

Entrei, tentando não demonstrar nada. Não queria que minha mãe visse que algo estava fora do lugar, especialmente porque ela tinha a estranha capacidade de perceber quando eu estava agitada. Ela sempre conseguia ver através das minhas defesas, como se soubesse exatamente quando o verão começava a apertar e a me sufocar.

— Lavínia, que bom que voltou tão cedo! - ela disse com um sorriso radiante. Mas, ao me olhar melhor, o sorriso dela vacilou por um segundo. — Tudo bem, querida?

Eu forcei um sorriso, o mais convincente que consegui. — Claro, mãe. Só... não estou muito afim de conversar agora. Vou dar uma volta, mais tarde. — Sem esperar pela resposta dela, virei as costas e saí rapidamente pela porta dos fundos.

O calor ainda estava intenso, mas eu não me importava. As ruas estavam desertas, e o som dos meus passos ecoava, perdido na vastidão do lugar. O vento do mar estava mais forte agora, e embora o cheiro de sal ainda me envolvesse, ele não era suficiente para acalmar a tempestade dentro de mim.

A minha mente voltava àquele momento na praia. Christopher. Seu sorriso provocador, como se ele soubesse que, no fundo, ele estava no controle. Como se ele fosse capaz de me fazer sentir tudo, de novo. Ele me conhecia mais do que eu queria admitir. E isso me dava medo.

Eu não queria mais viver naquele ciclo, me consumindo com ele. Mas como afastar algo que parecia tão enraizado dentro de mim?

Quando cheguei ao final da rua, parei. A casa dele estava à vista, um pouco mais afastada, mas não o suficiente para eu não perceber a presença dele. Christopher tinha esse poder - de tornar sua ausência tão palpável quanto sua presença. Eu podia sentir sua presença mesmo quando ele não estava ali, como uma sombra constante.

E foi quando ouvi o som familiar do motor de um carro que minha ansiedade se intensificou. Não era difícil saber quem estava chegando. O cheiro do combustível, o som das rodas sobre a estrada de cascalho... eu olhei para a entrada da casa de Christopher e vi o que eu temia. O carro dele parou na garagem, e ele saiu com o mesmo andar despreocupado, como se nada no mundo fosse capaz de abalá-lo.

Ele me viu antes mesmo de eu ter a chance de desviar o olhar. Não sei como ele fazia isso — sempre conseguia me perceber. Como se a minha presença fosse algo que ele estivesse esperando o tempo todo.

— Ah, olha quem decidiu aparecer por aqui...  — Christopher falou, com aquela voz descompromissada que só ele sabia usar. Ele se aproximou, e eu já sentia a tensão aumentando no ar. — Estava achando que ia se esconder o verão todo? — ele perguntou, seus olhos brilhando de um modo que fazia meu coração acelerar, mas não por causa de qualquer atração. Era a raiva, sempre a raiva.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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