IV

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O silêncio da mansão foi interrompido pelo som da porta sendo fechada com força. Rio, que ainda estava na sala, virou-se rapidamente, surpresa. Agatha acabara de entrar, a expressão carregada de tensão e insatisfação, como uma tempestade prestes a explodir. Ela tirou o casaco e o jogou em uma cadeira, os lábios apertados, o olhar fixo em um ponto distante, como se estivesse tentando se acalmar. Mas era visível que algo a incomodava profundamente.

Rio se aproximou, tentando suavizar a situação.

- Como foi a reunião?

Agatha lançou um olhar gelado para ela, como se a simples pergunta tivesse sido um insulto.

- Horrível - disse ela, cortante. - Horrível, e agora eu chego aqui e... é uma bagunça! Você deveria ter feito alguma coisa! E você... - Agatha hesitou, olhando Rio de cima a baixo, o tom dela cortante. - Você está brincando com o Nicholas como se fosse uma criança. Será que você não entende a responsabilidade de estar aqui?

Rio ficou paralisada por um segundo, surpresa com a intensidade das palavras. Ela tentava entender o que estava acontecendo. Sim, tinha brincado um pouco com Nicholas, mas nunca imaginou que isso fosse um problema. Agatha, no entanto, continuava com a voz cada vez mais irritada.

- Eu deixo você aqui, esperando que você ajude a manter o ambiente... sei lá... organizado, focado, adulto. Mas não. Eu saio para resolver problemas e volto para encontrar você agindo como uma criança! - Agatha não parava, sua voz carregada de frustração e desdém. - Por acaso, você acha que isso aqui é uma casa de bonecas? Você acha que isso aqui é um jogo? Porque é assim que você age. Você acha que só porque cuida de uma criança tem o direito de agir como uma? Achei que fosse adulta, Rio.

Rio sentiu as lágrimas se acumularem, tentando controlar as emoções. Ela não queria deixar que Agatha percebesse o impacto que suas palavras estavam causando, mas as palavras estavam afiadas demais, como se Agatha quisesse, deliberadamente, feri-la.

- Agatha... eu só queria tornar as coisas um pouco mais leves para Nicholas. Ele gosta de brincar... e eu... eu achei que estava fazendo a coisa certa. Não foi por mal - disse ela, com a voz trêmula.

- Fazer a coisa certa? - Agatha riu, um riso frio e sem humor. - Rio, você não entende nada sobre responsabilidades. Olha para você! Mora aqui como se fosse uma hóspede, acha que brincar vai resolver alguma coisa? Criança gosta de rotina, de regras! - Ela fez uma pausa, observando a expressão de Rio com um toque de desprezo. - E você, pelo jeito, precisa amadurecer muito ainda. Eu realmente achei que fosse uma pessoa adulta, Rio, mas me enganei.

As palavras de Agatha foram como facas. Rio sentiu a última defesa se quebrar, o último fio que segurava suas emoções escapando. Tentou respirar fundo, mas sentiu as lágrimas finalmente escorrerem, sem conseguir mais esconder.

- Agatha, eu estou fazendo o melhor que posso. Talvez isso não seja o suficiente para você, mas eu não estou tentando bagunçar sua vida. Eu só queria ajudar... - Rio murmurou, a voz embargada.

- "Ajudar", claro - Agatha disse, rolando os olhos. - Ajudar como? Tentando transformar tudo num parque de diversões? Isso não é ajuda. Isso é... infantilidade.

Rio limpou uma lágrima teimosa que desceu pelo rosto. Não tinha mais forças para se justificar, e a dor de ser tratada assim por Agatha era profunda.

- Talvez... - ela disse, a voz falhando, ainda tentando soar firme, mesmo que em pedaços. - Talvez eu não seja boa o suficiente para você.

No instante em que as palavras saíram da boca de Agatha, ela percebeu o impacto devastador que tinham causado. O arrependimento bateu de imediato, preenchendo o silêncio constrangedor que seguiu. Ela observou Rio recuar, os olhos marejados, como se as palavras de Agatha tivessem sido flechas certeiras. O arrependimento a atingiu como um soco, mas antes que ela pudesse corrigir o que havia dito, Rio se virou e caminhou rapidamente para o próprio quarto, fechando a porta atrás de si.

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