Lost in the Dark - The Hunt

Confie em mim

Solte seu peso sobre mim, fique até de manhã
Lá no fundo, você diria que eu valho a pena?
Solte seu peso sobre mim, fique até de manhã
Lá no fundo, você diria que eu valho a pena?
(Just pretend - Bad Omens)

Lua Gardner
Presente

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Daemon conseguiu me colocar na banheira após perceber que eu não ia parar de tremer e nem de chorar. Ainda consigo sentir meu estômago revirado. Só de pensar em colocar qualquer tipo de comida na minha boca me faz querer vomitar. Meu coração bate tão forte no peito que quase me impede de ouvir a porra dos meus pensamentos. Mesmo que eu esteja debruçada sobre a borda da banheira e pareça imóvel, meus dedos dos pés brigam entre si, puxando a pele um do outro com força. Sei que isso é efeito rebote dos sentimentos guardados por tanto tempo sobre aquela noite.

Aquela noite...

Bufo quando o pensamento intrusivo me atinge, sabendo o que vem a seguir.

A noite em que eu morri.

Afundo a cabeça em meu braço e puxo o ar com força para dentro dos pulmões, na esperança de regular meu corpo, mas sei que agora, é uma missão impossível.

Pelo menos a parte boa de mim... morreu!

Os flashes das imagens da nossa primeira vez - o momento mais feliz da minha vida - aparecem sem permissão. Meu coração vibra e dói ao mesmo tempo, como se estivesse lá ainda. Mas hoje sei que aquela noite foi apenas o presságio do fim. A pior decisão que eu poderia ter tomado. E a única prejudicada por ela, foi eu mesma.

Infinitos "e se" surgem, um atrás do outro, em minha mente, apertando ainda mais meu peito.

E se eu tivesse pedido para parar? E se eu não tivesse saído da minha cama naquela noite? E se eu não tivesse aceitado a aproximação dele naquela biblioteca? Eu namoraria o Kai e seríamos felizes? Ele estaria vivo? Eu não estaria quebrada? Eu perderia Daemon de qualquer forma, mas isso me machucaria tanto quanto machucou? Eu perderia minha virgindade com Kai? Ou talvez eu me aproximasse do Vince... Talvez eu ainda fosse virgem e estivesse agora, me questionando como seria ter Daemon em meus braços. E a resposta é o que mais me mata.

Ter Daemon em meus braços é a melhor sensação do mundo, é único. Parece até uma maldição, de tão perfeita que é a nossa conexão. Perder isso é o que sempre me matou. Gostaria de falar isso para ele, mas sei que seria como matar, de vez, a porra do meu amor-próprio. Eu odeio não conseguir ser uma cadela sem sentimentos quando se trata de Daemon, porque ele foi um filho da puta comigo quando precisou. E... se...

Meu coração erra uma batida, e pontos pretos embaçam minha visão numa explosão de adrenalina que o pensamento a seguir me traz.

E se ele estiver sendo um filho da puta de novo, nesse exato momento?

­­— Está tudo bem. Você vai ficar bem. Respira — fecho os olhos, concentrando-me na minha respiração, mas o aperto em meu peito segue lá.

É tudo igual como naquele dia. William havia me avisado, mas não imaginei que seria assim, tão devastador. É assim que me sinto: devastada. Estou hiperventilando. Quero chorar, gritar, bater em algo. Implorar para que alguém alivie meu peito. Agora me lembro: foi por isso que tentei...

Cala a boca Lua. Não pense nisso ou vamos ter mais problemas.

Gotas de sangue mancham a água da banheira - apenas flashes.

Mordo a pele do meu braço para abafar o grito longo e angustiado que solto. Um gosto ferroso invade minha boca e eu não preciso olhar para saber que é sangue, quando Daemon irrompe pela porta.