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As duas semanas que se seguiram ao incidente da madrugada passaram como uma névoa para Agatha. Entre o trabalho, os compromissos sociais e os cuidados com Indigo, a rotina dela continuava mecanicamente organizada, mas sem cor ou entusiasmo. Ela se jogava cada vez mais nas demandas de Witchies Road, sua empresa, acreditando que afundar-se em projetos a faria esquecer tudo o que estava sentindo. No entanto, mesmo as atividades mais importantes no trabalho começaram a parecer vazias.

Aquela quarta-feira, em particular, havia sido um teste para sua paciência. Uma reunião longa e desgastante com fornecedores terminara sem resoluções. Ela se levantou da cadeira, exausta, enquanto os membros da equipe trocavam olhares entre si, claramente hesitantes em perguntar o que viria a seguir. Nos últimos dias, muitos perceberam o quanto a chefe estava dispersa. Sua impaciência estava mais evidente, e qualquer pequeno erro parecia bastar para tirar o resto de sua calma.

Depois de mais uma rodada de ligações, Agatha retornou ao escritório e fechou a porta, aproveitando o raro momento de solidão. Desabou na cadeira e apoiou a cabeça entre as mãos, respirando fundo. Seu olhar foi parar na estante, onde fotos antigas dela e de Ralph decoravam o ambiente. Ele era o parceiro que sempre pensara ser perfeito para aquela vida, mas agora parecia mais um personagem de um cenário cuidadosamente montado. Um cenário que, há algum tempo, ela acreditava ser tudo o que queria.

Mas era o rosto de Rio que continuava invadindo seus pensamentos, especialmente quando tudo ao redor parecia desmoronar. Pensava nos momentos triviais em que Rio a fazia sorrir com algo simples ou, até mesmo, no modo como ela conseguia lidar com Nicholas e Olivia sem qualquer pretensão de perfeição. Havia uma verdade crua e descomplicada em Rio, algo que Agatha não sabia como replicar. Isso a incomodava e, ao mesmo tempo, causava uma pontada de nostalgia por algo que ela não conseguia definir.

No meio de seus devaneios, foi despertada pelo som insistente do telefone. O visor mostrava o número de Ralph, o que a fez suspirar antes de atender.

— Oi, Ralph — disse, forçando um tom neutro.

— Indigo não quer parar de chorar — ele respondeu, sem rodeios, claramente frustrado. — Já fiz de tudo, mas parece que ela só quer você.

Agatha fechou os olhos, tentando conter a irritação. Não era a primeira vez que Ralph a interrompia no meio de um dia de trabalho por algo que, em teoria, ele deveria ser capaz de resolver sozinho.

— Estou ocupada, Ralph. Tente acalmá-la por mais um tempo. Vou terminar aqui e, assim que puder, estarei em casa.

Ele soltou um suspiro audível do outro lado da linha, mas não insistiu.

— Certo. Só… não demore.

Agatha encerrou a ligação, pegou as chaves e saiu do escritório. No caminho para casa, sua mente não parava de vagar. Indigo parecia mais sensível nos últimos dias, e Agatha se perguntava se a filha estava percebendo a falta de harmonia entre ela e Ralph. Desde que ele começara a ficar mais distante e, claramente, desconfortável com a presença de Rio, o ambiente em casa ficara ainda mais tenso.

Ao abrir a porta de casa, foi recebida pelo choro da filha, um som agudo e persistente que ecoava pelo corredor. Caminhou rapidamente até o quarto de Indigo, onde Ralph a segurava, balançando de um lado para o outro com visível impaciência.

— Finalmente — murmurou ele, entregando Indigo a Agatha quase como se estivesse se livrando de um fardo.

Agatha pegou a filha nos braços, sussurrando palavras suaves enquanto a balançava. Sentiu o corpinho de Indigo relaxar contra o dela, como se aquela proximidade fosse tudo de que a bebê precisava. Em poucos minutos, o choro foi diminuindo, e Agatha lançou um olhar de reprovação a Ralph, que apenas deu de ombros e saiu do quarto.

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⏰ Última atualização: 13 hours ago ⏰

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