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Espero que gostem
Digam o que estão achando

O ambiente nas salas de parto estava carregado de uma tensão silenciosa, marcada pelos sons sutis das máquinas e o movimento frenético das enfermeiras, todas se deslocando de forma quase coreografada entre os equipamentos e os leitos. O ar estava pesado, mas ao mesmo tempo, havia uma calma tensa — a expectativa de duas novas vidas prestes a chegar ao mundo, separadas apenas por algumas paredes.

Na sala de Agatha, a mulher estava imersa em um oceano de dor. Sua pele, pálida e suada, estava marcada pelas contrações intensas, e seus olhos estavam fechados com força, enquanto ela tentava se concentrar nas orientações da enfermeira que estava ao seu lado. Cada respiração era uma luta, cada minuto parecia se arrastar, mas Agatha, com sua determinação silenciosa, conseguia manter o controle. Em sua mente, uma imagem começava a tomar forma — a criança que ela havia gerado, com quem ela se conectava desde o momento em que soubera da gravidez.

— Respire fundo, Agatha. Estamos quase lá — disse a enfermeira com uma voz suave, mas firme, tentando transmitir tranquilidade.

Agatha apenas assentiu, sua mente ainda vagando entre a dor e a expectativa. Sentia-se frágil, mas ao mesmo tempo uma força inexplicável parecia crescer dentro dela. A criança estava prestes a nascer. Seu corpo estava se rendendo à dor, mas sua mente estava voltada para aquele momento, a chegada de sua filha.

E então, o som que Agatha mais aguardava preencheu a sala — o choro do bebê, vibrante e poderoso, interrompendo o silêncio carregado. A tensão no corpo de Agatha foi aliviada imediatamente, e um alívio profundo invadiu seu ser. Ela abriu os olhos, agora molhados de lágrimas, e viu o pequeno ser sendo colocado em seus braços. A bebê era perfeita, com a pele rosada e o corpo quente, agitado pelo choro que preenchia o ar.

Ela olhou para o rosto da criança, com a expressão suavizada pela emoção.

— Ela está ótima, Agatha. Tudo correu muito bem. Pode descansar.

Mas Agatha não pôde descansar. Seus olhos continuaram voltados para a bebê, mas a inquietação dentro dela não diminuiu. A exaustão e a emoção que a envolviam não a permitiam refletir mais sobre aquilo. Ela tocou delicadamente o rosto da bebê, tentando buscar algo familiar, alguma conexão com o pequeno bebê.

Do outro lado do corredor, Rio passava pela mesma experiência, mas de uma forma diferente. Seus olhos estavam apertados pela dor das contrações, e o som de sua respiração ofegante preenchia o ambiente. Ela, ao contrário de Agatha, sentia uma conexão mais imediata com o momento, como se sua mente estivesse sintonizada com a chegada da filha, com a sensação do toque suave da criança contra sua pele.

— Está indo muito bem, senhorita Vidal. Já estamos quase lá — disse a enfermeira, observando Rio com cuidado.

Mas Rio já estava além das palavras da enfermeira. Cada contração a empurrava para um estado mais profundo de exaustão, e, quando o choro do bebê finalmente soou pela sala, ela se permitiu um suspiro de alívio. A enfermeira entregou a bebê a ela, e Rio a segurou com cuidado, o corpo ainda tenso da experiência do parto. Quando olhou para o pequeno ser em seus braços, um estalo de confusão atravessou sua mente. Ela piscou, tentando enxergar com mais clareza, mas algo não parecia certo.

A bebê tinha o rosto suavemente rosado e a pele quente, mas algo nas feições da criança parecia distante, como se ela não fosse quem Rio esperava. A sensação era vaga, difícil de definir, mas penetrante. A mãe olhou para a pequena por mais alguns segundos, tentando organizar os pensamentos.

— Está tudo bem, senhora Vidal? Quer segurá-la mais um pouco? — perguntou a enfermeira, notando o olhar de desconcerto que passava por Rio.

A mãe, perdida em seus próprios sentimentos confusos, assentiu com um leve movimento de cabeça, quase que mecanicamente. Não sabia exatamente o que estava errado, mas havia uma desconexão sutil, um distúrbio no fluxo de suas emoções. A criança era linda, mas não tinha o aspecto que ela imaginava que sua filha teria. Ela sentia um vazio no olhar da bebê, uma falta de algo que não conseguia identificar.

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